¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, setembro 17, 2004
 
MEMÓRIAS DE UM EX-ESCRITOR (XXXI)



A Bolha Assassina


Lá nos anos 70, (74 mais precisamente) uma praga havia inundado a Rua da Praia, aqueles meninos e camelôs soprando bolhas de sabão. Uma amiga gaúcha, incomodada com a coisa, pediu-me uma providência. "Deixa comigo", disse. Mandei uma carta para o Correio do Leitor do Correio do Povo, assinada pela suposta enfermeira Katia Meleu Gomes. Havia uma epidemia de meningite na época. Analisei as contradições objetivas do real, como dizia então o pessoal do Partidão, e denunciei o risco de contágio. A carta saiu na edição de 13/08/74. A Katia morava na Cavalhada e teria atendido um menino, acometido pela meningite, filho de um barbeiro do bairro. Que soprava bolhas de sabão na Rua da Praia. Para minha surpresa, no mesmo dia, às 11 da manhã, a Folha da Tarde - tablóide da Caldas Júnior - mancheteava, na primeira página, em cinco colunas:

A BOLHA QUE PODE SER ASSASSINA

A denúncia formulada pela enfermeira Kátia Meleu Gomes no "Correio do Leitor", edição de hoje do Correio do Povo, teve constastação esta manhã na rua da Praia. Diversos camelôs continuavam a assoprar bolinhas de sabão, que conduzindo saliva podem transformar-se em veículo de germes transmissores de meningite, caso os vendedores sejam portadores do mal. A enfermeira Katia Meleu Gomes atendeu a um menino portador de meningite e que dedicava-se à venda dos canudos na rua da Praia, espalhando, sem saber, a doença pelos que, passando pelo local, recebiam os balões nas bocas ou os estouravam com as mãos, que posteriormente poderiam ser levadas à boca. À Secretária da Saúde cabe a decisão imediata de proibir o trabalho dos vendedores que, além do mais, perturbam o trânsito.

Na foto, que tomava toda a página, bolhas sinistras flutuando no ar. Foi um santo remédio. À uma da tarde, o Jair Soares, então secretário da Saúde, mandou recolher camelôs e canudinhos da Rua da Praia. Uma cartinha safada, mais a irresponsabilidade jornalística, resolveu o problema em poucas horas.