¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, janeiro 31, 2005
 
MINISTRO EXPORTA ANALFABETISMO

Não contente em analfabetizar o país, o governo petista quer agora analfabetizar o continente.


Gil defende 'portunhol' como língua


Porto Alegre, 28/01 - 20:12 - O ministro da Cultura, Gilberto Gil, quer ver o "portunhol" fluindo no Brasil e na América do Sul, sem preconceitos, assim como o técnico do Real Madri, Vanderlei Luxemburgo, tem feito em Madri. Gil, que participou hoje da conferência América do Sul: Integração, Soberania e Desenvolvimento, no 5.º Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre, entende que o portunhol é uma língua "em gestação, que está nascendo". "Tem de deixar fluir, sem preconceitos. Não deixar fluir é impedir os fluxos das trocas e das linguagens e dos entendimentos que se dão dessa forma", avaliou. Ele diz ter aderido à "nova língua", em 2004, durante encontro mundial de ministros de Cultura em Xangai, na China. "Pedi permissão para me pronunciar em portunhol", contou, ao garantir ter sido plenamente compreendido tanto por aqueles que dominam a língua portuguesa, como também pelos nativos da língua espanhola. "O portunhol é uma manifestação espontânea, natural, vinda dos corpos e das almas culturais dos nossos povos. Nós precisamos nos entender, não sabemos um a língua do outro e temos, ao mesmo tempo, certos resíduos das línguas do português entre eles e do espanhol entre nós, o que nos propicia falar palavras", analisou. "Temos trocas, uma comunicação histórica que, ainda que incipiente, vem sendo feita ao longo desses anos e que propiciou exatamente o fato que tenhamos que falar um pouco as duas línguas, e isso criou uma outra língua que é uma mistura das outras duas, o portunhol. (...) O portunhol tende a crescer no continente sul-americano. No turismo, por exemplo, as praias de Camburiú são locais naturais para proliferação do portunhol, para o laboratório dessa língua. Os turistas brasileiros que vão para Chile e Argentina também encontram laboratórios para essa língua porque precisam se comunicar", justificou. "O brasileiro diz 'Yo quiero falar con usted', embora não se lembre do hablar, mas lembra que usted significa você. E o argentino vai entender quando ele falar isso. A mesma coisa quando o argentino chega aqui e diz 'Yo quiero hablar con você'. É a mesma coisa e é assim que nasce a língua e o entendimento." Defensor do novo idioma, o ministro não deseja, entretanto, ver nenhuma influência acadêmica ou de normatização gramatical para o incipiente idioma, muito menos um ensino sistematizado do portunhol. "Deixa a língua nascer, crescer, deixa ela no lexo natural, na gramática natural. Ela é uma língua livre e precisa ser uma língua livre", opinou, acrescentando ser o portunhol "uma língua das ruas, dos negócios, das trocas, dos hotéis, dos motéis, dos estádios, do futebol, do nosso tempo, da nossa diversidade cultural". Talvez no futuro, "daqui uns 50 anos", o portunhol seja uma língua que venha a ter a necessidade de uma gramática, "e coisas desse tipo", nas palavras do ministro.

Pior que o analfabeto em uma língua, só o analfabeto em duas. É o caso do portunhol. Dada a proximidade entre as duas línguas, não poucos brasileiros se julgam aptos a falar o espanhol. O resultado é um pidgeen grotesco, que me provoca dores no estômago. Darcy Ribeiro, outro monoglota atroz, foi quem lançou a bandeira do portunhol como o idioma do futuro. Incapazes de dedicarem algumas horas de estudo ao idioma dominante do continente, intelectuais brasileiros, insatisfeitos de estropiarem a própria língua, estropiam a alheia.
Gil poderia ao menos ter feito uma homenagem a um dos ilustres precursores do novo idioma, o ex-presidente Fernando Collor de Mello, autor do célebre "duela a quién duela".


quinta-feira, janeiro 27, 2005
 
SUPREMO APEDEUTA RIDES AGAIN!

"Quando terminar meu mandato, não vou para a França e nem para os Estados Unidos fazer pós-graduação. Vou voltar para São Bernardo do Campo, conviver com os meus companheiros metalúrgicos, de onde nasci e para onde vou voltar", disse Lula na Disneylândia das Esquerdas, que ora se celebra em Porto Alegre.

Mas como fazer pós, se nem graduação tem?

quarta-feira, janeiro 26, 2005
 
EFEITO LULA

Segundo Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, a Presidência da República abriu licitação para contratar empresa para serviço de revisão da língua portuguesa.

terça-feira, janeiro 25, 2005
 
PT BURRIFICA BRASIL


O monoglota me dá uma pena profunda. Claro que ao falar monoglota não me refiro aos milhões de pessoas que mal tiveram acesso à educação primária, ou nem mesmo isso. Me refiro àqueles que tiveram chance de chegar aos bancos universitários e não têm sequer a curiosidade de conhecer a fundo pelo menos uma outra língua. Neste sentido, sinto-me um privilegiado. Fiz meu ginásio em Dom Pedrito, pequena cidade interiorana da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Teria na época uns 15 mil habitantes. Mas naquele ginásio aprendi latim, inglês, francês e de lá saí redigindo um português impecável. Dada a condição de cidade fronteiriça, de ilhapa ganhei o espanhol. Aos quinze anos, eu dominava quatro línguas vivas e arranhava uma morta com relativa aisance.

Aos poucos, o ensino foi-se degradando. Primeiro, saiu o latim saiu dos currículos. Depois o francês. O inglês permaneceu, é verdade. Mas de forma muito precária. Você paga caro uma escola onde deveria aprender a língua e depois tem de pagar professor particular para conseguir dominá-la. O rigor no ensino do português deixou de existir. Quando o domínio do vernáculo deveria ser conditio sine qua non para ingresso na universidade, hoje, nas universidades, há aulas de português. Que são insuficientes e, como no caso do inglês, os alunos precisam pagar um professor por fora para aprender a língua dentro da qual nasceram. Ou seja, nem a universidade hoje supre aquele mínimo exigível de toda pessoa que se pretenda culta, o domínio da própria língua.

Cada língua que você conhece além da sua é mais uma janela aberta para o mundo. Particularmente para um brasileiro. Neste país que foi dominado por um pensamento marxista todo o século passado, conhecer francês, inglês ou espanhol era ter acesso a bibliografias que aqui sempre foram censuradas. Se hoje entendo o Brasil, é porque um dia pude ler obras que jamais foram traduzidas ao português. E se o PT hoje está no poder, é porque houve uma lacuna no conhecimento nacional. Conhecessem os brasileiros o que foram os regimes comunistas, seus herdeiros tardios há muito estariam na famosa lata de lixo da História e não em Brasília.

A revista Veja desta semana se pergunta em matéria de capa:

O PT DEIXOU O BRASIL MAIS BURRO?

A pergunta é e não é pertinente. Não é pertinente porque o Brasil vem se burrificando desde muito antes do PT. Começou quando o latim foi retirado dos currículos e o ensino do português tornou-se matéria secundária. Começou quando as universidades, para conseguir mais clientes, afrouxaram as exigências do vestibular, a ponto de permitir que um iletrado entrasse nos cursos universitários. Não só permitiram que entrasse, como permitiram que também saísse, sempre iletrado. Professor universitário, tive alunos em final de curso que sequer sabiam se uma palavra levava s ou ç. Esses alunos, não consegui barrá-los. Estão hoje lecionando e analfabetizando gerações. O auge desta caminhada rumo ao analfabetismo ocorreu em 1998, em São Paulo, quando foi adotado no secundário o sistema de progressão continuada. Ou seja, os alunos passavam automaticamente de uma série a outra, sem que pudessem ser reprovados. O absurdo foi tamanho que alguns pais decidiram recorrer à Justiça para o que filho fosse reprovado. Duvido que tal atitude tenha sido necessária em qualquer outro país do mundo. Só mesmo neste Brasil.

Mas a pergunta é também pertinente, no sentido em que o PT está acelerando este processo rumo à barbárie. Se a burrificação do país começa antes de o PT ter chegado ao poder, seu ápice ocorre no momento em que o país todo escolhe como presidente um analfabeto. Se os letrados não conseguiram ajeitar o país, vamos tentar um iletrado, parece ter sido este o raciocínio do eleitorado. Sofisma dos mais fajutos. É como dizer: se um homem honesto não nos levou à prosperidade, vamos então eleger um canalha. Verdade que o analfabeto foi vivo. Mal tomou posse, abandonou as utopias desvairadas do PT e seguiu bonitinho a política do letrado que o precedera. Se algum mérito existe na gestão de Lula, é ter traído o partido que o criou.

Eleito o analfabeto, cria-se um clima malsão no país todo. Para ser bem sucedido, ninguém precisa ter instrução. Fernando Henrique - diga-se o que dele se disser - era um belo cartão de visita. Cidadão do Terceiro Mundo, conhecia mais línguas que seus pares europeus ou americanos. E conhecia não por vaidade, mas por necessidade. Para europeus ou americanos, a própria língua é mais que suficiente. Não para um brasileiro, cuja língua não tem livre curso fora do Brasil, Portugal e ex-colônias africanas. O próprio Bush, que fala a língua franca de nossos dias, preocupou-se ao menos em aprender o espanhol. Nosso Supremo Apedeuta não consegue nem balbuciar a língua dominante do continente em que vive. Língua irmã, cujo conhecimento é obrigação de todo brasileiro que pretenda enxergar dois palmos além do próprio nariz.

Desde a paupérrima África à próspera Europa, passando pelas nações árabes ou socialistas, todos os países do mundo recorrem ao inglês para entender-se entre si. Não apenas a diplomacia, mas também o comércio e o turismo tiveram de render-se à supremacia do novo esperanto. Se você acha complicado ir à Escandinávia porque lá se fala sueco, finlandês, dinamarquês ou norueguês, não se preocupe. Desde que você fale inglês, estará em casa em qualquer um desses países. Não só na Escandinávia, que é bilíngüe, como em todo o resto da Europa, cuja tendência é tornar-se bilíngüe. Um alemão precisa conversar com seu vizinho francês? Recorre ao inglês. Aqui na América Latina, o Chile acaba de assumir o inteligente propósito de tornar seus cidadãos bilíngües nos próximos vinte anos. Não que pretendam aprender o português, nada disso. Estão preparando as novas gerações para o domínio do inglês.

Neste mundo globalizado, qualquer prostituta sabe que não vai muito longe sem o inglês. Não há camelô no mundo árabe que, mesmo analfabeto, não saiba um inglês básico. Em minhas viagens, encontrei não poucos analfabetos. Analfabetos, mas poliglotas. Não sabiam ler nem na própria língua. Mas tinham consciência de que, sem pelo menos o domínio oral de outras línguas, não conseguiriam vender seus peixes. Mas não vou tão longe. São Paulo, por exemplo. Aqui, não é fácil ascender em uma profissão sem o domínio do inglês.

Em um mundo em que até as putas sentem necessidade de uma língua franca, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim - em consonância com a burritsia marxistóide que hoje está no poder - baixa uma portaria determinando que provas de inglês não mais serão eliminatórias no concurso do Instituto Rio Branco. A pergunta da Veja é meramente retórica. O ponto de interrogação é mero eufemismo. É claro que o PT, em seu antiamericanismo obtuso, está burrificando o país.

sábado, janeiro 22, 2005
 
DO BOFF


Disse Boff, sobre Lula:

- Somos obrigados a distinguir o Lula como pessoa, que seguramente se entende como representante dos oprimidos com seus sonhos e esperanças, e o Lula presidente, neocooptado pelo capital e que absorveu a ilusão que os pontífices do neoliberalismo lhe apresentaram como verdade.

O que me lembra um episódio de Porto Alegre. Nos estertores da Caldas Júnior, Antonio Hohlfeldt, vereador pelo PT e redator da Caldas, dirigiu-se a Breno Caldas:

- Dr. Breno, hoje eu sou dois homens. Por um lado, o redator da empresa, que lhe deve fidelidade. Por outro, o representante de meus colegas em greve, a quem devo solidariedade.

- Engraçado - disse o Breno -. Eu estou vendo um só.

quarta-feira, janeiro 19, 2005
 
COTAS PARA MONOGLOTAS

O presidente da República, com a folclórica autoridade que lhe é inerente, conferiu o título de intelectual a virtuoses do rap e do rock, os tais de Titãs e um tal de Mano Brown. Segundo o Supremo Apedeuta da Nação, na época em que pessoas graduadas governavam o país, "dificilmente você teria um ato e seriam lembrados aqui, por exemplo, os Titãs e o Mano Brown. Teriam citado outras personalidades do mundo intelectual, e nunca dois (sic!) intelectuais bem próximos da periferia brasileira". (Pelo jeito, Lula continua a não entender os plurais). Após esta promoção, preparem-se os vestibulandos para enfrentar, nos exames de literatura, citações das obras-primas destes novos intelectuais. O que não é de espantar. Se Gilberto Gil e Caetano Veloso, segundo os organizadores de vestibulares, já fazem parte da literatura brasileira, por que não descer mais alguns degraus escada abaixo?

O Supremo Apedeuta ousou ainda mais. Olhou-se no espelho, achou-se belo e recomendou sua imagem, afirmando que o estudo e a especialização podem atrapalhar o desempenho do homem público. O que é muito coerente com a recente decisão do Instituto Rio Branco, que prepara os candidatos ao Itamaraty, de considerar o inglês como matéria não-eliminatória em seus concursos. Só no governo de um monoglota atroz pode-se conceber que uma escola de diplomatas dispense seus alunos do conhecimento da única língua franca de que hoje dispomos.
O nível das universidades, que já era deplorável, baixou ainda mais com a instituição das cotas. Hoje, dependendo da cor da pele, até um analfabeto pode fazer curso universitário. Nos vestibulares, exige-se o inglês. Na escola diplomática, onde o inglês é o instrumento básico de trabalho, passa a ser dispensado. Se a universidade reserva cotas para negros, o Itamaraty inovou, reservando cotas para monoglotas.

Se o presidente não fala inglês, por que seus representantes falariam? Nivele-se tudo por baixo e abra-se concurso para intérpretes. Dada a vocação de terceiromundismo do Itamaraty, não é de duvidar que em breve se exija o suahili ou o wolof para nele ingressar. Quanto às relações com o Primeiro Mundo, os diplomatas podem muito bem seguir a simplicidade do presidente, levando intérpretes a tiracolo.

sábado, janeiro 15, 2005
 
MEMÓRIAS DE UM EX-ESCRITOR (XXXVIII)



Fui para Estocolmo em 1971. Naqueles idos, a Suécia era conhecida como o paraíso do amor livre e insistia em exportar esta grife. Os relacionamentos sexuais eram abertos, a pornografia livre, os sexklubbar ofereciam liveshows onde casais mantinham relações no palco e eventualmente convidavam alguém da platéia para delas participar. As prostitutas eram consideradas como uma espécie de assistentes sociais mais especializadas. (Hoje, se você tentar comprar os serviços de uma delas, vai imediatamente para a prisão). Mas não foram estas liberalidades o que mais me impressionou no paraíso dos Sveas. E sim um pequeno incidente do cotidiano.

Fui postar uma carta. Na fenda de uma caixa automática, pus uma moeda de duas coroas. Em vez de uma cartela com selos, recebi de volta um impresso com um pedido de desculpas. Não havia mais selos na caixa. Para recuperar minhas coroas - ou os selos - teria de telefonar para um número X.

Decidi pagar para ver. Estava na Suécia há menos de um mês e falava o sueco precariamente. Os problemas começaram com meu nome, que na língua lá deles se pronuncia Ianér. Do outro lado da linha, uma voz me pediu para soletrá-lo. E como é que diz jota em sueco? Pacientemente, a moça aventou outras palavras. Confirmei a letra que, descobri então, pronunciava-se "ií". Mas o pior estava por vir. Eu morava na Öregrundsgatan, informação que tampouco foi fácil de passar. Muito bem - disse a moça - amanhã, às 11hs, o senhor receberá o equivalente, em selos, a duas coroas. O senhor prefere a série do rei ou a série da ponte?

Recém-chegado naquelas bandas, apenas balbuciando o idioma local, eu preferia mesmo era piedade. Qualquer uma, respondi. Dia seguinte, mal passavam dois ou três minutos das onze, o carteiro enfia um envelope em minha porta. Nele vinham os selos, série do rei, com um compungido pedido de desculpas dos Correios.

Estou na Europa! - pensei, incrédulo. Este terá sido o episódio mais marcante de meus dias de Suécia. Lá, o Estado respeitava os direitos mínimos do cidadão. Um ano depois, encerradas minhas deambulações por aqueles nortes, voltei ao Brasil. Em Porto Alegre, fui telefonar de um orelhão e a máquina engoliu a ficha. Chamei a CRT, expliquei o caso, perguntei como devia fazer para telefonar. Ora, ponha outra ficha - me respondeu a moça.

Subi em meus tamancos. Eu quero a minha ficha de volta. A moça disse nada poder fazer. Pedi para falar com seu superior. Ela me passou alguém que também me sugeriu pôr outra ficha. Respondi que não pretendia pôr ficha nenhuma, queria a minha de volta, etc., pedi falar para com seu superior, falei com outro superior, repetiu-se toda a lengalenga e esta terceira e última instância me bateu o telefone na cara. Indignado, fui à televisão reivindicar meus direitos. O próprio jornalista que comentou o fato deveria estar pensando que eu havia voltado pirado da Escandinávia, contaminado talvez por alguma escandinavite aguda.

Nada disso. Eu havia vivido em um país onde o cidadão era respeitado. Para um brasileiro, isso é mais marcante que qualquer liveshow.




quinta-feira, janeiro 13, 2005
 
DOUTORADO E TURISMO

Meu caro Wilton:

Isso de fazer turismo na Europa, com pretexto de doutorado e às custas do contribuinte, nada mais é do que corrupção. Como a universidade pública é o sacro dos sacros, ninguém ousa usar a palavrinha para definir o fenômeno. Em 1989, denunciei em cerca de vinte artigos, na imprensa catarinense e gaúcha, os desmandos administrativos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E por que a UFSC? Porque nela trabalhei e sabia do que falava. Denunciei 73 professores que faziam turismo no exterior, mais outros tantos com dedicação exclusiva que mantinham consultórios ou escritórios privados. Houve inquérito administrativo, comissões de inquérito, entrega de folhas de pagamento àReceita Federal, etc., e tudo deu em nada.

Fui processado pelo então reitor, Bruno Schempler, pelas alusões que fiz à UFSCTUR, a mais generosa agência de viagens do país. Diga-se de passagem, a reitoria da UFSC é a única que conheço que tinha em seu prédio uma agência de turismo para uso exclusivo de seu corpo docente. O juiz que recebeu o processo, deu-me 48 horas para retratar-me ou comprovar minhas denúncias. Comprovei-as em 24 horas e o juiz desmanchou o processo. O Magnífico Reitor teve de tirar o cavalinho da chuva.

Todas as denúncias foram assinadas com meu nome, já que não costumo esconder-me atrás de pseudônimos covardes. Nunca, na história da Universidade Brasileira, um professor sozinho, sem nenhum respaldo político algum, ousou denunciar a corrupção universitária como eu o fiz. Como não cabe reproduzir hoje minhas denúncias d então, reproduzo apenas trechos de uma das muitas reportagens sobre o assunto, do Diário Catarinense, de 13 de março de 1990.

CRIADA COMISSÃO PARA INVESTIGAR VIAGENS. REITOR DA UFSC QUER SABER QUEM FOI FAZER TURISMO E QUEM FOI AO EXTERIOR ESTUDAR. A APUFSC JÁ PROTESTOU.

Florianópolis - O Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina,Bruno Schlemper Júnior, assinou portaria ontem, designando a criação de uma comissão especial de alto nível para apurar a denúncia de que diversos professores teriam feito turismo e não estudos de pós-graduação no exterior. A comissão, segundo o procurador geral da UFSC, Marco Aurélio Moreira, terá 45 dias para apurar todos os casos individualmente.(...) Os professores que realmente forem considerados culpados, de acordo com o procurador da UFSC, terão de devolver tudo o que receberam indevidamente (salários, bolsas e os valores gastos com passagens aéreas). Além disso, os envolvidos na fraude deverão ser indiciados pela Polícia Federal. A irregularidade foi denunciada em meados do ano passado por JANER CRISTALDO, que trabalhou durante quatro anos no Departamento de Língua e Literatura Vernácula da UFSC. E é exatamente este Departamento que, segundo JANER, é o "foco de tudo". "Transformou-se em uma coisa comum as pessoas irem para o exterior e voltarem sem teses. No entanto, a Reitoria vai ter que investigar também aqueles casos de turismo doméstico, ou seja, aqueles professores que deveriam fazer estudos de pós-graduação em São Paulo, Rio de Janeiro ou outros estados e que também voltaram sem suas teses", acrescentou JANER CRISTALDO. (...) JANER fez os cálculos e chegou à conclusão de que os quatro anos que os 73 professores ficaram fora do Brasil significaram 292 anos de magistério desperdiçados pela UFSC. O dinheiro que eles devem chega a NCz$ 12 milhões de cruzados novos. (...) "E isso caracteriza a UFSCTUR, a agência de turismo mais barata do Estado".

APUFSC CONTESTA

A Associação dos Professores da Universidade Federal de Santa Catarina (Apufsc) contestou oficialmente as denúncias. A entidade emitiu nota oficial protestando contra a divulgação dos fatos denunciados pelo escritor JANER CRISTALDO e exige a retratação da Reitoria sobre o envolvimento de seu presidente, Edmundo de Arruda Lima, ao mesmo tempo em que aguarda o encaminhamento sério e responsável a respeito da questão.

Resumindo, meu caro Wilton: todo meu esforço resultou em nada. Nenhum professor foi punido, apesar das bravatas do procurador geral da UFSCTUR. Os mais relapsos inadimplentes estão hoje gozando de boas aposentadorias. E você é testemunha de que o turismo universitário continua em alta. Se cabe à universidade formar as elites do país, não é de causar espécie as "elites" que nos governam.

 
DOUTORADO NA FRANÇA

E do professor Wilton Pereira, este outro mail:

Janer,

Suas observações sobre o doutorado na França são pertinentes. Passei também por essa experiência, em Toulose, onde fiz o meu "Doctorat" da era Mitterrand em engenharia eletrônica, na área aeroespacial. Voltando ao Brasil, tentei ser um professor pelo menos "menos" medíocre que os alunos que recebia, estes pobres coitados vítimas do cruel processo de desmonte de nosso ensino básico e secundário das duas últimas décadas. Mas sem muito sucesso, pois os jovens do século 21 não querem construir uma vida pelo longo trabalho "de uma vida" e sim obter o rápido sucesso e riqueza fácil tão difundidos pelas novelas globais e nos filmes hollywoodianos....

Quanto a atividade de pesquisa, para a qual fui formado, nem pensar. Se nem engenharia fazemos no país, tudo vem pronto do exterior, quanto mais pesquisa científica.....Foram quatro anos na França e a revalidação do meu diploma foi realizada pelo ITA, pois já sabia das restrições uspianas (embora, em engenharia elétrica e eletrônica, parte considerável dos docentes doutores "internacionais" - ?? - daquela renomada universidade seja formada pelaFrança, paraíso de seu público universitário tupiniquim anti-americano e ultra-esquerdista).

Naquela época havia cerca de 300 brasileiros em Toulouse, a maioria do Nordeste (a CAPES sempre foi um reduto nordestino...). A maior parte matriculada em cursos de doutorado nas áreas de ciências humanas e em engenharia. Quase a metade não terminou o curso, aproveitou apenas para conhecer a Europa e retornar ao Brasil depois de boas férias generosamente remuneradas pelo erário de nosso rico país, onde sobram recursos financeiros(!!!).

As menções do doutorado gaulês são essas mesmas que você citou: TRES HONORABLE, HONORABLE e ASSEZ BIEN. Muitos de meus colegas, que não tiveram tempo para se dedicar ao curso, em função das intensas atividades recreativas do sul da França (ninguém é de ferro, não é...), mas terminaram com o "sofrido" ASSEZ BIEN, ainda hoje fazem, nas terras tupiniquins, a maior auto-promoção do "Bastante Bem" obtido em seus "doutoramentos". Colegas que estiveram na Grã-Bretanha e nos EUA também citam os "doutorados nordestinos" daqueles rincões.

Mediocridade não é exclusiva dos latinos, também existem anglos-saxões neste grande time.....É verdade que lá existem cursos de nível elevadíssimo, mas não apenas eles..... Assim como na França também existem bons programas de doutoramento, generalizar é .....

Sou professor de duas entidades privadas de ensino superior. Com o empobrecimento geral da classe média (façanha do atual desgoverno), aprocura por faculdades particulares "pagas" está em queda vertiginosa, particularmente em ciências exatas, onde existe "a tal da matemática". No desespero para "captar" alunos, entidades paulistas já famosas pelo mercantilismo universitário, reduzem pela metade o preço das mensalidades e, para baixar os custos, demitem professores com maior titulação ou experiência.

Assim, Janer, temo que não existirão as vagas que você citou, em seu último artigo no Baguete, para motoristas e faxineiros "doutores" quando essa leva de 16 mil, que o atual desgoverno pretende criar, chegar ao mercado detrabalho, no final de década. Essas vagas estarão ocupadas e certamente bem defendidas por sindicatos vinculados a CUT, pelos atuais "doutores" decorrentes do amplo processo de demissão em curso. Talvez sobrem vagas para atuarem no MST (a densa formação ideológica esquerdista desse pessoal jáajuda bastante....). Ou formarão acampamentos dos PHD ("Por Hora Desempregados") ou dos MDSC ("Movimento dos Doutores Sem Cátedra") instalados nos desfloridos jardins de nossas decadentes universidades públicas (onde tudo está desabando, com goteiras e mofo por falta de manutenção).

Forte abraço,

Wilton Pereira,Taubaté (SP)

 
DOUTORADO DE NORDESTINO

Do professor Ricardo Marques, recebo este mail:


Prezado Sr. Janer:

Não discuto sua sapiência acadêmica nem douta formação, e acho a maioria de seus artigos muito bem escritos.

Contudo, nessa sua última contribuição, referindo-se ainda aos "doutores", creio que seja meu dever fazer-lhe uma crítica.

Eis que o sr. surge com alusões tipicamente preconceituosas aos nordestinos, povo que produziu e produz não apenas alguns gênios reconhecidos mundo afora, mas também que abriga trabalhadores que labutam arduamente, em todas as nobres profissões, para sustentar uns poucos privilegiados pelo sistema desigual que domina esse país.

Ah, se todo pós-doutor paulista, carioca ou sulista tivesse o mesmo quilate de muitos graduados, mestres e doutores que conheci e conheço no nordeste, o Brasil seria uma nação bem melhor. Contudo, a mediocridade corporativista e bairrista, que se defende por trás do ataque preconceituoso, vai conseguindo manter esse deplorável status quo.

Lamento ver doutores assolados pela vaidade e, ensimesmados pelo diletantismo acadêmico, esnobando os simples, indo, às custas destes, se refestelar em Paris. Ocupam-se, ainda, em falar da capital francesa com a mesma vaidade esnobe com que se deliciam em citar ao público seus próprios dotes acadêmicos.

Para completar, crédulo no sistema déspota ao qual parece haver se escravizado, o sr. critica ferinamente aqueles que, por razões diversas, deixam para se pós-graduar mais tardiamente. Numa percepção rasteira dos motivos que podem levar uma pessoa a essa decisão, esbarra outra vez no preconceito e no reducionismo, ao achar que jovens imaturos e inexperientes de 20 e poucos anos estariam melhor capacitados a inovar e produzir para a sociedade do que quarentões e cinquentões. Que pena tamanho desconhecimento.

Mestrado e doutorado é para carecas, sim. Hoje se vê doutores maduros nas mais distintas áreas dando demonstrações de que somente agora sentem-se capazes de discernir e produzir para a sociedade num nível de fato relevante. E arrependem-se de terem consumido sua juventude com anos seguidos de estudos acadêmicos, quando poderiam ter se dedicado a coisas melhores após a graduação, já que a cabeça para pensar e fazer algo relevante somente se constituiria mais tarde. Que bênção seria se tivessem guardado o mestrado e o doutorado para esse tempo mais recente, é o que refletem estes arrependidos...

Faço votos de que reavalie com humildade alguns de seus comentários, e que em breve mais um pretenso juiz de almas caia de seu pedestal e passe a desfrutar de boas caminhadas em chão firme, com seus semelhantes de todos os niveis - doutores ou não.

Atenciosa e sinceramente,

Prof. Ricardo Marques

quarta-feira, janeiro 12, 2005
 
AINDA OS DRs

Em função da crônica Milho aos Porcos, recebi não poucos e-mails com pseudônimos. Minha resposta: não respondo mails com pseudônimo. Não vivemos em republiquetas socialistas tipo Cuba onde as pessoas precisam ocultar-se para fugir a sanções do Estado.

Voltando ao assunto: em meus dias de Paris, assisti à soutenance de uma tese na área de Letras Francesas e Comparadas. O doutorando, oriundo do Recife, pretendia estabelecer um paralelo entre a poesia de Manuel Bandeira e a de Paul Éluard. Antes da defesa, me confessou: "minha tese não tem fundamento nenhum. Se alguém defender o contrário, também tem razão. Eu quero apenas terminar esta fase e voltar logo ao Brasil".

Na banca estava Etiemble, o célebre lingüista francês. Como estava prestes a aposentar-se e seria sua última participação em uma banca, aproveitou a inquiração do candidato para exibir sua erudição. Ao final de seu show particular, no qual navegou até mesmo por dialetos chineses, perguntou ao cearense: "em suas pesquisas, você encontrou algum indício de que Bandeira tenha tido algum contato com Éluard?"

- Não - disse o candidato -. Não há indício algum.

- Então - retornou Etiemble - você sequer se deu ao trabalho de ler a introdução à Poesia Completa, de Bandeira, onde são mencionados os encontros dos dois no sanatório de Clavadel, na Suíça, onde estavam internados por problemas pulmonares.

O fio que daria consistência à sua tese, o candidato o desconhecia. Menção? Très Bien.

terça-feira, janeiro 11, 2005
 
DE UM LEITOR

Olá, Janer:

bem, mestrado pode ser para carecas sim. Ao menos para os calvos, digamos assim, precoces.
No mais, parabéns pelos seus artigos, que em qualidade superam com muita folga o que se vê na nossa grande imprensa. A propósito, quero lhe agradecer por um artigo em especial, "Remember Pol Pot" (lembra-se dele?), que foi muito importante no meu processo de cura da esquerdofrenia.

T+V,

Roberto G. A. Veiga

segunda-feira, janeiro 10, 2005
 
MAIS MILHO AOS PORCOS


Em crônica passada, falei da desmoralização do título de Doutor que, entre nós, se deve à universidade brasileira, ao distribuir doutorados a torto e a direito, como quem joga milho aos porcos. Não faltou quem protestasse. Que quem jogava milho aos porcos era a universidade francesa, com seus diversos doutorados, o Dr. Ingénieur, o Doctorat d'Université, o Doctorat de IIIe Cycle e o famigerado Doctorat d'État. Pode ser. De qualquer forma, o título pelo menos corresponde a um esforço acadêmico e não é atribuído a qualquer rábula só porque é juiz ou fez curso de Direito.

O missivista considera que o único doutorado francês válido seria o Doctorat d'État. "Um doutorado na França é conhecido por doctorat d'Estat (sic!) e esse sim é equivalente o doutorado no Brasil. Lá existem vários tipos de doutorado, a maioria pode ser realizada em no máximo dois anos, à exceção do doctorat d'Estat (resic!), cuja duração é equivalente aos dos outros países - uns cinco anos. Quase todos os nossos intelectuais de esquerda fizeram um curso Troisième Cycle na França e se dizem doutores".

O ilustre especialista em doutorados - que escreve sob pseudônimo - sequer sabe redigir corretamente a designação do título. Também ignora que o Doctorat de IIIe Cycle se faz em quatro - eventualmente cinco - anos e que o famigerado doctorat d'Estat, como ele grafa , era feito em dez ou mais anos. O Doctorat de IIIe Cycle sempre foi reconhecido como doutorado em todos os países europeus. O d'État era tido como mais uma bizarrice dos galos. Distorção da universidade francesa, servia como placebo ao desemprego, ao mesmo tempo que mantinha o doutorando afastado por uma boa década do mercado de trabalho. O candidato ao título desenvolvia teses monumentais, às vezes de quatro ou cinco volumes, que nem mesmo a banca julgadora lia na totalidade. Tais calhamaços ficavam entregues às traças e à poeira nas bibliotecas e a universidade francesa sequer percebia que delas poderia tirar algum lucro. Exportando para a Holanda, por exemplo, para fazer diques.

Com a arrogância que sempre lhe foi intrínseca - e para proteger a guilda de seus doutores - a USP só reconhecia como doutorado francês esta enfermidade gálica. O governo Mitterrand tomou consciência desta perversão acadêmica e a extinguiu. Agora existe apenas Doctorat. Pergunta aos PhDeuses uspianos: qual parâmetro tem hoje a USP para reconhecer um doutorado feito na França? Ou não reconhecerá mais nenhum outro doutorado francês?

USP à parte, todas as demais universidades brasileiras tinham autonomia para reconhecer como doutorado o curso que bem entendessem. A propósito, em meus dias de universidade, falava-se à boca pequena de um certo "doutorado de nordestino". Eram cursos curtos de pós-graduação, feitos muitas vezes na Espanha, que universidades nordestinas não hesitavam em reconhecer como doutorado. Quando meu missivista me fala em "doctorat d'Estat", me pergunto se não será doutor por alguma universidade nordestina.

Por outro lado, doutorado na França ou no nordeste muitas vezes se equivalem. Fui testemunha do caso de um professor gaúcho de sociologia que defendeu tese numa universidade parisiense e não sabia sequer traduzir a menção que lhe foi dada. Recebeu Assez bien e veio comunicar-me a menção, muito orgulhoso, julgando que era algo superior a Très bien. Ora, Assez bien é a mais baixa das menções, que a banca confere ao doutorando por comiseração. O Dr. em questão, que sequer conhecia um francês elementar, como era de esquerda, teve seu título reconhecido pela UFRGS.

Um outro leitor me adverte que não citei o caso de doutorandos já de idade provecta, que obtém o título e imediatamente se aposentam. Citei sim, mas em crônica antiga, quando falava de outra distorção nossa, a dos mestrandos carecas. "Entre as muitas anomalias da universidade brasileira - escrevi então - estão os mestrandos quarentões. Aquela iniciação à pesquisa, pela qual o candidato deveria optar tão logo terminasse o curso superior, é adiada para uma idade em que do acadêmico já se espera obra consolidada. Pior mesmo, só os doutorados de terceira idade. Marmanjos de cinqüenta e mais anos, em idade de aposentar-se, postulando um título que só vai servir para pendurar junto com as chuteiras. (...) Mestrado não é para carecas. Já um doutorando, este deveria defender sua tese no máximo aos trinta e poucos, para que sua experiência em pesquisa possa ser útil ao ensino e à sociedade. Que mais não seja, é patético ver um homem já maduro humilhando-se, ao tentar iniciar-se em metodologias que devia desde jovem dominar. Na universidade brasileira, o doutorado nem sempre é visto como início de uma carreira, mas como louro a coroar a calva do acadêmico quando este está prestes a usar pijamas. Quem paga tais vaidades senis? Como sempre, o contribuinte".

Em meio a isso, leio manchete na Folha de São Paulo da semana passada:

PLANO PREVÊ DOBRAR N° DE DOUTORES NO PAÍS
Diz a linha fina:

Documento da Capes prevê investir R$ 3,26 bilhões em seis anos para passar de 8.000 para 16 mil titulados ao ano

Em suma, o Plano Nacional de Pós-Graduação apresentado pela Capes ao ministro da Educação, Tarso Genro, propõe a aplicação nos próximos seis anos de R$ 1,66 bilhão a mais em bolsas e fomento de pós-graduação, o que permitiria passar dos atuais 8.000 doutores titulados por ano para 16 mil em 2010. O plano "será acolhido integralmente", disse Genro.

Isto é, não bastassem os jornalistas e engenheiros formados que trabalham de taxistas ou fiscais do trânsito, daqui a uns cinco anos teremos doutores conduzindo táxis ou aplicando multas nas ruas. Mais milho para os porcos. Sempre às custas do contribuinte. O que me lembra um pouco Fidel Ruz Castro - aliás Dr. Honoris Causa pela Universidade Federal de Santa Catarina - respondendo às acusações de que em Cuba até as universitárias tinham de prostituir-se:
- Nada disso. Ocorre que em Cuba até as prostitutas têm grau universitário.

sexta-feira, janeiro 07, 2005
 
A HUMANIDADE DE HITLER


Entrou em cartaz em Paris La Chute (A queda), filme alemão de Oliver Hierschbiegel, consagrado aos últimos dias de Hitler. Boa parte da crítica francesa o condena por mostrar uma face humana do ditador. Mas quem mais humano do que Hitler? Só o ser humano mata aos milhões seus companheiros de espécie. Nenhum outro animal faz isso.

quarta-feira, janeiro 05, 2005
 
MORRO E NÃO APRENDO


Só assisti uma vez na vida os fogos de um réveillon, o de 2000. Não tanto pelos fogos. Um amigo inaugurava seu apartamento no Rio e me intimou a visitá-lo. Não posso negar que foi um espetáculo imponente. Mas não suporto multidões. Quanto cem mil pessoas vão para um lado, eu tomo o lado contrário. Nem precisa ser cem mil. Cinco ou dez mil já bastam.

Mesmo assim, cai na armadilha neste réveillon. Estava em Paris e desta vez fui intimado por minha filha. Fui. Enfrentei meio milhão de pessoas. Por sorte, desta vez os fogos não foram na torre Eiffel, mas nas Tuilleries, o que permitiu à multidão esparramar-se um pouco mais.

Não sei o que os espectadores viram aqui na televisão. As câmeras têm a virtude de tornar grandioso o que não é. O espetáculo foi mixuruca. Dava a impressão que a Mairie estava curta de grana. Tentando chegar aos Champs Elysées, perdi o último metrô. Não bastasse ter enfrentado a massa, tive de atravessar Paris a pé na madrugada.

A gente morre e não aprende. Enfim, a noite era suave e linda, Paris também é linda. O passeio compulsório pode ter sido exaustivo. Mas a cidade merece.