¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, outubro 31, 2005
 
NOVAS REAÇÕES (11)



Gostei muito do modo como escreveu sobre os métodos de tortura da Inquisição. Mas ainda hoje há os que acham que a Santa Inquisição foi, mesmo, um instituição santa. Vejamos um trecho do conteúdo do site católico http://www.veritatis.com.br/

Li no site Veritatis, copiado apenas um pequeno trecho:

A HISTÓRIA DA INQUISIÇÃO

Não deve o católico envergonhar-se de sua história, que é bela, que é grandiosa. Não deve ceder em face dos ataques dos que, ignorando de todo a nossa história, repetem e propagam "lendas negras", criadas com o fim declarado de subverter nossa Fé e nosso amor à Santa Madre Igreja.

Não deve deixar-se confundir dando ao mundo apóstata mais essa satisfação, acreditando em tantas calúnias e imposturas que circulam contra a Igreja.

Vários santos foram grandes inquisidores: S. João Capistrano, S. Domingos e S. Pio V, para citarmos apenas alguns. É a inquisição intrinsecamente má? O que é verdadeiro e o que é falso em tudo o que se tem dito a seu respeito? O texto abaixo, extraído do manual de Apologética do Pe. W. Devivier, recomendado nada mais nada menos por S. Pio X, responde a todas estas perguntas.

Minha resposta, até irada, aos autores do Veritatis:

Essa foi a maior enganação que li até hoje. Não existe maior crassa mentiral, em altíssimo grau, como essa só poderia ser propagada por servos de Satã. Se a Inquisição católica tivesse trucidado apenas UM homem, já seria um erro de grande proporção. Pois Jesus pregou o amor irrestrito, até aos perseguidores, seus "herdeiros diretos" não poderiam matar um só homem.. Até na cruz proferiu perdão aos seus perseguidores. Imagine, então, a matança de milhares de pessoas, de povos inteiros, na mais crua insanidade e crueldade que jamais existiu, tal como as horrorosas cargas praticadas contra os cátaros, a mando do Papa Inocêncio III. Não vou me estender nos atos demoníacos dos papas reis e dos reis papas e seus ferozes torturadores dominicanos, cujo chefe era o Domingos de Gusmão, citado por vocês como santo católico.. Se fosse estender-me nas agressões dos clérigos às leis de Deus, isso preencheria grossos livros, como os abaixo colocados. Muitos deles já os li.

Então.. A quem querem enganar ao nomear bela e grandiosa a fase dos seis séculos negros de dor e de horror que também levaram descrédito aos pagãos? Paulo converteu a pagãos, mas seus ?herdeiros? os afastaram. Só verdadeiros fariseus podem chamar de lendas fatos mundiais comprovados. Li as enciclopédias francesas, italianas e inglesas, e se são lendas as atrozes matanças pela Inquisição católica registradas ali, todas elas mentem descaradamente. Só verdadeiros servos do demônio poderiam tentar levar a erro dessa maneira os leitores internautas.

Não sabem ler a História? Que santo foi esse papa Pio V que se gabava de ter pessoalmente acesas muitas das fogueiras da Inquisição? Por que NADA MAIS QUE PIO X? Que autoridade tinha esse Papa rei, Pio X, o Luxuriante Inquisidor, que entre todos os seus visíveis erros vendeu lugares no Céu por dinheiro para tentar terminar o Palácio Vaticano? Não se esqueçam de que o período mais acentuado da corrupção clerical deu-se exatamente no papado de Pio X. Foi tão escandaloso que acarretou o Grande Cisma. Católicos fugiram da Igreja como se fugiria de Satanás.

Não deve deixar-se confundir dando ao mundo apóstata mais essa satisfação, acreditando em tantas calúnias e imposturas que circulam contra a Igreja. Todos os autores abaixo são mentirosos? Vários desses livros já os li. Leiam pelo menos os três primeiros e vão ficar vermelhos de vergonha.... vermelho como a cor dos milhares de inocentes mortos pela Igreja...

Bibliografia sobre dados relatados sobre os horrores Inquisição e muito mais:

Jeovah MENDES. Os piores assassinos e hereges da história. 1997.
Earle E CAIRNS. O cristianismo através dos séculos. 1977.
Eamon Duffy. Santos e Pecadores.
Ralph WOODROW. Babilônia: a religião dos mistérios.
VIDAS ILUSTRES. Coleção - Volumes VI (os cientistas) e IX (líderes religiosos) e outras publicações, tanto de livros como de jornais.
Ernesto L. Oliveira: Roma, a Igreja e o Anticristo.
Fidel Fifa. Los conjurados de Sevilla contra la Inquisición em 1480. 1890.
Bernard e Vicent. Historia de los moriscos. Vida y tragedia de uma minoria. Madri, 1978.
J. Amador de los Rios: Historia social, politica y religiosa de los judios em España y Portugal. Madri, 1984.
Angel Alcalá: Inquisión española y mentalidad inquisitorial. Barcelona, 1984.
Idem: Los orígenes de la Inquisición em Aragon, S. Pedro Arbués mártir de la autonomia aragonesa. Saragoça, 1984.
Ricardo Garcia Cárcel. Herejía y sociedade en el siglo XVI.La Inquisición em Valencia (1530 ? 1609). Barcelon, 1980.
Idem: Orígenes de la Inquisición española. El tribunal de Valencia. Barcelona, 1976.
Jean Guiraud: Histoire de l'Inquisition au Moyen Âge. Paris 1935.
Haliczer Stephen: Inquisition and society in early modern Europe. Londres, 1987.
John Henningsen Gustav e Tedeschi: The Inquisition and society in early modern Europe. EUA 1986.
Henry Charles Lea: A History of the Inquisition of Spain. EUA, 1906.
Idem: A History of the Inquisition of the Middle Ages. EUA, 1906.
Idem: The Inquisition of the Spain dependencies. 1908.
Henri Maisonneuve: Études sur les origines de l'Inquisition. Paris, 1942.
Jaime Contreras: El Santo Oficio de la Inquisición de Galicia (poder, sociedad y cultura). Madri, 1982.
Jean-Pierre e Dedieu: Geografia de la Inquisición española: la formación de los distritos, 1470-1820.
Miguel Avilez Fernandez; Los inquisidores generales: estudio del alto funcionariado inquisitorial em los siglos XV y XVI. Ifigea, 1084.
Bartolomé Bennassar: Aux origines du caciquisme - Les familiers de l'Inquisition em Andalousie au VIIe siécle. 1976.
Idem: L'Inquisition espagnole XV - XIX siécle. Paris, 1979.
Francisco Bethencourt: The Auto da fé: ritual and imagery. 1992.
Louis Cardaillac: Moriscos y cristianos viejos: un enfrentamiento polemico. 1492-1640. Madri, 1979.
Julio Caro Baroja: Las brujas y su mundo. Madri, 1966.
Idem: Los judios y la espana moderna y contemporanea. 1963.
Idem: Los moriscos Del Reino de Granada. Madrid, 1957.
Idem: Vidas mágicas y Inquisición. Madrid, 1967.
Rafael Carrasco: Prelúdio al siglos de los portugueses. La Inquisicion De Cuenca y los judaizantes lusitanos em el siglo XVI, Hispania XLVII.
Idem; L'administration de la foi. L'Inquisition de Tolède. XVI - XVII siècle. Madri, 1989.
Idem: Les causes de l'Inquisition de Tolède. 1978
Idem: Les Inquisitions de Tolède et la visita de district. La sédentarisation d'un tribunal, 1550 a 1639. 1977.
Idem: Responsabilité de I'Inquisition dans le retard économique de l'Espagne - Eléments de réponse aux origenes du retard économique de la Espagne. XVI - XIX siècle. Paris, 1983, juntamente com outros autores.
Marcelin Defourneaux. La Inquisición espagnole et les livres français du XVII siècle. Paris, 1963.
Antonio Dominguez Ortiz. Autos de la Inquisición de Sevilla (siglo XVII). Sevilha, 1981.
IDEM: Los judeos conversos en la Espana moderna. Madri. Primeira edição em 1955
Miguel Echeverria Goicoechea. Distribución y numero de los familiares Del Santo Oficio em Andalucia durante los siglos XVI - XVIII. 1987.
José Antonio Escudero. Perfiles jurídicos de la Inquisición española. Madri, 1989.
José A Ferrer Benimeli. La masoneria española en el siglo XVIII. Madri, 1986.
Idem: Masoneria, Iglesia y Ilustración. Madri, 1976.
Maureeen Flynn. Mimesis of the last judgment: the Spanish auto de fé. EUA, 1991.
Juan Carlos Gallende Días. El Santo Oficio y los primeros Borbones. (1700 - 1759). Espanha, 1988.
Stephen Haliczer. Inquisition and society in the Kingdom of Valencia, 1478 - 1834. EUA 1990.
Gustav Henningsen. El abogado de las brujas. Brujeria vasca e Inquisición española (tradução do Inglês). Madri, 1983.
Idem. El banco de datos Del Santo Oficio: las relaciones de causas de la Inquisición española (1550 - 1700). 1977.
Álvaro Huerga. Historia de los alumbrados. Espanha, 1978.
Pilar Huerga Criado. La etapa inicial del Consejo de Inquisición (1483 - 1498) Espanha, 1985.
Inquisición española. Nuevas aproximaciones. 1987. Vários autores.
Henry Carmem. La Inquisición española (tradução do Inglês). Barcelona, 1985.
Henry Charles Lea. The moriscos of Spain: their conversion and expulsion. Eua, 1968.

W. A. Simões

Graça, paz, saúde e muita sabedoria ao Cristaldo e sua família.

Waldecy
wasimoes0@ig.com.br

 
NOVAS REAÇÕES (10)


Comentário:

Gostei de sua crônica que, a rigor, não traz muita coisa de novo sobre o histórico atroz da instituição igreja (ou Igreja), que em nada é diferente de outras como Razão, Iluminismo ou Humanismo ou outras organizações que fazem uso destas e de outras bandeiras. Concordo com muitas passagem. De qualquer forma, para uma pessoa inteligente (e o cronista prova sê-lo), achei gratuito a justificativa de sua opção de vida ou mudança de visão, qual seja, a decepção com "Aquele deus genocida, vingativo e cruel, aqueles capítulos incongruentes, aquelas narrações contraditórias, aquele livro que dizia tudo e seu contrário, aquilo não podia passar de humana ficção". Seja a decepção pelo mito ou pelo relato do mito, a intepidez que o cronista demonstra diante da morte e de outras contingências pode revelar apenas mais um ideal apolíneo ou uma fraqueza devidamente escamoteada, quer dizer, uma ficção humana; tudo bem que não se apequene diante do inexistente deus, mas não precisa se agigantar diante dos pobres diabos viventes. Um abraço

José George.

 
DE MESLIER A PIERRE



Mulher e religião não se discute. Se abraça - me dizia o padre Carlos Pretto, de Santa Maria, com quem trabalhei em meus dias de JUC. Carismático, jovial, entusiasta, também costumava dizer: se batina fosse bronze, que badaladas! Isto ocorreu nos anos 60, quando a Ação Católica exerceu forte influência junto à juventude. Os padres mais novos desceram do púlpito, saíram do cubículo do confessionário e decidiram conversar com os jovens. Dos padres com quem convivi, nenhum escapou: todos largaram a batina. Hoje estão casados e cheios de filhos. O contato com aquela gente moça, com aquelas universitárias com hormônios à flor da pele, foi letal. Não houve ministro de Cristo que resistisse ao apelo do sexo.

Sexo é imperioso. Pau duro não tem amigo - costumava dizer meu velho pai, em seu linguajar sem peias de homem do campo. Nem fé, acrescentaria eu. Que o diga este santo homem, Henri Grouès, 93 anos, mais conhecido como abbé Pierre, fundador do movimento dos Emaús. Mais considerado na França que o jogador Zinedine Zidane - como diz Gilles Lapouge - o abade Pierre, que há 60 anos promove ações em favor dos pobres, é considerado um santo. No inverno de 1954, lançou um apelo à "insurreição pela bondade", em favor dos sem-teto, provocando um vasto movimento de solidariedade mundial. A associação dos Emaús se internacionalizou e hoje tem representações em cerca de 40 países. Em 1988, ele criou a Fundação Abbé Pierre, para abrigar habitantes de rua. Em 2001, recebeu da Presidência da República a comenda de Grand Officier de la Légion d?Honneur.

Em livro recentemente lançado na França, Mon Dieu... Pourquoi?, o abade famoso por sua vida virtuosa e sua luta pelos sem-teto, confessa serenamente ter tido não poucas relações sexuais em sua vida. O livro está provocando mais celeuma do que a entrevista concedida ao jornal Le Figaro, em novembro de 2000, por dois velhos generais franceses, Jacques Massu, 92 anos, e Paul Aussaresses, 82, quando resolveram confessar seus assassinatos e torturas durante a guerra na Argélia. Aussaresses contou, inclusive, ter matado 24 prisioneiros com as próprias mãos. "De fato, nos executávamos os prisioneiros. A tortura nunca me proporcionou prazer mas eu tomei esta decisão quando cheguei a Argel. Na época, ela era generalizada. Se fosse para refazer tudo, isso me aborreceria, mas eu faria de novo a mesma coisa pois não acho que se pudesse agir de outra maneira".

Se a tortura na Argélia era um segredo de polichinelo, o mesmo não se pode dizer da vida sexual do virtuoso abade. Mais ainda, abbé Pierre mexe nos rígidos princípios da Igreja. Declara que a tentação carnal é "uma força vital poderosa", afirma o caráter sexual das relações entre Cristo e Madalena e aprova o desejo dos casais homossexuais terem seu "amor" reconhecido. Em recente polêmica, quando afirmei ter abandonado minha fé cristã em boa parte por imperativos do baixo ventre, fui qualificado por leitores como um devasso. O mesmo não diriam estes leitores deste santo homem. Com a diferença que abbé Pierre não teve a hombridade de jogar fora os grilhões que o oprimiam como ser humano, e portanto, dotado de sexo. Não teve sequer a coragem de largar a batina e viveu até a velhice na hipocrisia, em oposição ao magistério da Igreja à qual devia obediência.

A affaire abbé Pierre evoca um outro personagem curioso da história da França, um religioso muito cultuado por ateus do mundo todo. Em 1729, morreu em Étrépigny, França, o abade Jean Meslier, com a idade de 65 anos. Ao morrer, após mais de quarenta anos à frente de sua paróquia, resolveu dizer o que pensava do cristianismo em um gordo livro, singelamente intitulado Mémoire dés pensées et dés sentiments de Jean Meslier, prêtre, curé d'Étrépigny et de Balaives, sur une partie des erreurs et des abus de la conduite et du gouvernement des hommes où l?on voit des démonstrations claires et évidentes de la vanité et de la fausseté de toutes les divinités et de toutes les religions du monde pour être adressé à ses paroissiens aprés sa mort, et pour leur servir de témoignage de vérité à eux, et à tous leurs semblables.

Meslier, que vivera uma pacata vida de cura de aldeia, uma vez morto se sente livre para expressar o que sempre pensara. E solta o verbo:

- De onde tiramos que um Deus que seria essencialmente imutável e imóvel por sua natureza poderia no entanto mover algum corpo? De onde tiramos que um ser que não teria nenhuma extensão nem parte alguma seria no entanto imenso, e mesmo infinitamente esparso por toda a parte? De onde tiramos que um ser que não teria cabeça nem cérebro seria no entanto infinitamente sábio e esclarecido? De onde tiramos que um ser que não teria nenhuma qualidade nem nenhuma perfeição sensíveis seria no entanto infinitamente bom, infinitamente amável e infinitamente perfeito? De onde tiramos que um ser que não teria nem braços nem pernas e que sequer seria capaz de mover-se seria no entanto todo-poderoso e faria verdadeiramente todas as coisas? Quem teve a experiência disto?

- Depois disso, que pensem, que julguem, que digam e que façam tudo o que quiserem no mundo, pouco estou me preocupando; que os homens se ajeitem e governem como eles quiserem, que sejam sensatos ou sejam loucos, que sejam bons ou que sejam maus, que digam ou que mesmo façam o que quiserem depois de minha morte; não me preocupo; eu já quase não faço parte do que se faz no mundo; os mortos com os quais estou prestes a juntar-me não se incomodam mais com nada, não se intrometem mais em nada, e não se preocupam mais com nada. Terminarei então isto pelo nada, também sou pouco mais que nada, e em breve não serei nada.

Liberto pela morte dos horrores da Inquisição, Meslier desafia seus pares:

- Que os padres, que os pregadores façam então de meu corpo tudo que eles queiram; que eles o rasguem, que o cortem em pedaços, que eles o assem ou façam dele um fricassé, e que mesmo o comam se quiserem, no molho que desejarem, eu absolutamente não me preocupo; eu estarei então totalmente fora de seu poder, nada mais será capaz de me fazer medo.

Dois abades, duas apostasias. Meslier, dada a época em que vivia, não podia falar em vida. Seria fatal para sua saúde. Não é o mesmo caso de abbé Pierre, que vive numa França laica, onde qualquer heresia é permissível. O criador do movimento dos Emaús preferiu levar vida dupla, usufruindo por um lado os privilégios de sua condição de religioso coberto pela fama, sem renunciar, por outro lado, aos prazeres da carne. Mas pelo menos tornou pública sua verdade, em oposição aos milhares de padres que exercem, às escondidas - o mais das vezes com meninos - suas sexualidades.

Ao abbé Pierre, minha compreensão. A Meslier, admiração profunda.

 
NOVAS REAÇÕES (9)



CONSIDERAÇÕES ACERCA DE UM ARTIGO DE JANER CRISTALDO


Religion blushing, veils her sacred fires, And unawares Morality expires - Alexander Pope

Após ler o último artigo de Cristaldo, "Eu, Apóstata", questionei-me se deveria continuar a polêmica: Afinal, que tenho eu a dizer para alguém que ridiculariza S. Tomás?Existem coisas que, numa discussão séria, não se deve pôr em dúvida. Compreenderia alguém que se apresentasse questionando o aristotelismo, ou o platonismo. Entenderia alguém que fizesse pouco caso da dúvida socrática. Mas não alguém que os ridicularizasse - ao contrário, quem pretendesse assim desprezar tão grandes nomes da filosofia faria, ele próprio, um papel ridículo.É exatamente o caso aqui: pois que S. Tomás de Aquino é um gigante do pensamento, é algo inconteste. Ademais, se Cristaldo o despreza por este se interessar por anjos, o quanto não desprezará Sócrates, por este acreditar na vida eterna ou Aristóteles, que julgava o ateísmo irracional? Se quiser ser coerente, Cristaldo terá igualmente de desprezar S. Agostinho, Duns Scoto, S. Boaventura, S. Alberto Magno, Avicena, Averróis, Maomênides, Avicebrão e todos os demais filósofos medievais que acreditavam em anjos. E, para seguir nesta linha, terá de jogar no lixo boa parte dos filosofos modernos (a melhor parte), toda ela composta por "crentes', como gosta de chamar o autor. Curioso é que o aquinate, fiel da "intolerante" religião da cruz, da tortura, da inquisição, não despreza os filósofos pagãos, islâmicos ou judeus - chama Aristóteles de O Filósofo e Avicena, O Comentador. Ao contrário, aos "tolerantes" ateus, quem quer que professe uma religião é, ipso facto, "crente de cabeça vazia".

Ainda mais: se "empunhei" S. Tomás, como diz o autor, não o fiz senão para mostrar que Cristaldo, ao criticar a Igreja, dava provas de ignorância: citei passagens da Suma e outros doutores da Igreja como prova de que o autor estava errado ao dizer que a Igreja condena o "prazer sexual" e era autoritária ao querer impôr sua moral. Afirmei que este não possuia as mínimas condições necessárias para ingressar numa polêmica em matéria religiosa, por não conhecer sequer a doutrina da instituição que pretende atacar. Após isso, Cristaldo poderia fazer uma das duas coisas: poderia defender seu ponto de vista ou calar-se. Não fez nem uma coisa, nem outra, afetou desprezo pelo tomismo e retornou à questão do "prazer sexual".Diz o autor: "Minha negação de Deus decorre em boa parte de meu amor ao baixo ventre. Uma das razões que me levou a questionar o cristianismo foram as proibições ao sexo. Os padres armaram uma maquininha diabólica de tortura em minha mente: a cada momento de prazer, fui condicionado a acionar a maquininha, o que me provocava dolorosos sentimentos de culpa e desejos de punição". Quem ler o artigo que escrevi anteriormente em resposta ao autor, verá, pelas várias citações dadas, que nem o prazer sexual nem, evidentemente, o sexo, são proibidos ou condenáveis para os católicos. Contudo, é preciso que um e outro estejam devidamente submetidos à ordem da razão. Remeto mais uma vez o leitor ao que tão claramente explicou S. Tomás: "...é bom o prazer que leva o apetite superior ou o inferior a repousar no que convém à razão; e é mau o que o leva a repousar no que discorda da razão e da lei de Deus". (Ia IIae q. 34, a. 1).Ora, o que Cristaldo parece ignorar, é que a necessidade de se conformar todas as ações à ordem da razão, inclusive o sexo, não é uma invenção da Igreja: mas é a própria natureza do ato moral.

Quem compendiar a reta filosofia, encontrará precisamente esta doutrina: Aristóteles comparava os intemperantes (i.é. a turma do baixo ventre) aos epiléticos e ao pecado de intemperança chamava "um vício infantil" (Ética 3, 12). O grifo é meu: "The name self-indulgence is applied also to childish faults; for they bear a certain resemblance to what we have been considering. Which is called after which, makes no difference to our present purpose; plainly, however, the later is called after the earlier. The transference of the name seems not a bad one; for that which desires what is base and which develops quickly ought to be kept in a chastened condition, and these characteristics belong above all to appetite and to the child, since children in fact live at the beck and call of appetite, and it is in them that the desire for what is pleasant is strongest. If, then, it is not going to be obedient and subject to the ruling principle, it will go to great lengths; for in an irrational being the desire for pleasure is insatiable even if it tries every source of gratification, and the exercise of appetite increases its innate force, and if appetites are strong and violent they even expel the power of calculation. Hence they should be moderate and few, and should in no way oppose the rational principle-and this is what we call an obedient and chastened state-and as the child should live according to the direction of his tutor, so the appetitive element should live according to rational principle. Hence the appetitive element in a temperate man should harmonize with the rational principle; for the noble is the mark at which both aim, and the temperate man craves for the things be ought, as he ought, as when he ought; and when he ought; and this is what rational principle directs".

A mesma doutrina foi descrita por Cícero (De Invent. Rhet. ii): "Anything that is sought either entirely or partly for itself we shall call honestum (honorable). Because there are two parts to it, of which one is simple, and the other is mixed, we shall consider the simple part first. All the things in this genus are embraced in the single force, and under the single name, of virtue. Virtue is a disposition [habitus] of spirit [animus] in harmony with the measure of nature and of reason. So when we know all its parts, we will have considered all the force of simple honor. It has four parts: prudence, justice, fortitude, temperance. (...)Temperance is a firm and moderate control exercised by calculation over lust and other impulses of the spirit that are not right [not straight]". Quando Cristaldo diz que rompeu com a Igreja e negou Deus por conta das proibições ao sexo e aos prazeres sexuais desregrados (pois, como já provei citando 3 dos principais doutores da Igreja, proibição ao sexo e aos prazeres regrados não há), devemos entender que, na verdade, como na epígrafe deste texto, Cristaldo rompeu com a ordem moral. É ele mesmo quem o diz: "Para início de conversa, falar de pecado para mim é como falar de livros para o Lula: não me diz nada. Ateu, sou homem sem pecados, pois não aceito a noção de pecado". E não pode alegar desconhecimento da noção de pecado, pois ele mesmo a transcreve em seu artigo: "É pecado o ato humano contrário à ordem da razão". "Foi a concupiscência que te perverteu" (Dn 13,56).

Interessante que este homem a quem repugna a idéia de viver conforme a razão, e proclame ter tirado seus argumentos do baixo ventre, discorra sobre os direitos da crítica e cobre argumentos aos seus adversários. Também interessante é verificar que, no mesmo artigo em que diz recusar a noção de pecado, Cristaldo pretende condenar a inquisição... moralmente! Por outro lado, se recusa a noção de pecado, nem por isso parece recusar a noção contrária, a de virtude, pois diz-se um forte: ateísmo, diz, é coisa de fortes. A fortaleza, no linguajar de Cristaldo, equivale a coragem. Não discutamos, vejamos apenas se há coerência. Para o autor, os ateus são corajosos por não temerem a morte. Mas, se perguntarmos ao autor que há após a morte, ele dirá: não há nada. Pergunto-me agora: que mérito há em não temer o nada? Somente a alguém que acredite enfrentar algo após a morte, quer o desconhecido dos agnósticos ou, mais ainda, o "tremendo juízo" de que fala o Dies Irae, poderia haver coragem. Quanto a morte, lamento dizer, é precisamente este um tema sobre o qual não se podem dizer corajosos os ateus.

***
Cristaldo é um ateu militante que se ignora. Seu ateísmo confirma todas as notas da descrição feita por Olavo: a decisão de juventude feita por motivos intelectualmente irrelevantes, a racionalização posterior e a adesão cega e inflexível. O autor é militante e mal consegue passar uma semana sem combater a Igreja e os crentes das diversas religiões: "A história do ateísmo militante é uma sucessão prodigiosa de intrujices. É que o ateísmo, em geral, é uma opção de juventude, prévia a qualquer consideração racional do assunto, e uma vez tomada não lhe resta senão racionalizar-se a posteriori mediante artifícios que serão mais ou menos engenhosos conforme a aptidão e a demanda pessoal de argumentos. Não se conhece um único caso célebre de pensador que tenha chegado ao ateísmo na idade madura, por força de profundas reflexões e por motivos intelectuais relevantes. Ademais, toda fé religiosa coexiste, quase que por definição, com as dúvidas e as crises, ao passo que o ateísmo militante tem sempre a típica rigidez cega das crenças de adolescente. O ateísmo militante é, por si, um grave sinal de imaturidade intelectual". (Jardim das Aflições, pág. 127)

PS.: Cristaldo acaba de publicar um novo artigo, onde dá novas provas de intrujice. Cita longamente um padre francês com declarações absolutamente descabidas sobre metafísica. Fica feio citar algo tão pueril, tão inconsistente. Recomendo ao autor a Ia pars da Suma, em especial o tratado De Deo Uno, que trata e resolve precisamente aquelas questões, ponto a ponto. Vou tentar escrever algo sobre o assunto. Quanto ao tema Inquisição, pretendo escrever algo depois em meu blog www.tradblogs.com.br/missaest

 
NOVAS REAÇÕES (8)


Janer,

Não imaginei que teu artigo "Eu, apóstata" fosse dar tanto pano para manga, como vejo agora em teu Blog. Li na segunda, se lembro bem, e concordo com tudo ou quase e nada vi que me parecesse digno da "revolta", mas, ao contrário, só posso elogiar a posição. A cruz deveria ser retirada imediatamente de lugares públicos: é difícil entender que os cristãos sintam-se tão incomodados com a já tardia proposta de retirada. Parecem querer manter cada mínimo espaço conquistado como se implicasse em perder poder e influência, o que mais denuncia fragilidade e medo que fé.

Sempre me surpreendeu que militantes sectários das várias religiões (cristãos e esquerdistas de todas as vertentes, em especial), todos proselitistas, vissem qualquer crítica ou descrença como sendo feita com o deliberado intuito de convencer terceiros ou "convertê-los" para meu modo de pensar. Não lembrava que essa era a reação habitual até ler o teu Blog hoje.

Paciência. O lamentável nisso é que ainda haja quem se revolte de modo tão sincero com posições como a tua: não parecem estar sendo irônicos, mas genuinamente se imaginam objeto de ódio. Não é por acaso que prefira guardar para mim, na maioria das vezes, minha descrença na própria existência de Cristo.

Um abraço,

Alceu


P.S.: e por que "todo esse ódio" desse pessoal a quem (segundo eles) odeia? Não deveriam dar a outra face ou coisa do gênero? :)

sábado, outubro 29, 2005
 
NOVAS REAÇÕES (7)



Boa noite.

Estou enviando este e-mail para dizer que me identifiquei com seu texto: "Eu, apóstata". O que foi dito, era o que eu queria dizer quando tive uma oportunidade. Quando li o texto vi ali toda as justificativas que nunca consegui dar para justificar a minha falta de fé em Deus. Apesar de todos serem contrários, o texto está impecável.

Isabel

 
NOVAS REAÇÕES (6)




Olá, Janer Cristaldo,

acessei seus atuais textos via MSM. Gostei da sua sinceridade e também da sua coragem em expressar sentimentos pessoais acerca de um assunto que dá pano pra manga (e que faz provar o quanto a fogueira da Inquisição ainda está acesa).

Eu não sou ateu. Mas também não pratico e nem aceito nenhuma religião. E também não sou daqueles que fazem o tipo 'espiritual mas não religioso'. Mas confesso a minha grande admiração por Jesus Cristo. Pode parecer um tanto estranho, mas meu posicionamento é de que a compreensão da pessoa de Jesus foi totalmente deturpada pelos líderes cegos das porcas instituições eclesiásticas.

Esses líderes religiosos que batem no peito e dizem ser '?seguidores do Cristo' são uma vergonha. É um bando de pessoas desqualificadas. Falam tanto 'em nome de Deus', mas nada neles testifica que sejam autênticos seguidores do Mestre de Nazaré. Pra ser sincero, sou da opinião de que se Jesus viesse hoje, à maneira como nos é narrado nos Evangelhos, ele seria crucificado tanto pelos católicos quanto pelos ditos 'evangélicos'.

No meu blog, publiquei um post defendendo meus amigos ateus da fúria idiota de fanáticos religiosos. Fica o convite.

Grande abraço,

Netanias Alves Lima

 
NOVAS REAÇÕES (5)



Sr. Janer Cristaldo.

Li seu artigo no Midia Sem Máscara.

Devo dizer que, ser ateu ou não, não fará diferença na vida das pessoas e sim seu comportamento que pode leva-lo a ser feliz ou infeliz, livre ou escravo, o homem sempre acreditará em algo mesmo as doutrinas dos homens e o que é pior doutrinas dos homens mescladas com escrituras.

Ser ateu também é uma crença, pode estar calçada em uma verdade ou em uma mentira, dependendo dos argumentos encontrados para justificar seu comportamento. Li que tens sólidos argumentos para não acreditar em Deus, pelo menos da maneira que colocaram a ti. Não obstante conheci muitas pessoas que acreditam em Deus, no entanto são pessoas desprazíveis que não seguem os conselhos daquele que ele diz acreditar. Se o demônio for o que diz a Bíblia um dos filhos de Deus rebelde que queria a honra dele, logo poderíamos ver que mesmo conhecendo Deus literalmente não deixou o Lucefer de ser o diabo, não é mesmo?

A própria Bíblia que é uma soma de vários livros e epistolas juntadas em um só livro, com contradições e outras não, fruto de traduções e interpretações dos que os reescreviam.

Para saber das coisas de Deus, a Bíblia é insuficiente. A lógica e a dedução são o meio para acreditar que existe pelo menos um ser ou muitos seres superiores a nossa insignificância raça humana, que se espalha pelo universo.

Agora é certo que os homens criam seus Deuses de acordo com sua vontade de acreditar. Na grande maioria Deuses falsos fantasiosos pregando doutrinas das mais variadas, muitas delas para obter domínio sobre as pessoas.

Geralmente os Intelectuais são ateus devido a suas grandes leituras e conhecimentos acumulados ao longo de sua vida. No passado era comum o pesador comunista se declarar ateu, orgulhava-se com esta distinção, mas não obstante havia um Deus que lê acreditava "O ESTADO". Hoje já podemos ver o inverso. Liberais declarando-se ateus e comunistas seguindo padres católicos e freqüentando missas. A confusão está posta.

Concordo contigo quanto à dificuldade de acreditar nestes Deuses que lhe apresentaram são difícil de engolir. Mas há sim um Deus verdadeiro, pai de todos nós que nos deu o livre arbítrio para decidirmos entre o que certo e errado.
Pai bondoso e ao mesmo tempo justo, a morte para ele, é um filho que volta, para nós é o fim. Somos eternos na verdade estamos aqui num estado temporário para aprendermos muitas coisas na pratica do dia a dia, precisamos experimentar o amargo para reconhecer o doce, nos temos que sentir o mal para apreciar o bom. Por isso é Deus não intervem na maioria das coisas, pois é dado a nós o direito de decidir nosso rumo, como indivíduo ou como sociedade.

Continue fazendo as criticas, valem muito, não dê bola para o ódio dos contrários, busque ser feliz contribuindo com seus escritos e aceite com humildade minhas colocações.

Leia o Livro de Mórmon, escrituras pré-colombianas de nosso continente.

Klauck Soares
Webmaster do
http://www.pflpoa.com.br

quarta-feira, outubro 26, 2005
 
NOVAS REAÇÕES (4)



Simplesmente sensacional!!!!
De lavar a alma.
Pena que tão pouca gente o compreenda.

Forte abraço,

Dr. Luciano Almeida Orlando

 
DE FATO...



...meu caro Prolla,

vivesse em mundo muçulmano ou comunista, eu estaria provavelmente morto. Da mesma forma que iria para a tortura e para a fogueira se vivesse na Idade Média, quando a Igreja detinha poderes absolutos. Hoje a Igreja civilizou-se um pouco, mas pululam no Orkut e outros fóruns grupos saudosos da Inquisição.

 
NOVAS REAÇÕES (3)





Apóstata no mundo árabe ou comunista?
enviada em 25/10/2005

Sempre leio o que Janer Cristaldo escreve para o MSM. Na crônica de hoje (24/10) ele escreve que "nascesse no mundo árabe, certamente estaria combatendo o crescente." Permita-me discordar. Como apóstata do Islamismo, ele estaria morto, mortíssimo.

O Janer escreve a seguir que se "vivesse no mundo comunista, estaria combatendo a foice e o martelo". Novo engano, como apóstata do comunismo, ele estaria no paredon ou num gulag.

Como vive no Brasil, que por enquanto ainda é uma democracia, ele pode sem nenhum perigo físico se declarar apóstata. É um erro supor a equivalência da democracia ocidental (da qual apesar do PT do Sr. Lula ainda fazemos parte) com os regimes islâmicos (ditadura dos aiatolas) e os regimes comunistas (ditadura do partido).

João Bosco Prolla


segunda-feira, outubro 24, 2005
 
NOVAS REAÇÕES (2)



Coluna do Janer

enviada em 24/10/2005

Bem, temos que elogiá-lo: pelo menos reconhece o hedonismo óbvio que move seu ateísmo individualista - que me lembra, não sei por quê, o cara que fica em casa, tomando cerveja, comendo torresmo e assistindo qualquer XV de Jaú contra XV de Piracicaba da vida.

Por outro lado, fosse ateísmo militante, correríamos um risco sartriano e sabemos as conseqüências disso: genocídios.
De resto, religião em si (qualquer uma) é pura contradição, afinal vislumbrar e desejar a perfeição, sendo, "a priori", de uma vileza aberrante não parece das coisas mais conciliáveis do mundo. Será por isso que existe esta mosquinha irritante chamada fé?

Leandro Vilas

 
NOVAS REAÇÕES (1)




Eu, apóstata

enviada em 24/10/2005

Escrevo para dar aos parabéns a Janer Cristaldo por seu texto !Eu, apóstata". E para me posicionar ao seu lado na questão colocada. Como ele, sou ateu e não sou nem um pouco comunista ou esquerdista (apesar do presumido sinônimo), em local público onde se presume justiça a TODOS não é lugar de cruz, crescente, estrela de Davi, Buda ou um objeto Ateu (se existisse). Tribunal é lugar de lei, não é igreja, mesquita ou sinagoga. Lembro ao leitor que no Brasil existe liberdade de crença. Aliás, os 99% da população que ele se refere, os dados vem de onde, do Viva Rio?

Gustavo Dreyer

 
EU, APÓSTATA




"O sr. Cristaldo nos cansa com seu ódio a Deus - escreve um leitor, a respeito de minha penúltima crônica - "motivado, segundo ele mesmo, pelo amor do baixo-ventre. Ninguém lhe nega o direito de ser ateu; porém 99 % da população não o é, e se ele é mesmo democrata, como diz, deveria respeitar o direito de expressão da maioria e guardar a sua crença para uso privado, como quer que todos façam".

Nos últimos meses, a contragosto, escrevi várias crônicas contra o PT e sua política corruptora. Não que me agrade escrever sobre o PT, mas as circunstâncias o exigem. Recebi um bombardeio de mails querendo saber as razões de meu ódio ao PT. No que não há nada de insólito. Sempre que o PT recebe críticas, lá vêm seus próceres querendo saber: por que tanto ódio?

Mudei de assunto, afinal detesto escrever sobre o PT. Escrevi sobre o Islã e seu avanço na Europa. Falei da ablação do clitóris, infibulação da vagina, uso obrigatório do véu. Não faltou islamita ou simpatizante que quisesse saber porque odeio tanto o Islã. Ora, jamais nutri ódio algum pelo Islã. O que não impede que critique suas práticas bárbaras.

Mudei de novo de assunto. Estava em discussão a proposição do juiz gaúcho Roberto Arriada Lorea, de retirar os crucifixos das salas de audiências e de julgamentos nos fóruns e no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Teci minhas considerações sobre a cruz, que de instrumento de tortura romano é transformado, em um passe de mágica, em símbolo da propaganda cristã. (Mais ou menos o que fez o PT com seus líderes: de traidores da pátria os transformou em heróis). Não passaram 24 horas para que ressurgisse a cantilena: por que tanto ódio a Deus?

Há mais de ano, escrevi crônica criticando o absurdo do reconhecimento pelo Ministério da Educação de uma Faculdade de Teologia Umbandista. Até hoje umbandistas querem saber porque odeio tanto a umbanda.

Ou seja, crítica não é mais crítica. É ódio. Tudo que não for louvor, é desqualificado. Se você tenta analisar com olhos independentes, sem parti pris, fenômenos que dependem de fé, você não é um analista. E sim um crápula destilando ódio pelos poros. Esta retórica pode funcionar para claques de crentes ofendidos. É a resposta mais à mão de quem não tem resposta alguma. Mas não comigo. Para começar, eu jamais poderia odiar a Deus, afinal não consigo odiar o que não existe. Poderia odiar talvez os homens que massacravam e queimavam seres humanos, tanto no Antigo Testamento como na Inquisição ou nas Cruzadas, sempre em nome de Deus. Mas ódio retroativo também não existe.

Que mais não seja, ódio é sentimento que jamais consegui alimentar. Não odeio ninguém. Critico, isto sim, o que está atrás de logotipos como cruzes, crescentes, foices e martelos, suásticas. São doutrinas totalitárias, que tentam anular o indivíduo e sua liberdade. Neste sentido, a cruz é mais nefasta que a suástica e a foice e o martelo. A suástica imperou por pouco mais de década, a foice e o martelo tem coisa de um século, mas enquanto símbolo de um poder vigente, durou apenas setenta anos. A cruz tem vinte séculos de existência. Combato a cruz porque nasci sob sua sombra. Nascesse no mundo árabe, certamente estaria combatendo o crescente. Vivesse em mundo comunista, estaria terçando armas contra a foice e o martelo.

Mas em algo o leitor tem razão. Minha negação de Deus decorre em boa parte de meu amor ao baixo ventre. Uma das razões que me levou a questionar o cristianismo foram as proibições ao sexo. Os padres armaram uma maquininha diabólica de tortura em minha mente: a cada momento de prazer, fui condicionado a acionar a maquininha, o que me provocava dolorosos sentimentos de culpa e desejos de punição. A carne é fraca, diziam meus professores. Ora, era exatamente o contrário. A carne era forte, e como! Eu não conseguia admitir que o prazer sexual, um dos mais intensos que é dado ao ser humano, pudesse ser algo criminoso ou pecaminoso. Como cachorro que se sacode para secar-se, joguei para longe de mim minha crença. Não vi mais razões para punir-me a cada momento de prazer. Joguei fora também a maquininha de tortura e me dediquei a tratar com muito carinho meu baixo ventre. E com sofreguidão, afinal precisava recuperar o tempo perdido. Meu caluniado baixo ventre passou a proporcionar-me não mais sentimentos de culpa, mas momentos de puro prazer e glória.

Um outro leitor empunha Tomás de Aquino, aquele senhor que discutia seriamente a que distância um anjo deve estar do outro, para que quando um fale o outro ouça. Segundo o aquinata, "é pecado o ato humano contrário à ordem da razão. Ora, a ordem racional exige que tudo se ordene convenientemente para o fim. Logo, não há pecado quando racionalmente o homem usa de certas coisas, de acordo com o fim para o qual existem, de modo e em ordem convenientes, contanto que esse fim seja verdadeiramente bom".

Para início de conversa, falar de pecado para mim é como falar de livros para o Lula: não me diz nada. Ateu, sou homem sem pecados, pois não aceito a noção de pecado. Quanto ao fim para o qual certas coisas existem, sem dúvida alguma a procriação é um dos fins da sexualidade. O outro é o prazer. Eu, que sou avesso à procriação, fico com este último. Ordem da razão, para mim, é tudo que se ordena convenientemente para o prazer. Para os católicos, curiosamente, a tal de ordem da razão sempre coincide com a doutrina da Igreja.


Dom Lourenço Fleichman, OSB, em duas frases comete uma série de equívocos: Cristaldo "só pensa em Deus, só fala de Deus, mas sempre com o sinal negativo. Onde esse mesmo Deus fala de Amor, Cristaldo distila (sic!) o ódio. Onde Deus fala da Verdade, Cristaldo prefere a duplicidade religiosa. Hoje, Cristaldo cospe na Cruz de Nosso Senhor e enaltece outras religiões para contrapor ao catolicismo. Mas não deixa de dormir por ontem ter cuspido nessas mesmas religiões que hoje utiliza contra Cristo". Ora, raras vezes escrevo sobre Deus, e se desta vez escrevi, foi para comentar a polêmica em torno à cruz. Mais uma vez, o frei empunha o argumento do ódio, esse argumento tão ao gosto do PT quando se sente criticado. Diz ainda o frei que enalteço outras religiões para contrapor ao catolicismo. Pelo jeito, o frei não costuma ler meus artigos. Nunca enalteci religião alguma. Abomino-as todas.

"Porque não cita os documentos papais ordenando a tortura, a fogueira? - pergunta Dom Lourenço. - "Porque não cita algum livro, alguma frase tirada da boca dos santos católicos determinando que se mate para espalhar o cristianismo?" Ora, já os citei sobejamente em crônicas anteriores. A começar pela Bíblia, onde Jeová, além de exterminar a vida na terra - salvando Noé e seu zoo - incita a todo momento o povo eleito a exterminar seus inimigos. As passagens do Livro ordenando o massacre e o genocídio são inúmeras e citá-las seria monótono. A Inquisição é criada pela bula Licet ad Capiendos, do Papa Gregório IX, em 20 de abril de 1233. Com a bula Ad Extirpanda, em 1252, o Papa Inocêncio IV institucionaliza o Tribunal da Inquisição e autoriza o uso da tortura. Irá persistir até o século XIX, na Espanha.

Com o Directorium Inquisitorum - ou Manual dos Inquisidores, em bom português - de 1578, do frei dominicano Nicolau Eymerich e ampliado pelo também frei dominicano Francisco de la Peña, são definidas juridicamente as circunstâncias da tortura. Tal defesa da tortura, feita em documento escrito, nem nazistas ou comunistas ousaram produzir. Isso sem falar no Malleus Maleficarum, dos monges dominicanos Jacobus Sprenger e Heinrich Kramer, de 1486, que se tornou o manual indispensável e autoridade final da Inquisição, para todos os juízes, magistrados e sacerdotes, católicos e protestantes, na luta contra a bruxaria na Europa. Os documentos são muitos. Se Dom Lourenço quiser mais detalhes, eu o remeto à Historia Criminal del Cristianismo, de Karlheinz Deschner, 10 volumes, Barcelona, Ediciones Martinez Roca, S.A.

"O aborto, o divórcio, o casamento de homossexuais não é proibido pela Igreja, como pensa Cristaldo. É proibido pela natureza do homem e da sociedade humana" - prossegue Dom Lourenço. Pelo que me consta, a tal de natureza humana até hoje não baixou bula proibindo tais práticas. Quanto à sociedade humana, esta desde há muito vem produzindo leis que descriminalizam o aborto, o divórcio e o casamento de homossexuais. Aliás, homossexualismo é a busca de puro prazer, não maculado pelos acidentes da concepção. Ou alguém pretende que não haja prazer no homossexualismo? Se é bom e não prejudica ninguém, que mal tem?

Nestas catilinárias, não faltou quem fizesse a pergunta safada: quando você se tornou ateu? A formulação é capciosa. Não nos tornamos ateus. Nós nascemos ateus. A educação é que nos insere no espírito a idéia de Deus. A formulação correta seria: quando você voltou a ser ateu? Bom, em meu caso, foi lendo a Bíblia. Eu, que dela só conhecia trechos, a li livro a livro, versículo a versículo. Terminada a leitura, minha fé implantada a machado pela escola ruiu como um castelo de cartas. Aquele deus genocida, vingativo e cruel, aqueles capítulos incongruentes, aquelas narrações contraditórias, aquele livro que dizia tudo e seu contrário, aquilo não podia passar de humana ficção.

"Rezo a Deus para que no dia da sua morte ele já não deseje mais, como escreveu, um triste velório sem Deus, sem Cristo, sem a Santa Esperança" - me deseja Dom Lourenço. Vamos devagar, caríssimo. Ou você pretende impedir um homem de morrer como lhe agrada? Desde meus verdes anos, dispensei Deus, Cristo e tal de Santa Esperança. Foi um renascer. Desde então, tenho vivido meus dias em plena paz, comigo e com meus sentidos.

Fui ainda jogado no ror dos ateus militantes. Não se preocupem os senhores crentes. Já fui até convidado para participar de fóruns de ateus militantes, e recusei. O ateu militante é um pobre diabo, que está doidinho para encontrar um Deus, seja lá qual for. Não sou militante de doutrina alguma. Não convido ninguém a partilhar de minhas convicções. Ateísmo é postura de fortes, de homens que não choramingam como carpideiras diante da morte.

Espíritos frágeis, melhor se abster.

sábado, outubro 22, 2005
 
REAÇÕES (9)





UM GRAVE SINAL DE IMATURIDADE INTELECTUAL


Hilaire Belloc costumava dizer que, para atacar a Igreja, todos pretextos são bons: uns a criticarão por julgar que possui riquezas em excesso, outros, por não lhes parecer ter riquezas o bastante; uns reclamam a severidade de sua moral, enquanto, para outros, o problema é sua moral não ser severa o suficiente; há os que dizem que ela reduz tudo à lógica e à razão, e os que dizem que reduz tudo à emoção:

"The Church has been presented, and by one set of Her enemies, as based upon the ignorance and folly of Her members?they were either of weak intellect or drawn from the least instructed classes. By another set of enemies She has been ridiculed as teaching a vainly subtle philosophy, splitting hairs, and so systematizing Her instruction that it needs a trained intelligence to deal with Her theology as a special subject." (Hilaire Belloc, Survival and New Arrivals)

Ora, amiúde, por baixo destes pretextos, não há senão uma terrível ignorância da mesma doutrina e instituição que se pretende criticar. É o caso de Janer Cristaldo que, num desrespeitoso artigo recém publicado no jornal eletrônico Mídia Sem Máscara, ataca a Igreja afirmando, entre outras tantas coisas, que esta condena o "prazer sexual" e que demonstra autoritarismo ao condenar práticas como o aborto e o divórcio nas diversas nações européias.

Demonstra, quanto ao primeiro, ignorar a posição da igreja sobre a licitude dos prazeres sexuais, expressa já por S. Agostinho em De Bono conjugali, cap. XXV, "Respondemos suficientemente aos heréticos, se contudo compreenderem não ser pecado o ato que não colide com a natureza, nem contra os costumes, nem contra a lei", e convenientemente explicada por S. Tomás de Aquino em uma questão da Suma Teológica (IIa IIae q. 153, a. 2), de cujo RESPONDEO reproduzo o início:

"É pecado o ato humano contrário à ordem da razão. Ora, a ordem racional exige que tudo se ordene convenientemente para o fim. Logo, não há pecado quando racionalmente o homem usa de certas coisas, de acordo com o fim para o qual existem, de modo e em ordem convenientes, contanto que esse fim seja verdadeiramente bom. Ora, como é um verdadeiro bem conservar a natureza corpórea de cada indivíduo, assim também é um bem excelente conservar-se a natureza da espécie humana".

Se não parecer suficiente, recomendo a Ia IIae, qq. 31-34 da Suma, que formam todo um tratado sobre a questão dos prazeres. Sobretudo, recomendo a q. 34, a. 1, em que, após concordar com o velho Aristóteles, para quem "o prazer aperfeiçoa a operação", ensina S. Tomás: "...é bom o prazer que leva o apetite superior ou o inferior a repousar no que convém à razão; e é mau o que o leva a repousar no que discorda da razão e da lei de Deus." E para que não lhe pareça que são estas opiniões isoladas, remeto a S. Afonso de Ligório, o principal nome em teologia moral na Igreja, no que diz respeito à questão dos prazeres. Quanto à questão da licitude do sexo na doutrina da Igreja, por evidente, deixo de comentar.

Quanto ao segundo ponto, Cristaldo dá nova demonstração de ignorância: não é apenas por se opor aos preceitos da Igreja que Roma condena e tem de condenar aborto e divórcio, mas por serem também, um e outro, contrários à "ordem da razão" - independente da religião a que adira cada nação, independente de fazerem ou não profissão de laicismo, o mal moral será sempre um mal moral: a verdade não está sujeita nem à geografia nem à história e, por isso, tem a Igreja, já não digo o direito, mas o dever de clamar, ainda que todos governos europeus façam ouvidos moucos, Clama ne cesses, quasi tuba (Is 58, 1).

Essas duas questões são ilustrativas: com um autor tão equivocado, não se pode ingressar em uma discussão honesta. A ignorância em matéria cientifica, desqualifica para o debate científico; a ignorância filosófica, desqualifica para o debate filosófico. Infelizmente, no Brasil, a ignorância em matéria religiosa não parece deter os detratores da religião.

***

O sr. L. Valentin, que, grosseiramente, respondeu ao Protesto escrito pelo monge beneditino ao artigo supracitado de Janer Cristaldo (trata-se da "Reação 8"), já constitui um caso diferente: não se limita, em suas críticas, às habituais demonstrações de ignorância da doutrina e instituição que pretende criticar - e a qual, segundo o próprio, aderiu fervoroso durante 30 anos. Não, Valentin a crítica desde pontos simetricamente opostos: é contraditório. Pouco se lhe dá se um ataque anula o outro ou se um golpe desfaz o que o outro fez. - Não, para o autor, basta espernear.

Já no primeiro parágrafo denuncia a intolerância do monge. Não me atenho aqui ao fato do autor parecer confundir a tolerância civil ou política à chamada tolerância de pessoa, mas à incoerência de, já no parágrafo imediatamente seguinte, afirmar que "não discute com crentes de cabeça vazia" e, no terceiro, que Cristo teve "merecida morte". Tão rápido jogo de contradições não são mais que indícios de uma mente confusa e arrogante.

No parágrafo segundo, diz que não pretende defender Cristaldo, apenas para fazê-lo, ponto-a-ponto, nos parágrafos seguintes. No terceiro, ataca desrespeitoso pontos da vida e pregação de N. S. Jesus Cristo, que conheceu pelos Evangelhos, para questionar a historicidade dos mesmos apenas alguns parágrafos adiante. E por aí vai. Ora, o homem, além de contraditório, é pródigo em afirmações inacreditáveis:

No sexto parágrafo, perde todo senso das proporções, afirma estar em boa companhia e dá como exemplo... o Imperador Juliano (!).

Ora, meu caro, se a questão é companhia, tenha certeza que estamos em melhor: a superioridade moral e intelectual do Catolicismo será, a todos ateus, eternamente, o motivo maior de escarmento. Aponte-me os seus heróis e mártires, e nomearei muitos mais; aponte-me os seus sábios, seus artistas, seus filósofos - há melhores, muito melhores, entre os nossos. Quis negat?

Valentin lê mal, e por não ter compreendido o texto mesmo que pretende refutar, gasta todo um parágrafo para dizer que a cruz era sim instrumento de suplício no Império romano, o que é exatamente o que o monge havia afirmado.

E demonstra ignorância quando fala das Escrituras, ataca Pio XII ou lembra a Inquisição. Quanto ao último, repete toda sorte de calúnias do fabulário contemporâneo:

- "Foi ela quem calou a ciência. Foi ela quem instituiu o Index Librorum Prohibitorum.

Deixo a resposta ao prof. Olavo de Carvalho, que ambos devem conhecer, por ser o editor do Jornal eletrônico onde escreve Cristaldo:

"Basta examinar o Index Librorum Prohibitorum para verificar que nele não consta nenhuma das obras de Copérnico, Kepler, Newton, Descartes, Galileu, Bacon, Harvey e tutti quanti. A Inquisição examinava apenas livros de interesse teológicos direto, que nada poderiam acrescentar ao desenvolvimento da ciência moderna" (Olavo de Carvalho, Jardim das Aflições, pág. 42)

- "O papa Gregório IX instituiu oficialmente a Inquisição em 1232. Em 1252, o papa Inocêncio IV por sua bula Ad Extirpanda (nome bem sugestivo) autorizava a tortura "para quebrar a resistência dos hereges".

O nome da bula deve ser realmente bem sugestivo para quem não conhece nem latim, nem a história da Inquisição:
"A tortura era considerada um procedimento legítimo e praticada em toda parte desde a Grécia antiga. Durante quase toda a Idade Média, caiu em desuso, sendo reintroduzida na justiça civil graças à redescoberta - tipicamente renascentista - dos textos das antigas leis romanas. O que a Inquisição fez foi seguir o uso então vigente na justiça civil, mas limitando-o severamente, não permitindo que o acusado fosse torturado mais de uma vez e proibindo ferimentos sangrentos (v. Testas, op. cit). Deve-se portanto à Inquisição o primeiro passo efetivo que se deu contra o uso da tortura, o que deveria ser considerado um marco na história dos direitos humanos" (Olavo de Carvalho, Jardim das Aflições, pág. 43).

É interessante que, após tudo isso, o sr. Valentin ainda ache que somos nós que temos "preguiça de se instruir".

***

Não é preciso ir além: o texto é pueril, os ataques, infantis. Destacam-se - se é que se destacam - apenas pela grosseria. Valem como amostra do péssimo nível intelectual dos chamados "ateus militantes" - o próprio termo, contraditório, já denota o absurdo de sua posição. Encerro citando, mais uma vez, Olavo de Carvalho:

"A história do ateísmo militante é uma sucessão prodigiosa de intrujices. É que o ateísmo, em geral, é uma opção de juventude, prévia a qualquer consideração racional do assunto, e uma vez tomada não lhe resta senão racionalizar-se a posteriori mediante artifícios que serão mais ou menos engenhosos conforme a aptidão e a demanda pessoal de argumentos. Não se conhece um único caso célebre de pensador que tenha chegado ao ateísmo na idade madura, por força de profundas reflexões e por motivos intelectuais relevantes. Ademais, toda fé religiosa coexiste, quase que por definição, com as dúvidas e as crises, ao passo que o ateísmo militante tem sempre a típica rigidez cega das crenças de adolescente. O ateísmo militante é, por si, um grave sinal de imaturidade intelectual." (Jardim das Aflições, pág. 127)

Não podemos considerar, quer o artigo do Cristaldo, quer a réplica de Valentin, um perfeito exemplo da intrujice dos ateus?

(Alexandre Bastos)

segunda-feira, outubro 17, 2005
 
"EU NÃO VIM TRAZER PAZ,
MAS ESPADA"




O Brasil é um país curioso. Você é tributado para garantir sua assistência médica... e tem de pagar mais um seguro de saúde privado se quiser de fato garanti-la. Você paga impostos para garantir educação pública... e tem de pagar educação privada, se tiver algum apreço pela educação de seus filhos. Você paga caro ao Estado pela sua segurança... e tem de pagar mais caro ainda a serviços privados de segurança, se quiser viver em segurança. Há muito venho defendendo a tese de que sonegação fiscal, nestas circunstâncias, é um dever cívico. Ao pagar impostos, você está apenas alimentando uma cadeia incomensurável de corruptos, que cobram por fora até mesmo para votar leis, leis que geralmente visam escorchar o contribuinte ainda mais. Esta generosa cadeia alimentar começa com gordos mensalões a deputados em Brasília e vai se diluindo em mensalinhos nas instâncias inferiores. O que importa, para o bem-estar geral do poder, é que todos seus acólitos sejam bem alimentados.

Domingo que vem, o governo propõe à nação uma farsa monumental, montada para disfarçar sua incapacidade de garantir aos cidadãos segurança, o referendo sobre comercialização de armas no país. Com a última pesquisa do Ibope, segundo a qual 49% dos entrevistados disse não à proibição da comercialização e apenas 45% disseram sim, os luminares responsáveis pela consulta já estão intuindo que esta idéia pode resultar em gol contra. Como besteira atrai besteira, já estão planejando uma segunda: intensificar a propaganda a favor do sim à proibição. Depois que Lula chegou ao poder graças à marquetagem de Duda Mendonça, o PT passou a considerar toda decisão popular uma questão de propaganda. Mas parece que nem mesmo os tais de artistas - venais como todos os dependentes de mecenato - estão conseguindo convencer os eleitores das razões do governo. Estima-se em 500 milhões de reais o custo desta consulta, que seriam muito melhor empregados em segurança para a população. É uma consulta exótica: pergunta-se ao cidadão se ele quer renunciar a um direito sagrado, o direito à legítima defesa, aliás uma das cláusulas pétreas da Constituição. Sem armas, como defender-se? A tapas?

É também uma consulta estúpida: se se proíbe a comercialização de armas no país, nada impede que quem quer armas as traga do exterior. (Como se fazia nos dias de reserva informática. Os computadores brasileiros eram caros e vagabundos? Bastava um telefonema para o Paraguai e no outro dia você recebia, em casa, uma boa máquina a bom preço). Tampouco impede, por exemplo, que eu dê armas de presente a um amigo. Ou a meus clientes: você compra um caniço e leva um fuzil de brinde. Até aí, não houve comercialização. No fundo, o governo está jogando ao lixo 500 milhões para decidir qual seja o sexo dos anjos.

Tenho recebido um bombardeio de mails, com textos e declarações pró e contra a proposta do governo. Curioso observar que a maioria trata o referendo como uma discussão sobre desarmamento, quando em verdade se discute a comercialização de armas. O desarmamento, em verdade, já foi efetuado pela lei n° 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Nos mails que recebo, besteiras e sofismas dos dois lados.

Os defensores do livre comércio de armas alegam que a proibição das mesmas é típica de governos totalitários, que querem desarmar a população para mantê-la indefesa ante os abusos do poder. Tem-se a impressão de que os brasileiros, se armados estivessem, reagiriam energicamente ante tais abusos. Ora, vivemos em um país em que o governo escorcha o contribuinte com impostos abusivos, compra deputados sistematicamente para impingir seu arbítrio, enfia a mão no bolso dos aposentados, mediante medidas flagrantemente inconstitucionais, tudo isto para fazer a fortuna de seus áulicos e familiares.

Vivemos em plena cleptocracia, administrada por um ex-operário malandro e analfabeto. Qual a reação dos cidadãos? Lula ainda continua com chances de reeleição em 2006. Povo vil não precisa ser desarmado para manter-se dócil ao poder. Basta um esmolinha mensal para comprar seu voto. Povo culto é outra coisa: por um mero imposto sobre o chá, os colonos norte-americanos declararam sua independência.

Um dos argumentos mais falaciosos empunhados pelos defensores da proibição foi repetido, na Folha de São Paulo de ontem, por Dalmo Dallari: "onde o comércio de armas é absolutamente livre, dando aos cidadãos toda a possibilidade de autodefesa, o número de crimes contra a pessoa e o patrimônio é muito alto". Parece que o ilustre e renomado jurista nunca ouviu falar da Suíça, onde o porte e a compra de armas são livres e onde cada cidadão guarda em casa a arma regulamentar do Exército. Índice de homicídios: uma morte a cada 100 mil suíços. No Brasil, onde as restrições a porte de armas já são severas, este índice é de 29 por 100 mil habitantes.

Mas o prêmio de maior ridículo talvez caiba aos diferentes grupos religiosos do país, que defendem o voto pelo sim à proibição de armas, sempre ostentando a bandeira da paz. "Nossa participação não foi só na coleta de armas, mas também visa à conscientização das pessoas de que é preciso desarmar-se também dos pensamentos belicosos, que precisamos promover a construção da cultura da paz", afirmou ontem o pastor Ervino Schmidt, secretário-executivo do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic). Entre os mails que recebi destas facções, alega-se que a paz de Cristo não combina com armas, afinal Cristo mandou Pedro embainhar sua espada, quando este cortou a orelha do servo do sumo sacerdote. Esquecem estes senhores - ou propositadamente omitem - que foi o mesmo Cristo quem disse: "Não penseis que eu vim trazer a paz sobre a terra. Eu não vim trazer paz, mas espada". Disse ainda a seus discípulos: "quem não tiver espada, venda o seu manto e compre-a". Curiosamente, estas passagens de um Cristo belicoso, que defende enfaticamente o uso das armas, não foi aproveitada pelos defensores do não.

O Estadão de ontem houve por bem entrevistar quem realmente entende de armas, os assaltantes. Algumas respostas de oito acusados de assaltos à mão armada:

- Quando é para roubar, rouba. Se ladrão tivesse medo, não roubaria carro-forte. Não tem tanta gente armada dentro e assaltam do mesmo jeito? - disse um rapaz de 25 anos, preso por roubo.
- Se fosse eu, não confiava nisso de que arma defende cidadão - disse um outro -. Se souber que tem arma, já fico preparado. Qualquer movimento da vítima você pensa que ela vai pegar a arma e fica mais fácil assassinar a pessoa. Não que a gente queira, mas você sabe, né? É o mesmo que roubar policial. Sabendo que tá armado, você atira. Porque ele atira pra matar.
- Quem saca primeiro é o dono da festa - diz Rafael, de 23, também condenado por tráfico. Para ele, com o fator surpresa, é difícil ladrão levar a pior. Vítima armada intimida? - Não tenho medo de nada. Só de Deus que, quando põe a mão, é profundo.
- Se a vítima atirar, tem mais três ou quatro guerreiros para segurar - diz João, 37 anos.

Ou seja: com armas ou sem armas, o cidadão continuará desprotegido e mal pago. Minha posição ante essa pergunta idiota? Apesar de minhas sérias desavenças com este cavalheiro, fico com o Cristo.

 
REAÇÕES (8)





A D. Fleichman

D. Lourenço Fleichman OSB, em seu "Protesto' nesta página, vem em defesa da cruz, símbolo de sua religião, fazendo o possível para disfarçar sua intolerância e passar uma mensagem de vestal ofendida.

Não costumo debater com simples crentes de cabeça vazia; como disse anteriormente, é perda de tempo querer que a razão vença a crença única e fanática. Jonathan Swift já declarara: "é inútil tentar fazer um homem abandonar pelo raciocínio aquilo que não adquiriu pela razão". Por outro lado não tenho procuração de Cristaldo para defendê-lo e nem o faço, apesar de aplaudir sua cultura e postura. Apenas julgo não poder deixar sem resposta algo que se baseia em um embuste fenomenal e quer se passar por luz da verdade, feito por uma..., digamos, autoridade.

Primeiramente, D. Fleichman, cristo é uma palavra que vem do grego e significa "ungido". É um sofisma bem ao gosto dos religiosos criar relações que não existem e com elas montar o alicerce de uma teoria. Portanto, como era costume ungir-se os reis com "óleo sagrado", disseram isso também do "rei dos judeus". Se a etimologia de Cristaldo vem de cristo, significa simplesmente que ele também é um ungido. Com a diferença que é palpável e deixa suas idéias escritas, ao contrário do outro ungido que nada escreveu, por não saber escrever ou por não ter tido tempo entre seu ataque alucinógeno de que era deus e sua merecida morte. Poderia ter escrito algo, antes dos 30 anos, mas estava preocupado com outras atividades que Celsus em seu Discurso contra os Cristãos nos narra pormenorizadamente e que Orígenes em seu Contra Celsus tenta negar com argumentos infantis e inconsistentes.

Cristaldo pode também vir de cristal que vem do latim crystallum, que significa gelo, vidro transparente; ou de crista que vem do latim crista, que significa cume, cimeira. Nada a ver, novamente com o falecido "deus dos judeus". Nome é convenção, meu caro frade, e não faz a pessoa. As vezes, provém da ex-profissão do dono, como, por exemplo, açougueiro. Ao se enveredar por essa linha de raciocínio, perde-se a conta de quantos Jesus crápulas existem no Brasil, que possuem o nome do crucificado e não são flores que se cheirem, ou quantos profissionais não mais praticam o nome que têm. Outro exemplo é o hilariante INRI CRISTO do Paraná, que se diz a própria encarnação do "salvador". Nomes são apenas nomes e Cristaldo, talvez, somente aos fanáticos, sempre lembre a cristo, o crucificado.

Outra expressão sem nexo, "carrega no nome a cruz de cristo". Como o bom frade chegou à tal conclusão? Provavelmente não chegou e a usa como gancho para introduzir a arenga que vem a seguir. E, nos diz que Cristaldo apostasiou. Eu também, caro frade. Minha história é longa e minha apostasia, depois de passar 30 anos vivendo o mais rigoroso catolicismo (imposto por um espanhol rigoroso que foi irmão marista até os 40 anos), aconteceu naturalmente, como conseqüência de ter descoberto que minha vida religiosa era pautada por um conhecimento proveniente de uma única fonte. Não pode existir acerto ao se decidir ouvindo somente um lado da história. Paradoxalmente foi buscando conhecimentos para rechaçar (sem ss) os detratores do catolicismo que desci às raízes do cristianismo e, voilà, ao invés de encontrar Jesus, encontrei Mithras e Ahura Mazda, no lugar de Maria, conheci Cibele e Anahita. Onde estava Moisés, havia a sombra de Gilgamesh e Abraão de Ur era um pictograma de Zaratustra.

Estamos em boa companhia, muitas personalidades - entre as quais o grande imperador Juliano que disse a respeito de seus antigos companheiros de fé, "o vosso quinhão é a ignorância; todo o vosso saber consiste em ficar repetindo, estupidamente, creio" - são também apóstatas.

Adiante, usando um jargão batido, o nobre monge esgrime outro gancho: "deus fala" . Deus fala ou os padres falam? Ou os pastores falam? Ou os rabinos falam? Ou os mullahs falam? Ou os médiuns falam? Eles falam de amor ou falam de dízimos? Falam de qual verdade? Dos evangelhos?

Esses merecem uma história a parte, mas por ora fiquemos somente com uma pergunta ao enfurecido monge: Onde estão os originais dos evangelhos "escritos" pelos "evangelistas"? Descartando-se alguns fragmentos datados dos séculos II e III (Papiro P1 contem Mt 1, 1-9, 12, 13, 14-20, Papiro P2 contém Lc 1-5, Papiro P8 contém Atos 4-6, Papiro P13 contém Hb 2-5, 10-12, Papiro P46 várias porções do Antigo e Novo testamento) nada mais existe, principalmente os ORIGINAIS escritos pelos evangelistas no primeiro século, não é mesmo, meu caro?

A própria igreja nos fornece a biografia dos evangelistas sempre alertando que "conta a tradição". Não existem provas de sua existência. Não existem originais dos evangelhos. Tudo foi escrito depois do século IV - 400 anos depois - pelos sacerdotes mitraicos de Roma, que foram obrigados a aceitar a nova religião do império. O que existem são as cartas de Paulo, que escreveu o que lhe deu na telha. O cristianismo devia chamar-se paulismo ou saulismo (pois o verdadeiro nome do judeu Paulo era Saul - nada de Saulo) Mas, o aleijão Paulo não foi crucificado e para dar credibilidade à crença manda o figurino que sempre haja sangue derramado.

A justificativa usada pelo cristianismo para autenticar os evangelhos é a débil teoria da "inspiração divina" que, na falta de documentos e provas concretas, forneceu ao hagiógrafo o dom de escrever o que deus lhe soprava no ouvido. A fé exige a castração do pensamento, que deve se contentar com tais migalhas!

Adiante, novamente, o dileto monge assaca sofismas ao tentar desmentir que a cruz não era instrumento de suplício dos romanos. Fazer isso demonstra má fé, pois temos certeza que o religioso conhece bem a história do Império Romano. O cristianismo usou a cruz para matar, sim! Que foram as Cruzadas? Piquenique? Qual é a diferença entre o Nero e o papa , quando um utiliza a cruz para guerrear contra fanáticos insurgidos contra a religião oficial do império e outro utiliza a cruz para fazer guerra contra os que brandem a meia lua (ou a cimitarra, se quiserem)? Nenhuma, meu caro. E nada de dizer que os cristãos do tempo de Nero liam livros sagrados. Primeiro, a plebe não sabia ler, e segundo, não havia livros. Havia pergaminhos e papiros. Eram tão raros e caros, pois se destinavam a uma diminuta elite que sabia ler; e os papiros não duravam mais que 100 anos.

E, sem qualquer objetivo prático, a não ser atingir a parte emocional do leitor vem descrever o tipo de morte, com cheiro de carne queimada. Aí, o prezado monge se contradiz, ao dar crédito a historiadores que diziam que os corpos estavam sobre cruzes. Então a cruz era mesmo instrumento de morte, certo, D. Fleichman?

Como não poderia deixar de faltar, o nosso bravo monástico faz citação do seu "livro sagrado', citando... Paulo. Nada de touché (é)! Vamos deixar bem claro sobre o que contém tais livros e como foram escritos. Um só exemplo.

A Vulgata escrita por Jerônimo por volta do ano 302 é a base da Bíblia dos cristãos. Eis o que nos conta Cesare Cantu - católico fanático, mas com uma erudição inigualável - na sua estupenda História Universal, totalmente aceita pela Igreja católica, que liberou a sua publicação somente após criteriosa análise: "O papa Damaso encarregou-o de rever a versão itálica dos Evangelhos, reputada a mais fiel, porém que as interpolações e as alterações haviam corrompido. Aqueles que possuíam um exemplar do Evangelho tinham o costume de anotar à margem, as variantes que achavam noutros, às vezes até simples tradições orais. Pouco a pouco os copistas distinguindo mal o texto primitivo das anotações, foram transcrevendo tudo e daí resultaram, segundo expressão do próprio Jerônimo, não mais quatro Evangelhos, porém quatro concordâncias dos Evangelhos". Se a isso juntarmos a inépcia de alguns desses copistas, a presunção de outros que imaginaram fazer correções de sua cabeça, necessariamente compreendemos que a forma primitiva do livro sagrado se houvesse de achar singularmente mudada.

Jerônimo, tendo empreendido expurgá-lo desses elementos heterogêneos, recorreu primeiro aos textos gregos mais antigos, talvez os de Panfílio e o de Orígenes. Porém, não teve paciência para corrigir todas as passagens que reconheceu terem sido alteradas pela comparação, de sorte que em algumas partes seu comentário não está em relação com a revisão... Durante quinze anos, aplicou-se em fazer a tradução de Antigo Testamento....Fez-se então uma guerra muito viva à sua tradução, que não obstante, adotada pela Igreja, com exclusão da antiga Vulgata, veio a ser o fundamento daquela que o Concílio de Trento declarou autêntica.

Jerônimo conta que os Nazarenos de Beroi, na Síria, lhe deram uma cópia de um evangelho sírio-caldeu, que traduziu para o latim e grego. Era intitulado "Segundo os Egípcios ou Segundo São Mateus". Mas como se perdeu, não sabemos se era o original do deste evangelista que possuímos em latim ou um quinto evangelho. A última suposição é a mais provável, segundo a acusação que Teodoro de Monpsueste fez contra São Jerônimo, de ter composto um novo evangelho." (os grifos são meus).

Será que houve manipulação?
Vamos pois, para um exemplo mais recente: Veja a A Bíblia Sagrada, do padre Antonio Pereira de Figueiredo ou qualquer Bíblia católica publicada antes de 1950. Leia o que diz o versículo 15 do capítulo 1 do livro Eclesiastes. Eis o texto: "Os perversos dificilmente se corrigem e o número de tolos é infinito". Agora, tome uma Bíblia católica de edição recente e leia o mesmo versículo 15 do capítulo 1 do Eclesiastes. Mudou! Deus falou novamente e agora o tal versículo está assim: "O que é torto não pode ser endireitado e o que falta não pode ser levado em conta". Será que os nobres escreventes julgaram que o número de tolos que acreditam neles é infinito e que não era saudável ficar divulgando tal detalhe? Quantas outras passagens foram alteradas nesses 20 séculos, ao gosto dos mandatários de Roma?
Portanto, D. Fleichman, arranje novos argumentos. Citações de seu livro sagrado só surtem efeitos na aridez do intelecto de seus crentes. Para cabeças pensantes não têm validade.

Outro ponto a destacar é a visão errônea e simplista do religioso quando diz que se ataca com ódio a religião. Não é ataque. É constatação dos fatos. Como vai de encontro à sua crença, é interpretada como ódio e crime de lesa pátria. Temos o direito de dizer que Jesus foi crucificado merecidamente e de forma vil. Não temos ódio dele nem daquilo em que se transformou uma religião em seu nome.

Tenho em mãos o Manual do Inquisidor, escrito pelo frei dominicano Nicolau Eymerich em 1376. Depois revisado por Francisco Peña e editado em Roma em 1578. O frei Fleichman decidiu mudar a história ao perguntar onde está a autorização do papa para a Inquisição. Negar isso seria negar a própria fogueira, que torrou corpos de "hereges" de 1232 a 1838 (Napoleão extinguiu a inquisição na França em 1808, que voltou a vigorar após ele; em Portugal e Espanha durou até 1838). O papa Gregório IX instituiu oficialmente a Inquisição em 1232. Em 1252, o papa Inocêncio IV por sua bula Ad Extirpanda (nome bem sugestivo) autorizava a tortura "para quebrar a resistência dos hereges" . Em 1542 o papa Paulo III instituiu definitivamente a "Sagrada Congregação da Inquisição Romana e Universal do Santo Ofício" . Mesmo que não houvesse tais esmagadoras evidências, ao correr de séculos de churrasco de hereges, será que nenhum papa, sabedor de tais fatos e desaprovando-os, não teve a sensatez de mandar parar?
Realmente, Frei Fleichman, ninguém "mandou matar para espalhar o cristianismo", mas mandou matar quem não aderia ao mesmo, ou era seu opositor ou não acreditava nele ou tinha bens a serem confiscados. Mesmo efeito para um jogo de palavras malicioso. Aqui, D. Fleichman, somente vós sois o mentiroso.

Continuando, Frei Fleichman nos fala da história do Brasil, num parágrafo incoerente e sem sentido. Os portugueses rezaram missa e batizaram a terra de Santa Cruz. E daí? O que isso prova? O prezado monge não esperaria que os portugueses católicos fizessem um sacrifício a Baal e batizassem a terra de Tartarus, pois não?

Vale a pena relatar que além da cruz, trouxeram a sífilis, a peste bubônica e a gripe que dizimaram os índios. Nóbrega e Anchieta pouco puderam fazer - se dedicaram a isso, não se nega - para livrar os índios da escravidão. Um esforço inglório que não produziu resultados práticos. Quanto a Pombal, um dirigente de escol, se cometeu erros, certamente que não hão de tirar o brilho de seus acertos, principalmente o de abolir a Inquisição em Portugal em 1838. Pelo que se depreende da análise de Frei Fleichman, o catolicismo no Brasil não foi muito eficaz. Perdeu o trabalho de 400 anos por apenas 100 anos de governo ateu. Alias talvez os governantes ateus estejam agora aplicando os ensinamentos do papa Pio X, que declarou em 1904: "Somente o colégio dos pastores tem o direito e a autoridade de dirigir e governar. A massa não tem direito algum a não ser deixar-se governar qual rebanho obediente que segue o pastor". Isso é Pio X, no século vinte. Não foi Alexandre Bórgia no século XVI.

Será essa a dignidade devolvida ao pobre, frei Fleichman? Uma religião que prega uma perversa e cruel resignação do pobre diante do seu sofrimento; que prega a passividade e não reação à violência; que induz o pobre a aceitar a exploração do poderoso sem reclamar, pois tal atitude lhe garante o lugar em uma utópica vida, em um local transcendental e imaginário depois da morte? E, caso contrário, a certeza de queima eterna no inferno? Os séculos que vão até a Renascença na Europa, com os sistemas de governos teocráticos incentivando e se aproveitando dessa fé irracional e desse terrorismo psicológico incutidos na massa, é um belo período exemplar de que, e a que serviu, esse mitraísmo disfarçado em cristianismo. Será isso apascentar os cordeiros? E desde quando a mulher foi liberada, antes do século XX? D. Fleichman deve estar fazendo chiste.

A cultura na Europa, talvez estivesse imensamente mais aprimorada se não fosse travada durante séculos pela Inquisição - não se pode relegar tal instituição a um plano secundário. Não é possível esquecê-la, frei Fleichman, devido à sua duração e a monstruosidade de seus efeitos em todos os campos da atividade humana. Foi ela quem calou a ciência. Foi ela quem instituiu o Index Librorum Prohibitorum. Foi, essencialmente, uma mantenedora de trevas. Não se pode apagar tal estigma. Nada é oferecido em contrapartida para isso. Monumentos? Igrejas? Estátuas? Os pagãos os fizeram, desde a Antigüidade, em maior quantidade, com mais arte, e com mais beleza. Veja o antigo Egito, a Grécia com a Acrópole e a própria Roma, que nos mostra até hoje Pantheon, o Foro Itálico, o Coliseum, entre tantos outros.

E mais: se Constantino não tivesse se convertido por razões políticas - a principal é que a plebe na sua totalidade estava convertida - o mundo hoje seria mitraico, como diz Franz Cumont. Nesse caso, Michelangelo teria reproduzido a criação de outra forma e Bach teria composto as mesmas obras e oratórios comemorando o Taurobolium ou as cerimônias ao deus Sol.

Adiante, D. Fleichman, nos apresenta argumentos baseados em lógica de botequim. Colocar Hitler e Stalin nessa discussão é como colocar Pilatos no Credo. Quem é a Igreja católica para falar de licitudes? Aguardamos até hoje a censura de Pio XII ao nazismo. Quem foi um dos grandes (entre outros tantos) responsáveis pela instituição do maior grupo estelionatário e corrupto do país, o PT? D. Evaristo Arns! Lógica de botequim por lógica de bar. Então, seria respeitar o ser humano o que fez Cortéz, grande católico, com os povos da América central? A igreja conclama todos os homens a usarem a inteligência ou realmente cumpre o que determinou Pio X? Alguém aqui precisa calar-se, não por ignorância, mas por disseminação premeditada de desinformação.

O cristianismo (e outras religiões) é fruto da ignorância, da preguiça de se instruir e do aproveitamento cruel do cacoete emocional do ser humano de querer livrar-se da morte. Deve seu nascimento ao Império Romano e seu sucesso a métodos brutais - físicos e psicológicos - para manter o rebanho ignorante e unido. Erraram os judeus e romanos ao pressagiarem a sua decadência.

Enquanto for mais fácil, mais acessível e menos trabalhoso - pensar exige trabalho - ficar repetindo estupidamente "creio", a classe de parasitas que sobrevive do suor da massa inculta, dando a ela, em troca de dinheiro sonante e temporal, um abstrato terreno celestial, vai continuar a existir com sucesso.

Vida longa e próspera, D. Fleichman!

L. Valentin

17-10-05
viewcaos2003@yahoo.com


domingo, outubro 16, 2005
 
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Olá, Cristaldo!

Realmente, o conhecimento, definitivamente, não é o quinhão da maioria. A ignorância se ofende quando fica a descoberto. O ser humano se debate e luta ferozmente para defender conceitos primários adquiridos unilateralmente e aceitos como definitivos, simplesmente por ignorar - muitas vezes propositadamente - a existência de outras versões.

Quando mostramos que existe um - ou vários - lados a se considerar nesses assuntos polêmicos, o revide vem sob forma de acusações, vade retro, ofensas e outros impropérios, pois tal visão é a suprema heresia.

Ao mostrarmos nossa posição adquirida com estudo, conhecimento, análise crítica, raciocínio lógico, somos anatemizados justamente por ter procedido assim. Ninguém mandou fazer nada mais além do que crer. Todos que vão além são anormais, estranhos no ninho e devem ser rechassados de forma rigorosa para que seu exemplo não seja seguido.

Aprendi que, apesar de incessantemente continuar mostrando a lógica, não devemos ficar lançando pérolas aos porcos (opa! já li isso antes) pois o que lhes interessa, no máximo, são grãos de milho. Por outro lado, é difícil ficar calado pois, parafraseando Goethe "não há nada mais terrível que ver a ignorância em ação!"

Também apoio o banimento o instrumento de tortura romano das paredes públicas e faço de suas palavras, as minhas.

Parabéns!

L. Valentin

 
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Em termos comparativos, alguns acreditam que a morte na cruz seja o pior passamento e assim a cruz poderia servir de um consolo tosco, como o consolo de dizer que existiram mortes piores. Enterrar um parente e assistir a tortura de um judeu, para alguns, pode ser confortante. Ainda que esta tortura tenha ocorrido há mais de dois mil anos.

De outro modo, num tribunal de justiça, lembrar a punição de crime de lesa-majestade às partes de um processo, pode também servir de lembrete que o direito romano, antes de tudo, tem a função de punir! E a cruz foi uma punição exemplar para mais de dois mil e quinhentos condenados que ousaram desafiar a superioridade do Triunvirato. Povinho infame este que tentou contestar! Pelos menos duas mil e quinhentas mortes na cruz foram registradas pelos historiadores, daqueles que ousaram este contestamento!

Lamentavelmente, não sobrou muita coisa do Império Romano! Talvez o Vaticano lembre aquele grande império, que sabia antes de qualquer outro, criar marcas, símbolos, linhas de pensamento e adaptar-se às modernidades, como a literatura grega em sua construção dramática!

Veja o Brasil! Aqui, os índios foram convertidos pacificamente! Após morte dos adultos, as crianças indígenas foram educadas segundo os preceitos católicos. Além disso, as meninas índias recebiam dos padres os nomes para seus filhos de pais desconhecidos! Quer caridade maior que esta? Os negros, de modo muito pacífico, também, tiveram sua liberdade religiosa. Transformaram seus orixás em santos que até hoje se confundem com os santos de outra religião!

Mas não ficaria bem adaptar, num tribunal as penas da inquisição com seus símbolos! Ora, isso não seria algo de beleza plástica, algo fácil de ser estampado às paredes! Imagine, pois, refletir fogueiras, forcas, óleos quentes e outras formas cristãs de expurgar pecados! Ai da Europa que viu soldados bárbaros invadirem seus territórios com outras linhas de pensamento e com isso, outras religiões. Não podem ver que isso fez de muita gente heróis de uma engenharia humana, capaz de criar religiões híbridas?

Então para o juiz Arriada Lorea, remover um símbolo religioso, ou do direito romano, ou de tortura, ou de Estado submisso a parcialidade religiosa, faz com que questões morais e de direito estejam separadas. Isso incomoda àqueles que acreditam que a lei deve obedecer às crenças, antes de servir a sociedade.

Manifesto meu apoio a remoção de símbolos religiosos de repartições públicas ou órgãos estatais.

Egle Figueiredo
http://eglef.blogspot.com/

 
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Gostaria de manifestar meu apoio a suas posições. Enquanto liberal, é realmente um pé no saco ver a promiscuidade de boa parte dos colunistas do MSM com o catolicismo. Afinal, liberais supostamente deveriam simpatizar com liberdades individuais, e o laicismo é um dos passos mais importantes pra isso.

Bruno Benedini

sexta-feira, outubro 14, 2005
 
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Artigo de Janer Cristaldo sobre a Cruz

enviada em 10/10/2005

Discordo do teor do artigo do sr. Janer Cristaldo "A Cruz e a Toga". A Cruz simboliza o sacrifício de Deus pela humanidade e não faz apologia à tortura. Se parte das repartições públicas ostentam o símbolo cristão em suas dependências, o fato se deve à tradição cristã do nosso país. Ser laico não pressupõe negar nossas raízes mas, por outro lado, dependendo da interpretação adotada por certos indivíduos, o laicismo pode desembocar em pura intolerância contra a religião, seja ela qual for.

Ademais, a maioria da população continua católica e tolerante às diferenças. Basta verificar os símbolos maçons espalhados na entrada de muitas cidades do interior de São Paulo, por exemplo. Quanto ao aborto, trata-se de um assassinato de um ser humano indefeso e inocente. E ninguém tem o direito de decidir sobre a vida ou a morte de alguém nessas condições, seja católico, ateu ou à toa.

Por derradeiro, quanto ao comentário de uma hipotética debandada de católicos se só eles fossem presos em caso da prática de aborto, lembrei-me de Chesterton: "A Igreja Católica é a única que aceita todos os tipos de pessoas, inclusive as mais respeitáveis'. Contudo, há pessoas respeitáveis, corajosas e coerentes no rebanho! Mas de que servem esses testemunhos para alguém tão obcecado como o sr. Janer Cristaldo?

Alex Silva

 
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PROTESTO
sobre um artigo do Mídia sem Máscara (A Cruz e a Toga)

Dom Lourenço Fleichman OSB

O nome do sujeito é CRISTALDO. Janer Cristaldo. Carrega no nome a Cruz de Cristo. Vá que talvez o pai o tenha assim chamado por outros motivos. Cristaldo rima com cristal, é verdade. Mas querendo ou não querendo, na nossa língua portuguesa, Cristaldo vai sempre lembrar Cristo.

Apesar do nome, o sujeito é ateu. Era católico, mas apostasiou. Acontece nas melhores famílias. Podia ser um ateu indiferente a Deus, indiferente ao Evangelho ou ao modo como Aquele que lhe emprestou o nome foi morto. Mas não. Seu ateísmo é daquele tipo "religioso". Só pensa em Deus, só fala de Deus, mas sempre com o sinal negativo. Onde esse mesmo Deus fala de Amor, Cristaldo distila o ódio. Onde Deus fala da Verdade, Cristaldo prefere a duplicidade religiosa. Hoje, Cristaldo cospe na Cruz de Nosso Senhor e enaltece outras religiões para contrapor ao catolicismo. Mas não deixa de dormir por ontem ter cuspido nessas mesmas religiões que hoje utiliza contra Cristo. Abram o blog do escritor para verificar:

"Devido à imigração africana, o islamismo vai lentamente contaminando o continente, com suas mesquitas e práticas, algumas delas inconcebíveis em país que nutra algum respeito pelo ser humano. Na Itália, berço do catolicismo, a segunda religião em número de praticantes já é a muçulmana, com um milhão de fiéis. Fiéis que não se contentam em virar o traseiro pra lua e invocar Alá, mas querem impor modificações na legislação vigente."

No caso do artigo publicado no site Mídia sem Máscara nesta segunda-feira, 10 de outubro, o autor queria apenas explicar porque concorda com o juiz gaúcho que propôs a retirada dos crucifixos das salas dos tribunais. Se Cristaldo fosse um ateu comum, poderia apoiar a opinião do juiz gaúcho tomando como argumento, como faz adiante, o caráter pluralista da constituição nacional, ou evocando sua crença na indiferença religiosa. Mas Cristaldo é um daqueles ateus que "acreditam" furiosamente no anti-Deus. Por isso levanta-se como numa guerra de religião, com a violência típica dos fanáticos religiosos, para destruir até mesmo a idéia de uma Cruz. Joga nela toda a lama que encontra ao redor de si, mas não consegue seu intento. Ousa levantar falso contra a Igreja invertendo o papel da Cruz. Que seja um símbolo infame no paganismo romano é uma coisa. Mas dizer que o Cristianismo usou a Cruz para matar é uma deslavada mentira e um sacrilégio. Vem este filho da Cruz dizer que "para os romanos era um utensílio para a execução de sentenças". Pronto! Nero e os demais imperadores que massacraram os cristãos, ficam aqui transformados em bonzinhos governantes defendendo seu povo desses ogres monstruosos que lêem um livro sagrado que fala do Reino dos Céus. Os historiadores da época eram mais bem informados do que o sr. Cristaldo. Contam eles que o cheiro dos corpos sendo queimados sobre cruzes ao longo das estradas que levavam a Roma era insuportável. E vem o furibundo Cristaldo dizer que foram os católicos que usaram a Cruz para matar!

"A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina... mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos" (1Cor.1,18 e 23). Touchê!
Talvez num divã de analista ele chegasse à conclusão, ajudado pelo psicólogo, que o problema está no nome. Por mais que tente afastar a idéia de Cristo, ela se apresenta a ele em cada assinatura, cada vez que puxa a carteira de identidade. Daria trabalho ao analista fazer a regressão que deu origem à patética descrição do velório de sua falecida esposa. Todos os elementos de um recalque estão ali presentes: o símbolo, a impotência, a repulsa pela realidade simbolizada:

"Eu levava o corpo inerme [inerte, queria ele dizer?] de minha amada à capela do crematório e lá estava ele, desnudo, obsceno e sujo de sangue, braços estendidos, dominando aquele recinto fúnebre, com um ar de quem há séculos se sentia muito à vontade naquele madeiro, sempre pairando sobre cadáveres.
Minha reação foi imediata: "tirem isso daí e já!" Os funcionários, surpresos com meu gesto irado, não sabiam como reagir. Mas acabaram dando um sumiço na imagem do judeu."

Num primeiro momento senti o tapa no rosto, a falta de respeito, a língua obscena condenando como obscena a nudez sofrida e inocente do Salvador. Lembrei-me do salmo: "Não se regozijem de mim meus pérfidos inimigos, nem tramem com os olhos os que me odeiam sem motivo, pois nunca têm palavras de paz" (Sl. 34, 19-20). Depois pensei em convidá-lo para uma conversa amena, mas não me parece ser o escritor capaz de tratar de um assunto desse sem se perturbar. Eu mostraria ao sr. Cristaldo que sua retórica perde todo o valor quando deixa seu coração mostrar o ódio e alguma coisa presa dentro de sua alma. Não imagino por que espécie de sofrimento passou este homem para jogar fora a fé do seu batismo com tanto ódio à Religião que nos traz a salvação. Foi beber nos livros de história, nos intelectuais espalhados pelo mundo que, antes dele, já deram sua contribuição às calúnias, cusparadas e lamas jogadas contra a Igreja Católica. E lá vem eles novamente.... Inquisição, Cruzadas, fogueiras. Porque não cita os documentos papais ordenando a tortura, a fogueira? Porque não cita algum livro, alguma frase tirada da boca dos santos católicos determinando que se mate para espalhar o cristianismo? Não cita porque não encontra, porque não existe. E por isso é mentira o que diz este senhor.

Sr. Cristaldo, o senhor diz que "o Brasil é um país multi-religioso". Só esquece de contar a história verdadeira do Brasil. Porque não lembra aos seus leitores que esses mesmos portugueses que trouxeram a civilização européia inauguraram a vida pública brasileira com a Santa Missa? E que o nome escolhido foi Terra da Santa Cruz? Essa mesma Cruz que o senhor rechaça, mas que carrega no nome, é o nome glorioso da nossa terra, da nossa Pátria. Porque não fala de um Padre Manoel da Nóbrega, de José de Anchieta, dos jesuítas que salvaram os índios das hordas de portugueses, franceses, espanhóis, aí pertinho do senhor, nas reduções guaraníticas? Porque não conta que esse Brasil só se tornou "multi-religioso" quando a maçonaria começou a ganhar a batalha, quando Pombal destruiu a civilização dos índios católicos, abandonados e massacrados pelo governo anti-católico português? Multi-religioso ele se tornou quando a maçonaria se instalou no governo do Visconde de Rio Branco, conseguindo mais tarde derrubar a monarquia e realizar a separação da Igreja e do Estado. Dos quinhentos anos de existência do Brasil como nação civilizada, apenas cem anos foram vividos sem a alma católica, num governo ateu e sem Deus. E quais os resultados desses cem anos, senhor? Esta é a tal democracia laica que os senhores pregam? O drama que vive o Brasil hoje foi causado por este século "multi-religioso".

E o que dizer da Europa? O que significa "um flagrante acinte à Europa" ? Seria este continente o berço da civilização ocidental se não tivesse sido "conquistada" à fé católica? Quem colocou uma espada na garganta de Constantino ou de Clóvis para que se convertessem? Santa Helena e Santa Clotilde? Ou será que os massacres, pilhagens, estupros, mortes constantemente realizadas pelos bárbaros eram também "utensílios para execução de sentenças"? Não foi à toa que São Bento foi declarado Patrono da Europa. Acinte é a Revolução ter pretendido derrubar todo o edifício civilizacional construído ao longo de 1700 anos. Acinte é a Maçonaria dominar todo o pensamento e toda ação dentro dessa Europa cristã e no resto do mundo. É muito mais lógico pensar que a cultura que levantou monumentos imperecíveis como as igrejas, catedrais, afrescos, estatuária, que devolveu ao pobre a sua dignidade, que tirou da mulher o peso de ser um objeto, como era no direito romano, que inventou pela primeira vez na história certos direitos dos réus nos tribunais, e tantos outros feitos até hoje presentes em nossa sociedade, que esta cultura banhada no Sangue de Cristo tenha um valor intrínseco, uma realidade histórica, uma força perene.

Mas o sr.Cristaldo vai além. Pretende ridicularizar as coisas mais simples da moral natural só porque a Igreja, na sua moral sobrenatural também as obriga. Se a Igreja ensina aos homens a ordenar suas paixões e dar a finalidade própria ao prazer sexual, não significa que condene o prazer. A Igreja respeita a natureza da vida humana enquanto os intelectuais modernos pretendem que as paixões dos homens é que comandam a sociedade. Quer soltar os desejos sexuais? Então pregue também as paixões do poder. Apóie Hitler e Stálin. É lícito inverter o sexo? Então será lícito também inverter o papel de um político e deixá-lo roubar. Se é lícito ao homem romper com a natureza da sociedade familiar, porque lhe proibir de romper com a natureza do Estado? Seja coerente, vá até ao fundo. O aborto, o divórcio, o casamento de homossexuais não é proibido pela Igreja, como pensa Cristaldo. É proibido pela natureza do homem e da sociedade humana. E quando a Igreja conclama a todos os homens a praticar a Lei Natural, não está, de modo algum, sendo autoritária ou presunçosa, como pretende o articulista, mas tentando mover os homens a usar mais a razão do que a paixão, a ordenar seus sentimentos e sensações pelo uso da inteligência. Ai dela se não cumprir este dever. E foi graças a este trabalho de ordem espiritual, na conversão dos costumes, que o mundo conseguiu construir uma Civilização que no dizer do próprio Cristaldo "nutre algum respeito pelo ser humano". Outros preferem que os homens sejam piores do que bestas! Mas o intelectual demonstra nesse campo, como nos seus conhecimentos de História e ainda nas relações da Igreja e do Estado uma ignorância que devia levá-lo a calar-se.

"Volto à cruz" - está lá escrito no artigo do senhor Cristaldo. Penso que ele sempre voltará à Cruz, como voltou seu Dom Alonso Quijano, no momento da morte: "Traga-me un confessor que me confiesse... en tales trances como este, no se ha de burlar el hombre con el alma". (Dom Quixote). Rezo a Deus para que no dia da sua morte ele já não deseje mais, como escreveu, um triste velório sem Deus, sem Cristo, sem a Santa Esperança.

Para quem quiser invocar os fracassos da Igreja, não é preciso gastar muitos conhecimentos históricos nem muitas citações eruditas; basta-lhe remontar ao fato fundamental do cristianismo. Os judeus e os soldados romanos já tinham começado com muito menos pedantismo o processo da Igreja e já lhe viam a vergonha e a decadência no momento exato em que Cristo vencia na Cruz. E nós nos gloriamos da cruz do Senhor. (Gustavo Corção - A Descoberta do Outro).

quinta-feira, outubro 13, 2005
 
REAÇÕES (2)






Salve Maria, a Mãe do meu Senhor! (São Lucas)

Salve Maria, a Sempre Virgem Puríssima!

Salve Maria, a Imaculada Conceiçao!

Salve Maria, a Santa Mãe de DEUS!

Salve Maria, Nossa Senhora Aparecida!


"A ignorância é a mãe da admiração"

Vade retro satana.

(Anônimo)


 
REAÇÕES (1)



Ateísmo

enviada ao MSM,
em 13/10/2005

O sr. Cristaldo nos cansa com seu ódio a Deus, motivado, segundo ele mesmo, pelo amor do baixo-ventre. Ninguém lhe nega o direito de ser ateu; porém 99 % da população não o é, e se ele é mesmo democrata, como diz, deveria respeitar o direito de expressão da maioria e guardar a sua crença para uso privado, como quer que todos façam.
A presença pública de símbolos religiosos faz parte da cultura e da história do Brasil desde o descobrimento, e a imitação do modelo soviético acabará levando à remoção da estátua do Cristo Redentor do Corcovado, substituída, quem sabe, pela de Lenin. Também, como fizeram os russos com São Petesburgo, não faltará quem queira mudar os nomes da cidade de São Paulo e do estado do Espírito Santo, quem sabe para "Prestesgrado" e "Materialismo Dialético", respectivamente.

Seria melhor, portanto, que o sr. Cristaldo se limitasse aos cometários políticos, o que ele faz muito bem e com agrado para quem os lê.

Romero Magri