¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, outubro 17, 2005
 
REAÇÕES (8)





A D. Fleichman

D. Lourenço Fleichman OSB, em seu "Protesto' nesta página, vem em defesa da cruz, símbolo de sua religião, fazendo o possível para disfarçar sua intolerância e passar uma mensagem de vestal ofendida.

Não costumo debater com simples crentes de cabeça vazia; como disse anteriormente, é perda de tempo querer que a razão vença a crença única e fanática. Jonathan Swift já declarara: "é inútil tentar fazer um homem abandonar pelo raciocínio aquilo que não adquiriu pela razão". Por outro lado não tenho procuração de Cristaldo para defendê-lo e nem o faço, apesar de aplaudir sua cultura e postura. Apenas julgo não poder deixar sem resposta algo que se baseia em um embuste fenomenal e quer se passar por luz da verdade, feito por uma..., digamos, autoridade.

Primeiramente, D. Fleichman, cristo é uma palavra que vem do grego e significa "ungido". É um sofisma bem ao gosto dos religiosos criar relações que não existem e com elas montar o alicerce de uma teoria. Portanto, como era costume ungir-se os reis com "óleo sagrado", disseram isso também do "rei dos judeus". Se a etimologia de Cristaldo vem de cristo, significa simplesmente que ele também é um ungido. Com a diferença que é palpável e deixa suas idéias escritas, ao contrário do outro ungido que nada escreveu, por não saber escrever ou por não ter tido tempo entre seu ataque alucinógeno de que era deus e sua merecida morte. Poderia ter escrito algo, antes dos 30 anos, mas estava preocupado com outras atividades que Celsus em seu Discurso contra os Cristãos nos narra pormenorizadamente e que Orígenes em seu Contra Celsus tenta negar com argumentos infantis e inconsistentes.

Cristaldo pode também vir de cristal que vem do latim crystallum, que significa gelo, vidro transparente; ou de crista que vem do latim crista, que significa cume, cimeira. Nada a ver, novamente com o falecido "deus dos judeus". Nome é convenção, meu caro frade, e não faz a pessoa. As vezes, provém da ex-profissão do dono, como, por exemplo, açougueiro. Ao se enveredar por essa linha de raciocínio, perde-se a conta de quantos Jesus crápulas existem no Brasil, que possuem o nome do crucificado e não são flores que se cheirem, ou quantos profissionais não mais praticam o nome que têm. Outro exemplo é o hilariante INRI CRISTO do Paraná, que se diz a própria encarnação do "salvador". Nomes são apenas nomes e Cristaldo, talvez, somente aos fanáticos, sempre lembre a cristo, o crucificado.

Outra expressão sem nexo, "carrega no nome a cruz de cristo". Como o bom frade chegou à tal conclusão? Provavelmente não chegou e a usa como gancho para introduzir a arenga que vem a seguir. E, nos diz que Cristaldo apostasiou. Eu também, caro frade. Minha história é longa e minha apostasia, depois de passar 30 anos vivendo o mais rigoroso catolicismo (imposto por um espanhol rigoroso que foi irmão marista até os 40 anos), aconteceu naturalmente, como conseqüência de ter descoberto que minha vida religiosa era pautada por um conhecimento proveniente de uma única fonte. Não pode existir acerto ao se decidir ouvindo somente um lado da história. Paradoxalmente foi buscando conhecimentos para rechaçar (sem ss) os detratores do catolicismo que desci às raízes do cristianismo e, voilà, ao invés de encontrar Jesus, encontrei Mithras e Ahura Mazda, no lugar de Maria, conheci Cibele e Anahita. Onde estava Moisés, havia a sombra de Gilgamesh e Abraão de Ur era um pictograma de Zaratustra.

Estamos em boa companhia, muitas personalidades - entre as quais o grande imperador Juliano que disse a respeito de seus antigos companheiros de fé, "o vosso quinhão é a ignorância; todo o vosso saber consiste em ficar repetindo, estupidamente, creio" - são também apóstatas.

Adiante, usando um jargão batido, o nobre monge esgrime outro gancho: "deus fala" . Deus fala ou os padres falam? Ou os pastores falam? Ou os rabinos falam? Ou os mullahs falam? Ou os médiuns falam? Eles falam de amor ou falam de dízimos? Falam de qual verdade? Dos evangelhos?

Esses merecem uma história a parte, mas por ora fiquemos somente com uma pergunta ao enfurecido monge: Onde estão os originais dos evangelhos "escritos" pelos "evangelistas"? Descartando-se alguns fragmentos datados dos séculos II e III (Papiro P1 contem Mt 1, 1-9, 12, 13, 14-20, Papiro P2 contém Lc 1-5, Papiro P8 contém Atos 4-6, Papiro P13 contém Hb 2-5, 10-12, Papiro P46 várias porções do Antigo e Novo testamento) nada mais existe, principalmente os ORIGINAIS escritos pelos evangelistas no primeiro século, não é mesmo, meu caro?

A própria igreja nos fornece a biografia dos evangelistas sempre alertando que "conta a tradição". Não existem provas de sua existência. Não existem originais dos evangelhos. Tudo foi escrito depois do século IV - 400 anos depois - pelos sacerdotes mitraicos de Roma, que foram obrigados a aceitar a nova religião do império. O que existem são as cartas de Paulo, que escreveu o que lhe deu na telha. O cristianismo devia chamar-se paulismo ou saulismo (pois o verdadeiro nome do judeu Paulo era Saul - nada de Saulo) Mas, o aleijão Paulo não foi crucificado e para dar credibilidade à crença manda o figurino que sempre haja sangue derramado.

A justificativa usada pelo cristianismo para autenticar os evangelhos é a débil teoria da "inspiração divina" que, na falta de documentos e provas concretas, forneceu ao hagiógrafo o dom de escrever o que deus lhe soprava no ouvido. A fé exige a castração do pensamento, que deve se contentar com tais migalhas!

Adiante, novamente, o dileto monge assaca sofismas ao tentar desmentir que a cruz não era instrumento de suplício dos romanos. Fazer isso demonstra má fé, pois temos certeza que o religioso conhece bem a história do Império Romano. O cristianismo usou a cruz para matar, sim! Que foram as Cruzadas? Piquenique? Qual é a diferença entre o Nero e o papa , quando um utiliza a cruz para guerrear contra fanáticos insurgidos contra a religião oficial do império e outro utiliza a cruz para fazer guerra contra os que brandem a meia lua (ou a cimitarra, se quiserem)? Nenhuma, meu caro. E nada de dizer que os cristãos do tempo de Nero liam livros sagrados. Primeiro, a plebe não sabia ler, e segundo, não havia livros. Havia pergaminhos e papiros. Eram tão raros e caros, pois se destinavam a uma diminuta elite que sabia ler; e os papiros não duravam mais que 100 anos.

E, sem qualquer objetivo prático, a não ser atingir a parte emocional do leitor vem descrever o tipo de morte, com cheiro de carne queimada. Aí, o prezado monge se contradiz, ao dar crédito a historiadores que diziam que os corpos estavam sobre cruzes. Então a cruz era mesmo instrumento de morte, certo, D. Fleichman?

Como não poderia deixar de faltar, o nosso bravo monástico faz citação do seu "livro sagrado', citando... Paulo. Nada de touché (é)! Vamos deixar bem claro sobre o que contém tais livros e como foram escritos. Um só exemplo.

A Vulgata escrita por Jerônimo por volta do ano 302 é a base da Bíblia dos cristãos. Eis o que nos conta Cesare Cantu - católico fanático, mas com uma erudição inigualável - na sua estupenda História Universal, totalmente aceita pela Igreja católica, que liberou a sua publicação somente após criteriosa análise: "O papa Damaso encarregou-o de rever a versão itálica dos Evangelhos, reputada a mais fiel, porém que as interpolações e as alterações haviam corrompido. Aqueles que possuíam um exemplar do Evangelho tinham o costume de anotar à margem, as variantes que achavam noutros, às vezes até simples tradições orais. Pouco a pouco os copistas distinguindo mal o texto primitivo das anotações, foram transcrevendo tudo e daí resultaram, segundo expressão do próprio Jerônimo, não mais quatro Evangelhos, porém quatro concordâncias dos Evangelhos". Se a isso juntarmos a inépcia de alguns desses copistas, a presunção de outros que imaginaram fazer correções de sua cabeça, necessariamente compreendemos que a forma primitiva do livro sagrado se houvesse de achar singularmente mudada.

Jerônimo, tendo empreendido expurgá-lo desses elementos heterogêneos, recorreu primeiro aos textos gregos mais antigos, talvez os de Panfílio e o de Orígenes. Porém, não teve paciência para corrigir todas as passagens que reconheceu terem sido alteradas pela comparação, de sorte que em algumas partes seu comentário não está em relação com a revisão... Durante quinze anos, aplicou-se em fazer a tradução de Antigo Testamento....Fez-se então uma guerra muito viva à sua tradução, que não obstante, adotada pela Igreja, com exclusão da antiga Vulgata, veio a ser o fundamento daquela que o Concílio de Trento declarou autêntica.

Jerônimo conta que os Nazarenos de Beroi, na Síria, lhe deram uma cópia de um evangelho sírio-caldeu, que traduziu para o latim e grego. Era intitulado "Segundo os Egípcios ou Segundo São Mateus". Mas como se perdeu, não sabemos se era o original do deste evangelista que possuímos em latim ou um quinto evangelho. A última suposição é a mais provável, segundo a acusação que Teodoro de Monpsueste fez contra São Jerônimo, de ter composto um novo evangelho." (os grifos são meus).

Será que houve manipulação?
Vamos pois, para um exemplo mais recente: Veja a A Bíblia Sagrada, do padre Antonio Pereira de Figueiredo ou qualquer Bíblia católica publicada antes de 1950. Leia o que diz o versículo 15 do capítulo 1 do livro Eclesiastes. Eis o texto: "Os perversos dificilmente se corrigem e o número de tolos é infinito". Agora, tome uma Bíblia católica de edição recente e leia o mesmo versículo 15 do capítulo 1 do Eclesiastes. Mudou! Deus falou novamente e agora o tal versículo está assim: "O que é torto não pode ser endireitado e o que falta não pode ser levado em conta". Será que os nobres escreventes julgaram que o número de tolos que acreditam neles é infinito e que não era saudável ficar divulgando tal detalhe? Quantas outras passagens foram alteradas nesses 20 séculos, ao gosto dos mandatários de Roma?
Portanto, D. Fleichman, arranje novos argumentos. Citações de seu livro sagrado só surtem efeitos na aridez do intelecto de seus crentes. Para cabeças pensantes não têm validade.

Outro ponto a destacar é a visão errônea e simplista do religioso quando diz que se ataca com ódio a religião. Não é ataque. É constatação dos fatos. Como vai de encontro à sua crença, é interpretada como ódio e crime de lesa pátria. Temos o direito de dizer que Jesus foi crucificado merecidamente e de forma vil. Não temos ódio dele nem daquilo em que se transformou uma religião em seu nome.

Tenho em mãos o Manual do Inquisidor, escrito pelo frei dominicano Nicolau Eymerich em 1376. Depois revisado por Francisco Peña e editado em Roma em 1578. O frei Fleichman decidiu mudar a história ao perguntar onde está a autorização do papa para a Inquisição. Negar isso seria negar a própria fogueira, que torrou corpos de "hereges" de 1232 a 1838 (Napoleão extinguiu a inquisição na França em 1808, que voltou a vigorar após ele; em Portugal e Espanha durou até 1838). O papa Gregório IX instituiu oficialmente a Inquisição em 1232. Em 1252, o papa Inocêncio IV por sua bula Ad Extirpanda (nome bem sugestivo) autorizava a tortura "para quebrar a resistência dos hereges" . Em 1542 o papa Paulo III instituiu definitivamente a "Sagrada Congregação da Inquisição Romana e Universal do Santo Ofício" . Mesmo que não houvesse tais esmagadoras evidências, ao correr de séculos de churrasco de hereges, será que nenhum papa, sabedor de tais fatos e desaprovando-os, não teve a sensatez de mandar parar?
Realmente, Frei Fleichman, ninguém "mandou matar para espalhar o cristianismo", mas mandou matar quem não aderia ao mesmo, ou era seu opositor ou não acreditava nele ou tinha bens a serem confiscados. Mesmo efeito para um jogo de palavras malicioso. Aqui, D. Fleichman, somente vós sois o mentiroso.

Continuando, Frei Fleichman nos fala da história do Brasil, num parágrafo incoerente e sem sentido. Os portugueses rezaram missa e batizaram a terra de Santa Cruz. E daí? O que isso prova? O prezado monge não esperaria que os portugueses católicos fizessem um sacrifício a Baal e batizassem a terra de Tartarus, pois não?

Vale a pena relatar que além da cruz, trouxeram a sífilis, a peste bubônica e a gripe que dizimaram os índios. Nóbrega e Anchieta pouco puderam fazer - se dedicaram a isso, não se nega - para livrar os índios da escravidão. Um esforço inglório que não produziu resultados práticos. Quanto a Pombal, um dirigente de escol, se cometeu erros, certamente que não hão de tirar o brilho de seus acertos, principalmente o de abolir a Inquisição em Portugal em 1838. Pelo que se depreende da análise de Frei Fleichman, o catolicismo no Brasil não foi muito eficaz. Perdeu o trabalho de 400 anos por apenas 100 anos de governo ateu. Alias talvez os governantes ateus estejam agora aplicando os ensinamentos do papa Pio X, que declarou em 1904: "Somente o colégio dos pastores tem o direito e a autoridade de dirigir e governar. A massa não tem direito algum a não ser deixar-se governar qual rebanho obediente que segue o pastor". Isso é Pio X, no século vinte. Não foi Alexandre Bórgia no século XVI.

Será essa a dignidade devolvida ao pobre, frei Fleichman? Uma religião que prega uma perversa e cruel resignação do pobre diante do seu sofrimento; que prega a passividade e não reação à violência; que induz o pobre a aceitar a exploração do poderoso sem reclamar, pois tal atitude lhe garante o lugar em uma utópica vida, em um local transcendental e imaginário depois da morte? E, caso contrário, a certeza de queima eterna no inferno? Os séculos que vão até a Renascença na Europa, com os sistemas de governos teocráticos incentivando e se aproveitando dessa fé irracional e desse terrorismo psicológico incutidos na massa, é um belo período exemplar de que, e a que serviu, esse mitraísmo disfarçado em cristianismo. Será isso apascentar os cordeiros? E desde quando a mulher foi liberada, antes do século XX? D. Fleichman deve estar fazendo chiste.

A cultura na Europa, talvez estivesse imensamente mais aprimorada se não fosse travada durante séculos pela Inquisição - não se pode relegar tal instituição a um plano secundário. Não é possível esquecê-la, frei Fleichman, devido à sua duração e a monstruosidade de seus efeitos em todos os campos da atividade humana. Foi ela quem calou a ciência. Foi ela quem instituiu o Index Librorum Prohibitorum. Foi, essencialmente, uma mantenedora de trevas. Não se pode apagar tal estigma. Nada é oferecido em contrapartida para isso. Monumentos? Igrejas? Estátuas? Os pagãos os fizeram, desde a Antigüidade, em maior quantidade, com mais arte, e com mais beleza. Veja o antigo Egito, a Grécia com a Acrópole e a própria Roma, que nos mostra até hoje Pantheon, o Foro Itálico, o Coliseum, entre tantos outros.

E mais: se Constantino não tivesse se convertido por razões políticas - a principal é que a plebe na sua totalidade estava convertida - o mundo hoje seria mitraico, como diz Franz Cumont. Nesse caso, Michelangelo teria reproduzido a criação de outra forma e Bach teria composto as mesmas obras e oratórios comemorando o Taurobolium ou as cerimônias ao deus Sol.

Adiante, D. Fleichman, nos apresenta argumentos baseados em lógica de botequim. Colocar Hitler e Stalin nessa discussão é como colocar Pilatos no Credo. Quem é a Igreja católica para falar de licitudes? Aguardamos até hoje a censura de Pio XII ao nazismo. Quem foi um dos grandes (entre outros tantos) responsáveis pela instituição do maior grupo estelionatário e corrupto do país, o PT? D. Evaristo Arns! Lógica de botequim por lógica de bar. Então, seria respeitar o ser humano o que fez Cortéz, grande católico, com os povos da América central? A igreja conclama todos os homens a usarem a inteligência ou realmente cumpre o que determinou Pio X? Alguém aqui precisa calar-se, não por ignorância, mas por disseminação premeditada de desinformação.

O cristianismo (e outras religiões) é fruto da ignorância, da preguiça de se instruir e do aproveitamento cruel do cacoete emocional do ser humano de querer livrar-se da morte. Deve seu nascimento ao Império Romano e seu sucesso a métodos brutais - físicos e psicológicos - para manter o rebanho ignorante e unido. Erraram os judeus e romanos ao pressagiarem a sua decadência.

Enquanto for mais fácil, mais acessível e menos trabalhoso - pensar exige trabalho - ficar repetindo estupidamente "creio", a classe de parasitas que sobrevive do suor da massa inculta, dando a ela, em troca de dinheiro sonante e temporal, um abstrato terreno celestial, vai continuar a existir com sucesso.

Vida longa e próspera, D. Fleichman!

L. Valentin

17-10-05
viewcaos2003@yahoo.com