¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, novembro 04, 2006
 
PT PODE


Quando o senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, disse que em função do escândalo do mensalão o país se veria "livre dessa raça por, pelo menos, 30 anos", é óbvio que falava em raça figuradamente, no caso, os petistas. Mas bastou alguém com sobrenome alemão pronunciar a palavra raça e o professor Emir Sader, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), não se conteve. Chamou o senador de racista, banqueiro e direitista, afirmando também se tratar de uma das "pessoas mais repulsivas da burguesia brasileira". Disse ainda que o senador realimentava no povo e na esquerda o ódio pela burguesia. Interessante notar que, para o velho comunista, banqueiro não é palavra que designe uma profissão, mas um palavrão.

No ritmo em que vamos, qualquer dia João Batista estará incurso, retroativamente, em crime de racismo. Pois João, vendo os muitos fariseus e saduceus que vinham ao seu batismo, disse-lhes: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura?"

O senador, sentindo-se ofendido, moveu processo de injúria contra Sader. Que foi condenado à perda de seu cargo de professor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e a um ano de detenção, em regime aberto, conversível à prestação de serviços à comunidade. Mal saiu a sentença, um grupo de intelectuais e acadêmicos lançou um manifesto em apoio a Sader, contestando sua condenação.

Encabeça o manifesto outro velho comunista, o escritor, crítico literário e professor Antonio Candido, segundo o qual a sentença condena de forma injustificada um quadro intelectual importante do País. "A impressão que eu tenho é de que esta é uma decisão extremamente arbitrária", afirmou. Para a editora Ivana Jinkings, "esta decisão é absurda e totalmente despropositada". Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a sentença é "um atentado às liberdades individuais e absolutamente injusta".

Segundo o manifesto, assinado até ontem por três mil pessoas, a decisão judicial "transforma o agressor em vítima e o defensor dos agredidos em réu. Numa total inversão de valores, o que se quer com uma condenação como essa é impedir o direito de livre expressão, numa ação que visa a intimidar e criminalizar o pensamento crítico. É também uma ameaça à autonomia universitária que assegura que essa instituição é um espaço público de livre pensamento".

O PT, ao tentar mobilizar a opinião pública contra uma decisão judicial, arroga-se ao direito de injuriar impunemente. Injúria vira direito de livre expressão e condenação de injúria é atentado às liberdades individuais. O PT pode.