¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, setembro 22, 2007
 
CIDADES



O jornal sueco Aftonbladet mancheteava, ufanisticamente, em sua edição de ontem:

STOCKHOLM ÄR BÄST I VÄRLDEN

Ou seja, Estocolmo é a melhor do mundo. Me lembrou uma antiga canção sueca: Oh, jag är så glad, för jag är svensk. (Eu sou tão feliz porque eu sou sueco). Segundo uma enquête da Readers Digest, quem vive em busca do melhor lugar para viver devia morar na Escandinávia, pela ordem: Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia. No que se refere ao ambiente das grandes cidades, Estocolmo está em primeiro lugar, seguida de Oslo, Munique e Paris. A afirmação é altamente discutível.

A começar pelos países. Em qualquer destes quatro, se vive em alto padrão de vida. Mas padrão de vida não é tudo. O custo de vida influi muito no índice per capita de felicidade e nas relações pessoais. Todos os quatro são países onde se paga muito caro para habitar, comer e beber. O mais caro de todos é a Islândia. Além do mais, Reykajvik é uma cidade de cem mil habitantes. Ora, pagar caríssimo para viver em uma aldeia de cem mil habitantes não me parece ser idéia de pessoa inteligente. A vida certamente será pacata por lá, mas vida pacata não quer dizer vida melhor. De minha experiência de cidades, considero que cidade com menos de um milhão de habitantes não está com nada.

Estocolmo, de fato, é uma das mais lindas cidades do mundo. Sentada sobre quatorze ilhas e parte do continente, verdejante e florida, cambiante conforme as estações, é uma festa para os olhos. Sobrevoar o arquipélago de balão é uma das grandes venturas que pode viver um mortal. Navegar por entre suas ilhas, vagar pela noite em Gamla Stan, a cidade velha, freqüentar seus parques e jardins são coisas que fazem bem a quem gosta de viver bem. Há 35 anos, vivi um dia magnífico em Estocolmo. Eu estudava sueco num prédio em frente ao Kungsträdgården, praça que em língua de gente quer dizer Jardim do Rei. O dia era 22 de março, mas correspondia ao de hoje, ou seja, um dia após a entrada da primavera. Ao aproximar-me do parque, levei um choque. Estava repleto de flores. Mas no dia anterior, eu tinha certeza, não havia flor nenhuma. E eu não havia bebido. Aos poucos, entendi a coisa. Era como se o rei, ou alguma outra autoridade, tivesse ordenado: “hoje é primavera. Tirem as flores das estufas e joguem-nas na cidade”. Era uma primavera instantânea, brotada de repente.

Mas... mas... mas... viver em Paris ou Roma é também muito bom, e quem conhece estas três cidades sabe que a escolha é muito complicada. Colocar Oslo em segundo lugar me parece temerário. É interessante, diria, e nada mais. Muito cara e pacata demais para meu gosto. Munique? Ça va! É linda, alegre, esfuziante. Mas Munique antes de Paris? Jamais. Só por cima de meu cadáver. E Roma, onde fica? Na relação da Readers Digest está em um humilhante 39° lugar. Não admito. Berlim está no 32º e Viena no 38º. A belíssima Amsterdã mereceu um desonroso 35º lugar. Bolonha, a vermelha, ocupa um insultuoso 47º lugar. A charmosa Copenhague está em 10º. A meu ver, algum favoritismo em favor dos nórdicos houve nessa seleção. Mas parece que a Dinamarca foi excluída da Escandinávia. Antes de Copenhague, estão Frankfurt, Stuttgart e Düsseldorf, na Alemanha, e Lyon, na França. São cidades encantadoras. Mas não consigo colocá-las antes de Copenhague.

E a fascinante Madri, que enfeitiça quem quer que passe alguns dias por lá? Nem consta do ror das cinqüenta cidades mais lindas do mundo. O Aftonbladet não nos fornece os critérios da seleção da Readers Digest. Mas não consigo admitir que Madri fique fora de uma lista de dez. Madri não é fisicamente linda como Paris ou Estocolmo. Nem como Praga, que na lista ocupa um injusto 41° lugar. É linda por outras razões. Pelos madrilenhos, por sua vida noturna ensandecida, por seus cafés, restaurantes e tablaos. Curiosamente, Barcelona ocupa um 14º lugar. Pelos meus critérios, eu a colocaria um pouco antes, entre as dez primeiras. Seja como for, incluir Barcelona e excluir Madri significa não conhecer Madri. E não foi dada menção alguma à simpaticíssima Lisboa.

O Aftonbladet fala ora em melhor cidade, ora em cidade mais linda. São conceitos diferentes e ambos são de definição complicada. Se falamos de belezas naturais, pode-se até aceitar Estocolmo como a mais linda. Se pensarmos em belezas construídas pela mão do homem, coloco Paris em primeiro lugar. Praga, em segundo. Quanto à melhor cidade, entendo que se pretenda definir a melhor cidade para se viver. Neste sentido, excluo as cidades da Escandinávia. Muito caras. Não se vive bem em cidades muito caras. Boa cidade, em meu entender, é aquela em que a maior parte dos cidadãos tem acesso às coisas boas da vida. Estou pensando no sul da Europa. No sul, mas nem tanto. A Itália é hoje um dos países mais caros do continente.

Ficaram fora da lista cidades pequenas que excelem por sua beleza, como Veneza, Dubrovnik, Strasbourg, Toledo, Ávila, Cuenca, Orvieto, Positano, Amalfi, Taormina e tantas outras onde ainda não pus os pés. Certo, não são cidades para se viver. Mas se o critério é ser linda, não podem ficar fora de nenhuma lista.

Tais listas são sempre subjetivas e é claro que jamais agradarão a todos. Seguidamente me perguntam qual a cidade mais linda que conheço. É uma pergunta. Outra pergunta é a melhor cidade para se viver. São perguntas distintas e não sei como responder a nenhuma delas. À primeira, como disse, eu talvez até aceitasse a idéia de que Estocolmo é a mais bela. Mas... e Paris? E Praga? Difícil decidir.

Melhor cidade para se viver? De meu ponto de vista, não hesito: Madri. Mas não vou condenar quem disser Paris, Roma ou Berlim. Para conferir, a lista das cinqüenta. Aceito opiniões divergentes.

1. Stockholm
2. Oslo
3. München
4. Paris
5. Frankfurt
6. Stuttgart
7. Lyon, France
8. Düsseldorf
9. Nantes
10. Köpenhamn
11. Geneve
12. Zürich
13. Glasgow
14. Barcelona
15. New York
16. Brüssel
17. Hamburg
18. Hong Kong
19. Newcastle
20. Tokyo
21. Helsingfors
22. Washington, D.C.
23. Chicago
24. Vancouver
25. Dortmund
26. San Francisco
27. London
28. Perth
29. Melbourne
30. Manchester
31. Graz
32. Berlin
33. Ottawa
34. Wellington
35. Amsterdam
36. Atlanta
37. Marseille
38. Wien
39. Rom
40. Sydney
41. Prag
42. Brisbane
43. Denver
44. Bern
45. Singapore
46. Houston
47. Bologna
48. Montreal
49. Kuala Lumpur
50. Toronto