¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, novembro 26, 2007
 
JÔ E O CLITÓRIS



Raphael Piaia me envia nota da Folha Online:

O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro informou nesta segunda-feira que investiga o "Programa do Jô", exibido depois do "Jornal da Globo" pela TV Globo, por suposta manifestação de preconceito. Segundo a procuradoria, houve denúncias sobre uma entrevista que abordava a questão de mulheres submetidas à cirurgia no clitóris na África e que comentários do apresentador podem ter manifestado preconceito em relação a hábitos e costumes culturais daquele continente.
As entidades que levaram a denúncia ao MPF acusam o programa de desrespeito a comunidades negras. A representação está sob os cuidados da procuradora dos direitos do cidadão, Márcia Morgado. O MPF não informou a data exata na qual o programa foi ao ar, mas foi em 2007. A assessoria de imprensa do programa informou que não recebeu nenhuma notificação sobre o procedimento.


Essa agora! Confesso que não vi este programa do Jô, afinal raramente vejo televisão nacional. Pelo pouco que conheço do apresentador, suponho que tenha se manifestado contra as mutilações genitais usuais na África negra ou muçulmana, que a redatora Dayanne Mikevis eufemisticamente chama de cirurgia. (Há quem fale também em circuncisão feminina, como se a ablação do clitóris e a infibulação da vagina pudessem ser comparadas ao ato pouco ou nada mutilante da circuncisão).

Tampouco tenho conhecimento dos termos da denúncia ao Ministério Público. Mas, ao que tudo indica, já temos no Brasil defensores da mutilação genital feminina, em nome do tal de multiculturalismo. Só o que faltava. Quando até mesmo no Egito, onde a clitoridectomia e a infibulação são usuais, estas práticas já constituem legalmente crime, surgem fanáticos no Brasil para defendê-las.

A notícia da denúncia ao MP chega nestes dias em que uma mulher estuprada por um grupo de homens foi condenada a 200 chibatadas e seis meses de prisão por uma corte de apelação na Arábia Saudita. A mulher, de 19 anos, foi estuprada 14 vezes por homens de uma tribo sunita na cidade de Al-Qatif, região leste da Arábia Saudita. Inicialmente, os estupradores foram condenados a cinco anos de prisão. A vítima, que havia estado no carro de um homem desconhecido antes do ataque, recebera anteriormente uma pena de 90 chibatadas.

Quando a mulher recorreu da sentença, foi acusada pelos juízes de tentar influenciar a decisão da corte através da mídia. Por isso, sua pena mais do que dobrou, chegando a 200 chibatadas mais prisão. Em todo Ocidente, a decisão da corte saudita foi condenada como prática bárbara. Para os que denunciaram o programa do Jô, vai ver que não passa de preconceito em relação a hábitos e costumes culturais daquele país.

Adiante, senhores! Poderiam continuar pedindo a proibição de Infiel, livro de Ayaan Hirsi Ali, a somali que desafiou o Islã, denunciando suas práticas bárbaras, entre elas a mutilação genital feminina. A propósito, o livro saiu recentemente pela Companhia das Letras, está em minha cabeceira e qualquer hora o comentarei.

Ó tempora, ó mores! Chegamos a uma época em que se tem de defender até mesmo um medíocre como Jô Soares!