¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, abril 22, 2008
 
SOBRE MALAS


Os Estados Unidos é um país ao qual certamente jamais vou voltar. Não que lhe faltem atrativos. Mas isso de tirar sapatos para entrar num país exclui definitivamente esse país de meus roteiros. Certa vez, no Cairo, deixei de visitar uma das mais deslumbrantes mesquitas do mundo islâmico, a Al Azhar, famosa por seus dois minaretes. Eu já ia entrando de pés descalços, como faço em qualquer mesquita, quando dois leões-de-chácara, postados no pórtico de entrada, quiseram requisitar meus sapatos. Olhei para a cara dos dois e senti que não os reveria se não pagasse bakshisha. Preferi dar meia volta e preservar meus sapatos.

Um outro fator me afasta dos Estados Unidos, a espera de visto. Me consta que, atualmente, é de 88 dias. Está mais difícil do que entrar na Rússia, que apesar do desmoronamento do comunismo, ainda conserva a antiga burocracia. Ora, eu não espero três meses por um visto. Ando com muita vontade de conhecer o México. Mas, pelo que li há pouco nos jornais, o México está fora de cogitação. Para conseguir-se o visto, é preciso fazer fila na véspera. Ora, isso fere minha dignidade. Não vou entrar numa fila na madrugada para conseguir senha no dia seguinte e esperar em pé mais quatro ou cinco horas para receber um carimbo no passaporte. Viajar está ficando complicado, pelo menos para certos países. O México, que adoraria conhecer, está ficando muito longe. Que fique! Sempre há Paris, Roma e Madri para me regalar.

Dito isto, leio notícia proveniente dos Estados Unidos que me soa simpática. Cinco das seis grandes linhas aéreas americanas pensam cobrar de seus clientes 25 dólares por uma segunda mala. Para a companhia de baixos custos, a AirTrain, a partir do 15 de maio, a tarifa por uma terceira maleta será de 50 dólares. Se por um lado isto aumenta os lucros das empresas, permite economizar em gastos de combustível. Lucros e combustível à parte, a idéia me agrada. Ninguém precisa viajar com duas malas. Uma é mais que suficiente. E digo mais: a mala há de ser pequena, para conforto do viajante.

Segundo o New York Times de hoje, esta medida se deve aos máximos históricos do preço do combustível. Há males que vêm para o bem. A brasileirada vai chiar. Quando vejo num aeroporto internacional um passageiro com um carrinho com quatro ou cinco malas enormes, intuo que é brasileiro. Me aproximo do caipira só pra conferir se ele fala brasileiro. Sempre fala. Esse viajante deveria ser proibido de embarcar. Para que quatro ou cinco malas em uma viagem? Que levam essas gentes nessas quatro ou cinco malas? Coleções de ternos, vestidos, sapatos? É preciso ser muito estúpido para viajar com quatro ou cinco malas.

Foi Erico Verissimo quem me alertou, há mais de quatro décadas: para uma viagem confortável, mala pequena e sapatos leves. A vida me ensinou algo mais. Os sapatos não devem ser comprados na véspera da viagem. Precisam ser sovados antes da partida. Uma viagem com sapatos desconfortáveis se torna uma tortura.

Para viagens de um mês, costumo viajar com uma maletinha de oito quilos. Pode ser que volte com uns quinze, ou até mais, livros sempre pesam. Mas parto com oito. Duas calças, quatro ou cinco camisas, meias, cuecas e... para que mais? Se for inverno, o casaco vai na mão. Isto torna a viagem mais ágil, nem é preciso perder tempo na esteira de bagagens. Sem falar que você fica a salvo de um acidente nada agradável em uma viagem, o extravio de bagagem.

A Iberia, por sua vez, aumentou de 20 para 23 quilos o mínimo permissível de bagagem sem custos extras. Vá lá. Mas acho excessivo. Essas montanhas de malas são herança de uma época em que havia carregadores nos aeroportos da Europa. Hoje, eles não existem mais. Você que se vire. Devo confessar que levo sempre uma segunda maletinha. É uma sacola de ombro, que comporta uns três quilos. Serve para minhas viagens interiores na Europa. Nada melhor que entrar em um trem com uma sacolinha de ombro.

É o que farei daqui a uns vinte dias.