¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, junho 14, 2008
 
O ABSURDO TREM


Um leitor atento definiu com precisão o absurdo trem criado por dona Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy Relaxa e Goza:


Janer

Este trem fantasma paranaense é mais uma demonstração que a tal indústria aqui no Brasil está muito longe da realidade. Este arremedo de Orient Express vai do nada a lugar nenhum, mostrando qualquer coisa para ninguém. Ou seja, está condenado a ser mais um mastodonte, um "trensauro", uma besteira, uma idiotice, um nonsense, um desvario. O pior é que ainda tem gente que bate palmas para as "iniciativas" da sinistra sra., esquecendo-se de sua lamentável atuação política, dos escândalos de sua catastrófica administração e sua atitude, sempre desdenhosa em relação a quem a questiona ou dela discorda. "Relaxa e goza" é uma das suas frases lapidares.

Uma pena. As eleições vêm aí, um outro ministro do turismo vai ser empossado e as mesmas moscas continuarão sobrevoando o mesmo monturo. Então, sobra a Europa, o Caribe, a América do Norte para a gente tungar a bateria, e até a Ásia, para quem gosta de esquisitices.

Abraço,

Raul Almeida


Pois é, Raul! Essa gentalha, que vai à Europa sempre em missões oficiais, que é sempre recebida em palácios e transportada em carros de luxo, passa pelo mundo sem ver nada. Os trens de luxo europeus – que são vários – além de serem de luxo percorrem uma geografia privilegiada, passando pelas cidades mais deslumbrantes do continente. Dispõem de cabines para dormir, restaurante e culinária sofisticada. Outros trens, que sequer podem pretender-se de luxo, dispõem de couchettes para viagens mais longas. Por viagens mais longas entenda-se o percurso de uma noite. O Martaxa Express, para uma viagem de dez dias, não oferece sequer um leito.

De fato, será um trem fantasma. Terá curta existência e será certamente subsidiado pelo Estado. Isto é, pelo contribuinte. É dirigido a turistas estrangeiros, já que o turista interno não terá grana – nem interesse – por essa travessia rumo
a lugar nenhum. Mas um europeu, americano ou japonês jamais será tão idiota a ponto de pagar uma fortuna por uma viagem sem graça alguma. Quanto a construir uma malha ferroviária – que já existiu, diga-se de passagem – para conforto dos brasileiros, disto ninguém cogita.

Viajando com minha filha pela Europa, dei-me conta que as novas gerações nem têm idéia do que seja um trem. “Nunca viajei de trem” – disse-me. Era óbvio, mas aquele óbvio me deixou perplexo. Minhas primeiras viagens foram todas de trem. De Dom Pedrito a Porto Alegre, com baldeação em Cacequi e Santa Maria. Santa Maria, além de cidade universitária, era o grande entroncamento ferroviário do Rio Grande do Sul. Em Cacequi, a estação era o local de lazer por excelência da cidade. As meninas faziam footing ao lado dos trens, para ver quem passava ou descia.

Hoje, nem sombra de ferrovias. Cá e lá, algum arremedo de trem para matar as saudades dos saudosistas. Ou essas excrescências de periferia das grandes cidades, que mais parecem sardinha em lata.

Ao optar pelas rodovias, o Brasil renunciou a um dos mais confortáveis sistemas de transporte do mundo. Optou também pelos fins de semana e feriadões sangrentos, com dezenas e mesmo centenas de mortes nas estradas, que de tão rotineiras já não comovem ninguém. Em meio a isso, o governo cria um trem para estrangeiros endinheirados.

Trem que vai morrer logo, pois quem tem dinheiro não é besta.