¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, setembro 10, 2008
 
ALGUMAS COISAS A FAZER
ANTES DO FIM DO MUNDO




- ler a meia centena de livros das últimas viagens, que ainda me esperam em minha cabeceira
- organizar meus baús de cartas, herança daquela distante época em que se escrevia cartas. Se bem que... para quê?
- comprar um leitor de ebooks
- rever uma bugra guarani, que namorei nos dias de Dom Pedrito e que me sussurrava ao ouvido: xemboraihú
- rever uma gaúcha de Porto Alegre que um dia reencontrei no Kungsträdgården, transida de frio, em Estocolmo. E com ela fazer de novo tudo o que fiz naquele dia
- ouvir czardas no Café Central, em Viena
- ouvir violinos ciganos nalgum café de Budapeste
- tomar uma Leffe radieuse no Metropole, em Bruxelas
- uma jarra de cerveja, daquelas de litro, na Hofbräuhaus, em Munique
- um cochinillo no Sobrino de Botín, em Madri, regado por um Marqués de Riscal
- uma andouillette A.A.A.A.A. no Aux Charpentiers, em Paris, com um bom Cahors
- um baba au rhum no Julien, em Paris
- uma île flottante, no Bofinger, em Paris
- rever aquela Carmen filmada pelo Francesco Rosi, com a Julia Migenes
- rever Die Zauberflötte, com a orquestra do Ludwigsburger Festspiele, com Deon van der Walt e Ulrike Sonntag, como Tamino e Pamina
- rever Don Giovanni, regida por Wilhelm Furtwängler, com Cesare Siepi no papel-título e Otto Edelman como Leporello
- ouvir Chavela Vargas, Miguel Aceves Mejía, Jorge Negrete
- subir Toledo a pé
- comer um cordero lechal no Aurélio, em Toledo
- descer Toledo a pé
- beber uma manzanilla no Venencia, em Madri
- degustar outro cochinillo naquela cave medieval do Café de Oriente, também em Madri
- subir de novo Santorini em lombo de mula
- descer Santorini em lombo de mula
- revisitar os vulcões de Lanzarote
- comer um churrasco assado nas lavas dos vulcões de Lanzarote
- rever a árdega peoniana de Skopje, que alegrou meus dias em Paris
- ver de novo um nascer de sol junto ao Tridente, no Assekrem, no Sahara argelino
- ouvir tuaregues contando histórias em torno a uma fogueira no topo da montanha
- beijar mais uma vez uma distante amiga numa meia-noite gélida em Paris, vendo além dos olhos dela a agulha da Notre Dame penetrando a lua em quarto crescente
- rever também aquela sabra baixinha e linda que alegrou meus dias numa travessia do Atlântico
- ver uma aurora boreal
- rever o sol da meia-noite, tomando um vinho naquela noite que não é noite com a Primeira-Namorada, em Tromsø, Noruega
- conhecer Svalbard
- Atacama, que ainda não conheço
- viajar ao México e empinar una copa junto a uma banda mariachi
- cantar canções de corno com os mariachis
- flanar pelas ruas desertas de Veneza, ouvindo o chiado dos sapatos no silêncio da noite
- reencontrar a peoniana na Piazza San Marco, num domingo ensolarado, no Café Florian, com violinos ao fundo
- rever o rancho onde nasci, lá na Linha, hoje tapera
- debruçar-me sobre os pastos e beber água na cacimba frente ao rancho
- abraçar minha professora de francês, dos dias de ginásio, em Dom Pedrito
- uma janta de despedida com o pequeno círculo de amigos que até hoje me acompanham. Discutiríamos a Bíblia, teologia e o apocalipse. Sempre embalados pelo sangue das uvas
- tomar mais um vinho com a Primeira-Namorada no topo do Edifício Itália, enquanto o sol se põe sobre esta São Paulo desvairada
- quando soarem os primeiros sinais do Apocalipse, vou sentar-me nalgum boteco e ler o Qohélet
- não é dado aos que partem voltarem. Se fosse, trocava tudo isto por um dia – um só dia, não mais que um só dia - com minha Baixinha adorada. E mergulharia feliz no buraco negro