¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, dezembro 29, 2008
 
PORCO AGRADECIDO
NÃO VIRA O COCHO



Um leitor me envia uma crítica feroz de Moacyr Scliar à ditadura cubana, publicada na Zero Hora, de Porto Alegre, no sábado passado.

O máximo que ele se permitiu, na conclusão do artigo, diz o leitor, foi: "... Em outubro de 1958, teve início a vitoriosa Marcha sobre Havana. No dia primeiro de janeiro, Batista deu no pé. Começava assim um dos capítulos mais controversos da história recente. O sonho continuou sonho? O sonho transformou-se em realidade? O sonho virou pesadelo? São perguntas que não querem calar. E ainda bem que não querem calar. Neste caso, como em outros, é da discussão que nascerá a luz. Não a luz dos fogos de artifício que saudaram 1959."

Eu, francamente, não entendi o que ele ainda quer discutir...

Ivo


Ora, meu caro Ivo, a História é um lago que seca. Ao descerem, suas águas trazem à tona monstros insuspeitos. Todos os escritores gaúchos do século passado foram cúmplices da peste marxista, sem exceção. Dyonélio Machado, por exemplo, após a evidência dos gulags, passou a escrever sobre a antiga Grécia. Foi o mesmo movimento espiritual de Sérgio Faraco, que refugiou-se – literariamente - em Urartu, na Armênia, para não ter de falar do que sofreu em Moscou. Josué Guimarães foi caixeiro-viajante a serviço de Pequim e Moscou. Até as pedras da Rua da Praia sabiam que estes senhores eram comunistas, mas ai de quem o dissesse em público. Seria execrado como delator e expulso do rol dos vivos.

Erico Verissimo também. Certa vez, pergunta a Faraco se não pensava escrever sobre sua estada na União Soviética. "Respondi que, de fato, tinha essa intenção, embora minha experiência não fosse edificante. Ele ficou pensativo, depois disse que, se era assim, talvez fosse ainda menos edificante narrá-la, enquanto vivíamos, no Brasil, sob uma ditadura militar. Ele tinha razão" - diz Faraco. Ora, os militares lutavam para que o Brasil não virasse o imenso gulag que o futuro escritor então testemunhara. Em função de um regime que jamais o pôs na prisão, mesmo sendo comunista, Faraco silencia sobre o regime comunista que o internou em um hospital psiquiátrico, mesmo sendo comunista.

Covardes e omissos foram também todos os demais que, sem pertencerem ao Partido, silenciaram sobre os crimes do comunismo. Mário Quintana, por exemplo, refugiava-se em uma frase cômoda: "eu não entendo de problemas sociais". Moacyr Scliar foi premiado pela ditadura de Fidel Castro. É leitão agradecido, que não vira o cocho onde come. Ou seja, desde há muito se preparava para entrar na Academia Brasileira de Letras, aprazível reduto de viúvas do stalinismo. Já que estamos comentando o assunto: filho de Verissimo, Verissiminho é. Luis Fernando, o rebento, apóia toda e qualquer ditadura, desde que de esquerda.

Apenas dois gaúchos, em todos os cem anos do século passado, ousaram escrever contra a barbárie. Um foi o jornalista Orlando Loureiro, que publicou A Sombra do Kremlin. Procure nos sebos: editora Globo, 1954, dez anos antes da viagem do alegretense deslumbrado. O outro é este que vos escreve, que tem denunciado o marxismo desde os dias em que Faraco passeava pelas ruas da nova Jerusalém.