¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, março 20, 2009
 
SORORIDADE CONTAMINA
O PARLAMENTO EUROPEU



O movimento feminista começou empunhando uma bandeira interessante, a libertação da mulher do jugo masculino. Logo logo descambou para o ridículo. Isto começou provavelmente com Simone de Beauvoir que, em O Segundo Sexo – livro que contaminou gerações de cabeças ocas – afirmava que uma mulher não nasce mulher. Se torna mulher. Daí a afirmar que não havia diferença alguma entre homem e mulher foi um passo rapidamente transposto.

A histeria feminista acabou invadindo os vernáculos. Homens deixou de ser genérico de homens. Tornou-se quase obrigatório – quando se falava dos seres humanos em geral – usar a expressão homens e mulheres. Os políticos, como bons demagogos, logo adotaram a moda. Na França, ninguém mais se dirigia aos franceses, mas aos franceses e francesas. Político algum hoje no Brasil se dirige aos brasileiros em geral. Mas aos brasileiros e brasileiras. O politicamente correto passou a dominar o idioma. No país da Simone, o ridículo chegou a tal ponto que as feministas pretenderam trocar o “liberté, egalité, fraternité” por “liberté, egalité, sororité”.

Quando eu imaginava que feminismo era um fenômeno do passado, surge na Espanha a soror Bibiana Aído, ministra da Igualdade, que num excesso de sororidade falou, ano passado, em seu primeiro comparecimento à Comissão de Igualdade no Congresso de Deputados, em “miembros y miembras”. Ante o pasmo de seus interlocutores, explicou que o lapso fora provocado por sua recente visita a uma cúpula na América Latina, “onde se utiliza uma terminologia similar”. Se reconheceu o lapso, não descartou a hipótese de que a expressão poderia ser incluído no vernáculo.

Protesto indignado de Gregorio Salvador, da Real Academia Española: “Isto só pode ocorrer a uma pessoa carente de conhecimentos gramaticais, lingüísticos e de todo tipo. A língua é um sistema econômico de expressão e o masculino, neste caso, vale como termo neutro que serve para masculino e feminino”. Para o acadêmico, a ministra da Igualdade deveria deixar de fazer piadas e ocupar-se em resolver problemas de desigualdade preocupantes que há na Espanha, como as dificuldades que têm os pais em algumas comunidades para que seus filhos estudem castelhano.

Se na Espanha Bibiana foi relegada ao ridículo, Bruxelas o retomou. Imbuído de uma mescla de feminismo e linguajar politicamente correto, o Parlamento Europeu está propondo um rígido manual de estilo acabar de uma vez por todas com o uso sexista da língua. É o que leio no El País.

O Grupo de Alto Nível sobre Igualdade de Gênero e Diversidade da Câmara européia não chega ao ridículo do “miembros y miembras”, mas não fica longe disto. Não se deverá mais falar em todos os membros do Comitê, mas em “cada membro do comitê”, o que pelo menos elude o masculino. Em suas orientações específicas para o espanhol, o gíficas para o espanhol, o grupo recomenda que, em vez de usar-se “os andaluzes”, que aparentemente exclui as andaluzes, se empregue a forma mais ecumênica de “o povo andaluz”.

O rídiculo não fica nisto. Não se deve mais falar em médicos, palavra que deve ser deslocada por uma perífrase: as pessoas que exercem a medicina. A intolerável palavra homem deve ser a todo custo evitada e substituída por expressões não excludentes do sexo feminino, como as pessoas, a gente, os seres humanos ou a espécie humana. Nada de homem médio, mas pessoas comuns. Nem as crianças escapam do stalinismo lingüístico. Não se fala mais em “los derechos del niño” (em português diríamos criança), mas nos direitos da infância.

Aeromoças e pilotos se convertem em pessoal de vôo. As mulheres da limpeza são agora pessoal da limpeza. A palavra senhorita é eliminada, por sexismo em relação a senhor, palavra que não designa um estado civil. Senhorita deve então ser chamada de senhora. Assim, em um vôo, jamais diga “por favor, aeromoça, me traga um uísque”. O correto é: “por favor, pessoal de vôo”. Nem o inglês, língua que pouco se importa com o gênero, escapa. Como em fireman (bombeiro) consta a palavrinha maldita – man – deve-se agora dizer firefighter, o que luta contra o fogo.

É espantoso que nesta Europa agressivamente ameaçada pela islamização de suas próprias leis, pela invasão de migrantes famintos e, presentemente, por uma crise que está gerando desemprego em massa, o Parlamento Europeu se dedique a discutir o sexo dos anjos. Não tivesse Bibiana Aido se precipitado com sua trouvaille, hoje suas “miembras” não soariam tão ridículas.

Que viva la España, que ainda resiste.