¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

quarta-feira, abril 29, 2009
 
AINDA A FARRA UNIVERSITÁRIA


De um mestrando da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), recebo:

Oi Janer,

Alguns de seus posts mais recentes, especificamente os que tratavam da Planaltur, me lembraram de algo que acontece na esfera acadêmica. Quando os li pensei em escrever comentando, e agora que vejo que abordas os abusos de alguns acadêmicos me sinto na obrigação de lhe escrever isto. Talvez já tenhas conhecimento, e talvez até já tenhas escrevido sobre isso um dia mas eu não vi. Na realidade eu não sou profundo conhecedor do assunto, pois sou aluno de mestrado (na UFSC, a propósito) e o que vou falar aqui acontece com os doutorandos.

O que acontece muito, e que pode ser interpretado como mais um reflexo da corrupção que permeia a nossa sociedade, e não apenas a esfera política, como muita gente gosta de fazer de conta que é o caso, é o seguinte. Os bolsistas de doutorado recebem uma bolsa cujo valor atualmente é de R$ 1800,00, e os bolsistas do CNPq, além disso recebem uma chamada "taxa de bancada" de aproximadamente R$ 400,00. Esta taxa de bancada deve ser gasta com material para estudo, como livros, canetas, lousa, fotocópias e até computadores. O doutorando recebe este dinheiro todo mês, e deve guardar os comprovantes de que está gastando esta taxa de bancada corretamente. Ao final do curso a parte do dinheiro que não foi gasta e justificada deve ser devolvida, e todo o material (que não seja de consumo como caneta, borracha, giz, fotocópias, etc) fica com a faculdade, desta forma a biblioteca interna e a estrutura dos laboratórios saem ganhando com estas aquisições.

Agora, na sua maior parte, os bolsistas de doutorado praticamente consideram que a bolsa é de R$ 2200,00. Eles simplesmente usam o dinheiro como bem entendem e o material que compram nem sempre é deixado nos laboratórios. Existe um tipo de "pente fino", que examina as notas fiscais que os novos doutores utilizam para justificar seus gastos, mas a grande maioria nem precisa justificar nada, e aqueles que não têm como justificar são apenas obrigados a devolver o dinheiro (como exatamente os obrigam a isto eu não sei, talvez segurem o "título" de doutor até receber o ressarcimento, talvez não). Na minha opinião os orientadores deveriam ser responsáveis por conferir o destino deste dinheiro, e periodicamente entregá-lo.

A justificativa é sempre a mesma, e não chega a ser falsa - R$1800,00 com certeza não é um valor que reflete o que uma pessoa com um título de mestre espera receber por um trabalho em período integral, então considera-se este "bônus" de pouco mais de 20% como um complemento na renda.

Ao meu ver, se alguém está insatisfeito com o que recebe esta pessoa tem algumas opções: ou luta para que este valor aumente, ou vai procurar outro trabalho onde ganhe melhor. Esta taxa deveria ser utilizada exclusivamente para que os laboratórios, e conseqüentemente as pesquisas que saem de lá, sejam cada vez melhores, é algo muito valioso, mas que é mal utilizado.

Os paralelos entre isto e a história da Planaltur são muito claros, mas maiores comentários críticos eu deixo para os profissionais.

Um abraço.