¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, abril 26, 2009
 
SÃO GABEIRA, ÚLTIMA
ESPERANÇA DA NAÇÃO



Estou profundamente comovido com as entrevistas do deputado Fernando Gabeira, tanto na Veja online como na TV Globo, sobre a farra das passagens aéreas. Como se nada tivesse a ver com o assunto, o impoluto verde que desviou passagens para uma de suas filhotas visitar outra filhota no Haway deita falação sobre decadência institucional, renovação do Congresso, prática patrimonialista, julga fundamental a transparência e mais ainda, se julga no dever de lançar luz na Casa onde gira bolsinha. Atribui a desmoralização do Congresso à volta de Sarney e Renan Calheiros, jamais à sua cumplicidade com a corrupção. Pelo contrário, diz ter-se sentido aliviado depois de admitir que usou passagens aéreas indevidamente, diz que ninguém é santo, aponta saídas para o resgate da imagem do Poder Legislativo e ressalva que o Congresso não resistiria se fosse exposto inteiramente à luz do dia. “Ou o Congresso acaba com as práticas ilegais ou se transforma numa instituição fantasma”, diz o bravo deputado, em sua entrevista a Augusto Nunes.

Augusto Nunes, por sua vez, desanca Orlando Silva. Enquanto levanta a bola para Gabeira chutar, faz ironias com o ministro dos Esportes, com alusões à sua cara de réu:

“Sou muito conservador para fazer viagens internacionais, mas é difícil você não viajar uma vez a cada dois meses para cumprir alguma agenda”, anda avisando o ministro Orlando Silva com voz de quem deve e cara de réu. Decerto desconfiado de que a devassa nas partidas e chegadas dos deputados federais se estenderá ao Poder Executivo, o ministro do Esporte resolveu decorar o que dirá na hora do interrogatório.”Eu já fui presidente do Conselho de Ministro das Américas”, ensaia o campeão de milhagem aérea. Foi por isso que conheceu o continente em que nasceu. E o que o levou a paragens mais remotas? “Nas Olimpíadas, fui para Pequim e depois voltei para o Brasil, aí fui para os Jogos Paraolímpicos pouco tempo depois”, exemplifica, caprichando na imitação de velocista no fim da corrida. “Isso acaba consumindo muita energia, é muito cansativo. Mas ao mesmo tempo muito prazeroso quando vemos os resultados”.

Os resultados ainda são invisíveis. O que se pode ver com nitidez é o tamanho do desperdício em moeda estrangeira.


Gabeira, decididamente, não tem cara de réu. Pelo contrário. Apesar de participar da mesma corrupção da qual participaram seus pares, ostenta cara de juiz, de última esperança de moralização da Casa ... da Mãe Joana. Réu, autonomeou-se de repente juiz. É espantosa a cumplicidade dos jornalistas em relação a Gabeira, o jornalista que condenava dois colegas por requererem uma bolsa-ditadura, enquanto enviava seu pedido exigindo o mesmo da Comissão de Anistia.

O que me lembra antiga crônica do gaúcho Ney Messias, “A Mosca e a Vaca”, publicada nos anos 70, por ocasião da suspensão do recesso parlamentar, decretado em dezembro de 1968 pelos militares. Troque a palavra recesso por desmoralização e a crônica parece ter sido escrita ontem.