¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, junho 18, 2009
 
PAÍS SE LIBERTA DE 40 ANOS
DE OBSOLETISMO GRATO
A COMUNISTAS E MILITARES



Ou seja: após toda uma categoria profissional ter sido submetida por quatro décadas a uma lei estúpida, o Supremo Tribunal Federal finalmente descobre que a dita lei era inconstitucional. A Fenaj, no site da guilda, mente descaradamente ao afirmar que a decisão "pôs fim a uma conquista de 40 anos dos jornalistas e da sociedade brasileira". Conquista dos jornalistas e da sociedade brasileira coisa nenhuma! A obrigatoriedade do diploma foi arbítrio da ditadura, para melhor controlar a informação. O famigerado decreto-lei de 69 era um presente do céu aos comunistas, que jamais admitiram em seus regimes a livre expressão do pensamento.

Nestes anos todos, que foram quarenta e nos quais li jornais todos os dias, jamais vi um jornalista investigar como é tratada a condição do jornalista nos demais países do mundo. Se investigasse, descobriria que em país algum do Ocidente se exige diploma para o exercício da profissão. Há escolas de jornalismo na França, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos? Claro que há. Mas ninguém precisa passar por elas para expressar seu pensamento nas páginas de um jornal. Exigir diploma é limitar a liberdade de pensamento, como se só pudesse pensar quem tem diploma. Na França, a definição legal do ofício é singela: é jornalista todo aquele que tira a maior parte de seu provento do jornalismo. E ponto final.

Servem para algo as escolas de jornalismo? Em tese, claro que servem. Ensinam técnicas de comunicação. Mas ensinam em quatro anos nada que um foca não aprenda em três meses de redação. Não ensinam história, ciência, religião, letras. De que serve a um jornalista dominar técnicas de comunicação se não sabe o que comunicar? Como pode escrever sobre medicina, saúde, economia, artes, engenharia, urbanismo, catolicismo ou mesmo marxismo um jovem que recém saiu de uma escola de jornalismo? Um curso de jornalismo teria sentido se fosse pós-graduação. Após dominar determinada área do conhecimento, o candidato a comunicador aprenderia técnicas de comunicação. Nem por isso precisaria ser obrigatório para o exercício da profissão.

Sem falar que, nestes dias de Internet, toda tentativa de regulamentação é ipso facto obsoleta. A blogosfera está disputando firme leitores com a imprensa antiga. Boa parte do público dos jornais está se deslocando para a leitura de blogs, a tal ponto que os jornais em papel já temem por suas sobrevivências. Se antes era jornalista quem tinha um jornal para escrever, hoje é jornalista qualquer pessoa que quiser sê-lo. Com uma vantagem considerável sobre a imprensa escrita: pode escrever o que quiser. Bem entendido, isto não implica mentir ou atentar contra a honra alheia à vontade. Para coibir tais abusos, existem os códigos Civil e Penal.

Por mais independente que seja um jornal, sempre tem suas áreas proibidas. Neste jornal, não se pode publicar acusação nenhuma, por exemplo, contra a Máfia do Dendê. Neste outro, é proibida qualquer alusão condenatória a José Serra. Num outro, não se pode dizer uma palavrinha contra Evaristo Arns, o cardeal vermelho. Em outro, é proibido qualificar como vigaristas os pastores evangélicos. Isso sem falar nos milhares de jornais do país que dependem de verbas estatais e não ousam fazer a menor crítica aos desmandos do governo. Veja a Caros Amigos, sem ir mais longe, que se pretende imprensa independente. Se você acha que a revista vai denunciar as corrupções da Petrobras, espere sentado. Porque a Caros Amigos é patrocinada, entre outras estatais, pela Petrobras. Seus redatores podem até criticar o governo. Mas jamais atentarão contra a existência e boa saúde da galinha de ovos de ouros.

Já o blogueiro, este é soberano em seu blog. Desde que seu blog não dependa, é claro, de vinculação a jornais ou empresas. Pretenderia algum legislador regulamentar o exercício do ofício de blogueiro? Seria tão ridículo como foi regulamentar o de jornalista. Com este ridículo, convivemos quatro décadas.

Ainda que tardia, a decisão do STF liberta o Brasil de um obsoletismo grato a marxistas e militares e põe um pé do país – pelo menos um pé – no círculo dos países onde a imprensa é livre.