¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, setembro 26, 2009
 
ECOLOGISTA BEM QUE PODERIA
COMEÇAR DANDO UM EXEMPLO


Existem malucos para tudo neste mundo, não é verdade? O leitor Kenyo Rossas me envia um documento extraordinário, uma entrevista com Les U Knight, o ecologista que quer varrer a vida humana da face da terra, fundador, líder e mentor teórico da ONG Voluntary Human Extinction Movement. Segundo este senhor, nosso planeta está à beira do fim e a única maneira de salvá-lo é extinguindo a raça humana. De acordo com ele, depois de poluir o ar, envenenar rios, abrir buracos na camada de ozono, condenar populações inteiras à fome e à pobreza, o mínimo que a Humanidade poderia fazer era ter a decência de abandonar o barco e deixar este pedaço de rocha flutuante para a sua verdadeira dona: a Mãe Natureza. Reproduzo alguns trechos de uma entrevista sua.

- Acha realmente que a vida animal e os vegetais são tão importantes ao ponto de justificar a extinção da raça humana?
- Num ecossistema equilibrado todas as espécies são importantes e nenhuma é melhor que a outra. De uma forma geral, quanto mais alta a posição que uma espécie ocupa na cadeia alimentar menos ela importante ela é para aquele sistema. O homem já não faz mais parte da cadeia alimentar. Por outro lado, as bactérias presentes nos intestinos dos seres vivos são importantíssimas para a sobrevivência de toda a biosfera terrestre. Se levarmos isso em conta, chegaremos à conclusão que o homem vale menos do que uma bactéria.

- Então a raça humana não tem valor algum?
- Nós só temos valor para as pessoas com quem nos relacionamos. Mas, para a natureza e o ecossistema, nós não fazemos a menor falta.

- Nem se levarmos em conta o legado cultural e intelectual da humanidade?
- Talvez as traças achem os nossos livros um tanto quanto deliciosos, mas eu creio que elas não vão saber diferenciar o Pablo Neruda das Seleções do Reader's Digest. Pegue a maior criação literária já feita pelo homem e compare com qualquer forma de vida, mesmo a mais insignificante, e me diga: qual delas possui mais beleza, complexidade e potencial?


E por aí vai. Leitor do Reader’s Digest desde criança, consigo diferenciar muito bem a revista dos poemas de Neruda. O Reader’s Digest, apesar de medíocre, é muito mais interessante que o poeta chileno. Quanto a extinguir a raça humana, o fato é que se esta raça for extinta, não sobrará ninguém para dela sentir falta. Só o homem tem consciência de que existe. As demais espécies existem sem sequer saber que existem. Só o homem faz História e escreve História. Os bugres, por exemplo, ainda não chegaram lá. Eu não afirmaria incondicionalmente que o homem é um ser angelical. A humanidade produziu degenerados como Josué, o patriarca bíblico, Átila, Timur Leng – Timur, o Coxo, mais conhecido como Tamerlão -, Maomé, Hitler, Lenin, Stalin, Mao, Pol Pot. Mas também teve seus momentos sublimes, como Sócrates, Alexandre, Cervantes, Dante, Schliemann, Champollion, Fernão de Magalhães, Mozart, Vivaldi, Scriabin e tantos outros.

Estes arautos da extinção da espécie humana são uma decorrência lógica desses movimentos ecológicos histéricos, que interditam estradas e barragens em nome de bagres e bugres, curiós, micos e pererecas. Mais importante que o ser humano são os seres incientes que jamais conseguiram escapar de sua condição animal. Não nego inteligência aos animais. Mas é uma inteligência limitada, que não consegue construir uma civilização. Tanto o joão-de-barro como o jacu são habilíssimos na construção de seus ninhos. Mas não conseguem ir adiante. O mesmo diga-se dos castores ou ratões-do-banhado. E de todas as demais espécies. Até mesmo os vírus são inteligentíssimos, tanto que não é fácil derrotá-los. Mas só ao homem foi dada – ou adquirida – a consciência de que existe.

Interrogado sobre quantas pessoas fazem parte de seu movimento, Knight acha que seis bilhões e 50 milhões. “Na verdade eu falo isso porque é impossível dizer quantas pessoas já devem ter chegado a conclusão de que o mundo seria melhor sem a raça humana. Mas, baseado na quantidade de pessoas que entram em contacto comigo, posso dizer que temos por volta de uns três milhões de pessoas interessadas no nosso movimento. São pessoas que, embora não sejam membros da nossa organização e não tenham uma militância, apóiam as nossas ideias e gostariam de ver os nossos objectivos alcançados”.

A meu ver, não é tarefa impossível alcançar tais objetivos. Os militantes do Voluntary Human Extinction Movement bem que poderiam começar se extinguindo a si mesmos. Não sem antes entronizar como salvadores do universo esses beneméritos como Hitler, Mao, Stalin, Pol Pot, Fidel Castro, responsáveis por fantásticas contribuições à extinção dessa espécie daninha que assola o planeta.

“A extinção humana e a melhor saída para a Humanidade. A partir do momento que pararmos de procriar as brigas por territórios e recursos naturais irão cessar. Poderemos, inclusive, experimentar um período de saúde, felicidade e abundância de recursos a partir do momento em que formos desaparecendo da face da Terra. É a sociedade utópica com a qual temos sonhado desde que o homem passou a dominar este planeta”.

Que sociedade, cara pálida? Sem ser humano não existe sociedade. Existem bandos e – à la limite – tribos. Esse est percipi, já dizia Berkeley. Ser é ser percebido. Um planeta, sem quem o perceba, não existe. “Condenar alguém a viver neste mundo é como vender passagens para um navio que está afundando”, diz Knight. Grande descoberta. A vida é um navio que afunda. Mas enquanto não afunda, sempre podemos celebrá-la. É o que chamo de confraternização no naufrágio. Enquanto o barco navega, sempre podemos comer, beber, amar, trocar idéias, construir nações, filosofias, fazer história, literatura, música, arte. O que este bobalhão não entendeu é que o homem se extingue naturalmente, não precisa de nenhum estímulo para isso.

Se permanece como espécie é bom que assim seja, ou não teríamos ninguém para admirar este universo desprovido de humanidade que o celerado propõe.