¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, novembro 04, 2009
 
RUMO AO PAÍS MAIS
LINDO DO MUNDO



Bueno, leitores, estou partindo para mais uma campereada. Blogueiro também tem direito a férias. Mais algumas horas e estarei voando rumo a Madri. Nos próximos 30 dias, terei dificuldades em escrever um texto decente. Uma boa crônica exige um certo vagar, coisa que não terei nesta viagem. Turismo é trabalho, e trabalho duro. Saio do hotel lá pelas dez da matina, especialmente quando estou na Espanha. Porque em Madri ou Barcelona, antes da dez, a cidade está morta. E só volto depois da meia-noite. Porque antes da meia-noite madriles e catalães estão percorrendo freneticamente as ruas de suas cidades. Em Madri, mesmo com temperaturas abaixo de zero, à uma da madrugada multidões percorrem suas ruas. A pé. Para onde vão, não sei. Mas vão.

Vou voltar às cidades que adoro na Espanha, Madri e Barcelona. Já devo ter contado: ando com um problema para viajar nas últimas décadas. Quero conhecer outras terras, outras paisagens e não consigo. Na hora de fazer as malas, rumo inevitavelmente para Madri, Roma ou Paris. Com uma extensão a Bruxelas, só para curtir um bar que adoro, o Metropole. Cheio de mármores, madeiras e lustres, vale bem uma viagem. Como Barcelona fica a meio caminho, ano sim, ano não, vou visitar as Ramblas. Como cidade, Barcelona é muito mais linda que Madri. Tem mar, montanha e passeios magníficos. Como espírito, prefiro Madri, onde passei um dos melhores anos de minha vida.

Em Madri, fiz curso no ICI, Instituto Cultural Iberoamericano, ligado à Universidade Complutense. Seis meses jogados fora. Tínhamos uma carga horária pesada, cinco horas de aula por dia, e a obrigação de redigir uma tese ao final do semestre. As teses, com apresentação, réplica e tréplica, eram defendidas em no máximo dez minutos. Ou seja, era uma farsa. Como nunca gostei de teatro, me recusei à farsa. Fui o único aluno, em trinta anos de curso, a não apresentar a tal de “tese”. Escrevi carta aos diretores do curso, onde dizia mais ou menos o seguinte:

- Senhores, quando vamos estudar no exterior, defendemos duas teses. Uma é aquela acadêmica, que nem mesmo a banca lê em sua íntegra, e que fica pegando poeira no silêncio das bibliotecas. A segunda é a que defendemos no convívio com colegas, nos bares e restaurantes de Madri, nos vilarejos e cidades da Espanha. Na leitura diária dos jornais do país, no contato com seu povo, com sua gastronomia, sua música e seus vinhos. A primeira tese, me recuso a defendê-la, por inútil. A segunda, eu a defendi com brio nas bodegas de Madri, Barcelona, Santiago, Toledo, Segovia, Ávila, Cuenca, Ronda, Salamanca. Esta segunda tese será importante para meu trabalho e vida futura. Ao ICI, muchas gracias. Y buena salud a Ustedes y todos sus familiares.

A última frase não é gratuita. Quando morei em Madri, constava do formulário de pedido de permanência à polícia. Soube mais tarde que, depois de minha carta, os diretores do curso reformularam a exigência da malsinada tesina.

Pois vou para lá de novo, continuar a defesa da segunda tese. Desta vez, ficarei na Espanha. Quero mostrar Barcelona à Primeira-Namorada, que ela ainda não conhece. Mais Tenerife e Lanzarote. Estas viagens sempre me doem um pouco, pois passei dias lindos com a Baixinha nessas paragens. Mas é dor suportável, que evoca aqueles dias felizes. Seja como for, estes também estão sendo. Ficarei na Espanha, com uma rápida incursão a Lisboa. Para sentir um cheirinho de Portugal.

Já estou com saudades de meus leitores. Tentarei escrever. Tentarei. Não sei se vai dar. Se não, até dezembro.