¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, outubro 26, 2010
 
ESPANHÓIS QUEREM CANONIZAR
NEGRÍN, O TRAIDOR DA ESPANHA



A Guerra Civil Espanhola, ocorrida entre 1936 e 1939 – há sete décadas, portanto – parece ainda não ter terminado. As esquerdas remanescentes da Queda do Muro até hoje continuam desenterrando os cadáveres dos espanhóis mortos por Franco. Ainda em agosto passado, uma equipe que trabalha na escavação de uma vala comum no monte de La Pedraja (norte do país) encontrou cerca de 60 corpos de pessoas executadas pelas tropas franquistas. A Lei da Memória Histórica, adotada no final de 2007 para reabilitar as vítimas da Guerra Civil, prevê que as instituições apóiem a abertura de valas comuns e a identificação de corpos. Quanto aos cadáveres dos espanhóis mortos pelos comunistas, destes as esquerdas não querem nem ouvir falar.

Em 1936, por exemplo, em Paracuellos del Jarama, sítio que ninguém gosta de lembrar, foram fuzilados pelo Partido Comunista nada menos que dois mil e quatrocentos espanhóis que se opunham à Frente Popular. Há quem fale em cinco mil. Outros em oito mil. À frente do PC espanhol estava Santiago Carrillo.

A matança de Paracuellos é plenamente confirmada por historiadores e foi bem mais feia que o suposto bombardeio de Guernica. Entre 7 de novembro e 4 de dezembro de 1936, militares que haviam participado do levante franquista ou que não haviam se incorporado aos comunistas, falangistas, religiosos, militantes de direita, cidadãos comuns e outras pessoas que haviam sido detidas por serem consideradas partidárias da sublevação, foram retiradas das prisões, atadas pelos punhos e conduzidas em ônibus e caminhões e conduzidas às margens do Jarama, onde foram sumariamente fuziladas. São cadáveres que não interessam.

Leio no El País de hoje uma insólita reportagem que endeusa o homem que entregou todo o ouro do erário espanhol a Stalin. Trata-se de Juan Negrín, presidente de governo da República de 1937 a 1939, visto como “um homem incompreendido e olvidado, que viveu os últimos anos de seu exílio no anonimato, ocupado em Paris com a tutela de seus netos”. Para Enrique Moradiellos, historiador e autor da biografia Negrín, foi um homem que deu seus melhores anos ao serviço da Segunda República e que, após perder a guerra sendo chefe de governo, se exilou e seguiu lutando por aqueles ideais socialistas que marcaram sua trajetória vital.

Um documentário intitulado Ciudadano Negrín, dirigido por Sigfrid Monleón, Carlos Álvarez e Imanol Uribe, eleva Negrín à condição de grande estadista. “Quisemos resgatar o personagem ensombrecido e esquecido, o estadista mais importante da política contemporânea espanhola, e devolver a emoção do homem que teve de assumir a responsabilidade de um governo no momento mais trágico de nossa história recente” - afirma Monleón.

Vamos ao episódio do outro entregue a Moscou, que já evoquei várias vezes nesta bitácora. Em 1936, quando ministro da Fazenda do governo Largo Caballero, Juan Negrín raspou os cofres do país em troca de aviões, carros de combates, canhões, morteiros e metralhadoras russas. Ao celebrar com um banquete no Kremlin a chegada das 7.800 caixas com 65 quilos de ouro cada uma (três quartos das reservas espanholas), Stalin, evocando um ditado russo, comemorou: "Os espanhóis não voltarão a ver seu ouro, da mesma forma que ninguém pode ver suas orelhas".

Serviam para que estas armas? Para matar os espanhóis que lutavam por uma Espanha livre e democrática. Em 1937, a União Soviética já havia colocado na Espanha pilotos de guerra, marinheiros, intérpretes e policiais. Neste mesmo ano, a URSS já tinha na Espanha mais de cem aviões de combate. Os mais utilizados foram os I-15 (biplanos), conhecidos com Chatos, e os I-16 (monoplanos), conhecidos como Moscas. No ano seguinte continuaram chegando à zona republicana mais aviões soviéticos, entre estes vários bombardeiros, cada vez mais aperfeiçoados, alguns ultrapassando a velocidade de 300 milhas, como os Katiuska.

Costumo afirmar que Franco salvou a Espanha das ambições continentais de Stalin. Salvando a Espanha, salvou a Europa. Dominasse Stalin a Espanha, Portugal cairia no dia seguinte. Dominada a península, teria controle do mar do Norte, Atlântico e Mediterrâneo. França e Itália ficariam estranguladas. E todo o sul da Europa estaria dominado por Moscou. O muro de Berlim demoraria muitas décadas ainda para cair.

Não resta, hoje, na Espanha, mais nenhuma estátua do homem que salvou a Espanha. Enquanto isso, intelectuais erguem monumentos ao homem que queria destruí-la.