¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, janeiro 25, 2011
 
SENADO ESPANHOL ADERE A
NACIONALISMOS TACANHOS



Que no Parlamento europeu se falem 23 línguas se entende. Se em 1958 lá se falavam as quatro línguas dos seis países fundadores, (alemão, francês, italiano e holandês), a Comunidade Européia inchou. Em 1973, foram acrescentados o inglês, o dinamarquês e o irlandês. Em 1981, foi a vez do grego, espanhol e o português. Em 1986, o finlandês, em 1995, o sueco. Em 2004, o estoniano, o húngaro, o letão, o lituano, o maltês, o polaco, o checo, o eslovaco e o esloveno. Desde janeiro de 2007, com a adesão da Romênia e da Bulgária, a União Européia conta oficialmente com 23 línguas. Até aí, muito compreensível.

Difícil de entender é a decisão do Senado espanhol, que autorizou debates nas cinco línguas distintas do país, com intérpretes convertendo suas palavras em um idioma que todos falam perfeitamente: o espanhol castelhano. É o que nos diz o jornal britânico The Guardian. Para os críticos, a iniciativa de permitir que os senadores falem em catalão, galego, valenciano e basco converteu a Casa em uma torre de Babel. De acordo com a mídia espanhola, os 25 intérpretes necessários para converter as diferentes línguas em castelhano custam ao Senado € 12 mil por dia (R$ 27 mil), ou € 350 mil por ano (R$ 795 mil).

O primeiro a fazer uso da prerrogativa na semana passada – segundo o Guardian - foi o socialista Ramon Aleu, que falou em catalão. Sua decisão obrigou outros senadores a colocar seus fones de ouvido e ouvir intérpretes convertendo suas palavras no castelhano que o próprio Aleu usara em discursos anteriores.

Comentei este absurdo há exatamente um ano, quando estava em gestação. Nada tenho a dizer de novo. Foi coisa do Partido Socialista no poder, que votou com os nacionalistas das comunidades autônomas para que todas as línguas oficiais – o castelhano, o catalão, o basco, o galego e o valenciano – fossem faladas na segunda câmara do Parlamento. O serviço de interpretação simultânea a ser posto em prática seria semelhante àquele das Nações Unidas ou do Parlamento europeu.

Se você for a Barcelona ou ilhas Canárias, vai ouvir muito catalão. Mas todos entendem e falam o espanhol. Diga-se o mesmo do galego ou valenciano. Estive em Santiago e Valencia e me comuniquei em espanhol com todo mundo. Mantive longa correspondência com uma galega. Como queria conhecer o idioma, tive de pedir a ela que me escrevesse em galego. Pois normalmente escrevia em espanhol. Desconheço o país basco, mas suponho que por lá ninguém não fale o espanhol. Ou seja, os cidadãos de todas as comunidades da Espanha se entendem na mesma língua.

Só os senadores não. Ou melhor, se entendem. Não há nenhum que desconheça o espanhol. Em nome de nacionalismos tacanhos, fingem agora que não entendem a língua-mãe e fazem teatro falando línguas regionais.

Há três décadas, eu aplaudiria a idéia com entusiasmo. O que só demonstra que longa é a jornada até a sensatez. Na época, eu considerava que cada língua que morre empobrece a humanidade. Hoje, penso que língua só é língua se tem atrás de si um exército, uma marinha e uma força aérea. Se não os tiver, é dialeto. Os nacionalismos estão minando a Espanha. A começar pelo basco. Corre à boca pequena que, quando o bom Deus quis castigar o demônio, condenou-o a estudar basco sete anos.

Continuando com o catalão. Se o basco sempre foi a língua corrente nas vascongadas, o catalão era apenas uma língua a mais na Catalunha. Todo catalão falava espanhol. Com a morte de Franco, ocorreu na região um surto de afonsocelsismo – fenômeno que não é só brasileiro, mas universal – e a Generalitat decidiu que o catalão passava a ser a língua oficial da comunidade. Se entre espanhol e basco há uma distância intransponível, entre espanhol e catalão a distância é mais curta, mas mesmo assim difícil de ser transporta. Pessoalmente, se leio catalão, consigo entender. Quando eles falam, já não entendo mais nada.

A oficialização do catalão foi uma exigência mais ou menos ditatorial da Generalitat, o sistema institucional em que se organiza politicamente o autogoverno da Catalunha. Se você for a Barcelona, verá que todo mundo fala espanhol. Já o catalão, é imposto no ensino e nas comunicações oficiais com o Estado. O que faz a fortuna dos tradutores. Um documento da Generalitat enviado a Madri tem de ser traduzido ao espanhol. Quando Madri responde, nova tradução ao catalão. Multiplique agora isto por cinco. No ensino, o espanhol tem as mesmas horas consagradas ao inglês. A escola está formando, na marra, novas gerações que já não conseguem falar com seus pais.

Dividir para reinar, esta parece ser a divisa dos socialistas espanhóis. Durante séculos, a Espanha se entendeu muito bem com o espanhol. Tornar oficiais mais quatro línguas – das quais duas pelo menos, o catalão e o basco, já gozam desse status – significa tornar mais complicada a vida de todo cidadão. Senadores portarão aparelhos de tradução para se entenderem em uma câmara onde todo mundo fala a mesma língua.

Que cada região da Espanha queira falar sua língua, nada contra. Daí a complicar a vida no Congresso vai uma longa distância. Mas socialismo é isso mesmo. Para que facilitar quando se pode complicar?