¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, março 25, 2011
 
DONA DILMA AFASTA
O BRASIL DA EUROPA



Comentei, no início da semana, o Restaurant Week (RW), evento que reúne em São Paulo 223 restaurantes que oferecem menus a preço menor que o usual. Durante o almoço, uma refeição – sem bebida e muitas vezes com o couvert cobrado a parte – custará 29 reais. Mais um pouco e chegaram aos preços de Paris ou Madri, onde você pode almoçar o ano todo por 10 euros - 24 reais, na cotação de hoje – sem que para isso os franceses precisem organizar qualquer evento.

Olho a lista de restaurantes e vejo que jamais entrei em nenhum deles. São restaurantes nos quais as pessoas não vão exatamente para comer, beber e confraternizar, mas para serem vistas. Leitor do Rio Grande do Sul me faz observação que eu não havia notado. Um desses restaurantes se gaba de ter tido como clientes um casal que pagou uma conta de oito mil reais. Ostentação. Isso dá cinco viagens de ida e volta a Paris, com seis dias de hotel.

Mania de novos ricos, cuja única virtude – se é que é virtude – que conseguem exibir é ostentar dinheiro. Em verdade, talvez nem sejam novos ricos. Mas parasitas que vivem de dinheiro público. Isso é o que chamo de restaurantes para pessoas jurídicas. Quem paga não paga de seu bolso, mas de verbas de representação. Por três jantares desses, duas pessoas passam tranqüilamente um mês na Europa, em bons hotéis, comendo e bebendo bem. Foi o que fiz, em dezembro passado.

É preciso ser muito medíocre - ou ser pessoa jurídica - para pagar oito mil reais por uma refeição em São Paulo. E ainda há quem pague mais. Em Paris ou Madri, você come e bebe muito bem por cem ou duzentos reais.

Dona Dilma sabe disso e vai elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre as compras no exterior com cartão de crédito de 2,38% para 6,38%. Segundo a agência Estado, o decreto com o aumento da alíquota está pronto e deve ser publicado na próxima segunda-feira. A medida tem como um dos focos conter o consumo. Os gastos de brasileiros no exterior cresceram muito no ano passado em função da valorização do real frente ao dólar. A despesa bruta com cartão de crédito em 2010 foi de US$ 10,17 bilhões. Em 2009, tinha sido de US$ 5,59 bilhões, segundo os dados do Banco Central. Quando a economia internacional oferece uma janela de conforto aos brasileiros, o governo tenta fechá-la.

O Brasil está caro? Tribute-se então o brasileiro que descobriu que França, Espanha ou Itália são países mais amigáveis do que o próprio Brasil na hora de viajar, comprar, comer e beber. A medida da presidente em pouco ou nada difere das leis da época da ditadura militar, que tornou proibitivas as viagens ao Exterior. O governo quer conter o consumo... no estrangeiro. Aqui, a indústria oferece carros a serem pagos em cinco anos.

É o Estado interferindo na economia. Seja patriota. Vá a Porto das Galinhas, Jericoacara, Lençóis Maranhenses, Florianópolis, Gramado. Que mania é essa de querer flanar pelas margens do Sena, do Tevere, do Liffey ou do Spree? Afinal, temos o Tietê. Em vez do Trastevere, por que não o Trastietevere, ó brasileiro impatriota?

Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste. Ou então paga mais 4% de IOF.