¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, janeiro 22, 2014
 
MÃE DE AFRODESCENDENTINHO
HOMOAFETIVO DESMENTE ROSÁRIO



Comentei há pouco o caso do tal de Kaique, adolescente que se suicidou no centro de São Paulo e foi logo tido, pela secretária nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, como vítima de “mais um crime de ódio e intolerância motivado por homofobia”.

Por ser negro e homossexual, logo ganhou a primeira página dos jornais. Fosse branco – e ainda por cima hetero – não mereceria sequer uma linha. Os jornais têm como política não noticiar suicídios, para evitar a emulação. Mas fugiram à regra no caso. Afinal, se era negro e homossexual, só podia ser vítima de homofobia. Isso que esta figura jurídica sequer existe no Código Penal. Imagine quando existir.

De Florianópolis, me escreve um leitor:

“Aqui na UFSC (tua velha conhecida) um aluno gay suicidou-se no campus essa semana e um tal de núcleo ou sei lá o que de "gênero" está propondo mil e uma medidas por conta da culpa da sociedade pela morte desse rapaz. SC e RS são os estados do Brasil com mais suicídios (causa ainda desconhecida) mas quando se trata dos muitos suicídios de heterossexuais ninguém culpa a sociedade, na maior parte das vezes é depressão, algum outro problema psíquico etc... Agora porque é gay não pode ser deprimido? A culpa é minha e sua?”

Claro que é, meu caro. Assim como os ricos são culpados da miséria dos pobres, assim como a Europa é causa da miséria da África, é óbvio que nós brancos heterossexuais somos a causa da violência contra os negros homossexuais. Ou afrodescendentinhos homoafetivos, em linguagem contemporânea. Pelo menos assim entendem as altas instâncias de Brasília.

Você lembra, por acaso, da ex-ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir)? Em 2008, flagrada pelo uso indevido dos tais de cartões corporativos – um convite praticamente irresistível à corrupção - dona Matilde já foi exibindo a cor da pele. Em entrevista coletiva, questionada se via preconceito na cobertura da imprensa sobre o uso irregular de seu cartão, ela disse que "o histórico do Brasil não permitiu que fosse reconhecido o peso da escravidão e o peso da não inclusão de negros e negras. Isso vale para a sociedade como um todo".

Se Dona Matilde prevaricou, claro que a culpa é da elite branca. Gastou à tripa forra em transporte e restaurantes de luxo. Só em 2007, torrou R$ 171,5 mil em viagens, todas pagas com o cartão corporativo. O que corresponde a R$ 14,3 mil mensais, valor superior ao seu salário, que era de R$ 10,7 mil. Dona Matilde encontrou uma maneira confortabilíssima de mais que duplicar seu salário. O curioso em tudo isto é que este despilfarro – como dizem os espanhóis – parece não ter causado espécie aos catões do Planalto. O que escandalizou foi uma continha de 461 merrecas em um free shop. Argent de poche.

Lula não hesitou em endossar a defesa da secretária. Disse que ela fez "um trabalho extraordinário" à frente da pasta e declarou conhecer as "imensas dificuldades, arraigadas por séculos de preconceito, que Vossa Excelência teve de enfrentar". Foram, obviamente, os séculos de preonceito que levaram Dona Matilde a pôr a mão no Erário.

Já que estamos relembrando, se alguém não mais lembra, foi esta senhora que, em 2007, declarou considerar natural a discriminação dos negros contra os brancos. Em entrevista à BBC Brasil para lembrar os 200 anos da proibição do comércio de escravos pelo Império Britânico, ela disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural. Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou", afirmou na ocasião.

Na época, a frase caiu pesada nos meios de comunicação. Como era proferida por uma negra, ficou por isso mesmo. Negro pode insultar branco à vontade, não é racismo. Branco também pode acusar branco, até de assassinato, mesmo se crime algum tiver ocorrido. Ninguém imagine que Maria do Rosário vai desculpar-se pela calúnia aos brancos e heteros. Em um ambiente em que negros começam a invadir shoppings para depois denunciá-los por racismo, a secretária jogou gasolina na fogueira. Mas tampouco será responsabilizado por isso. Muito menos demitida, como deveria ter sido, em país decente.

Mas se um branco dissesse o inverso, seria imediatamente enquadrado por crime de racismo. De minha parte, até que concordo com um trecho da afirmação de Dona Matilde. Não vejo porque negros tenham de gostar de conviver com brancos. Mas também não vejo porque brancos tenham de gostar de conviver com negros. O gostar não pode ser obrigatório. Respeito, sim. Mais do que isso é dogma de papistas. Uma das frases mais abomináveis da História que conheço é o “amai-vos uns aos outros”. Eu amo quem acho amável, ora bolas. E a verdade é que o mundo está cheio de pessoas detestáveis.

A mãe do afrodescendentinho homoafetivo reconheceu ontem que o filho se suicidou. A hipótese, segundo ela, foi reforçada pelas investigações da polícia e as mensagens de despedida encontradas no diário apreendido na casa do rapaz de 17 anos. Inicialmente, a mãe em assassinato. Já correm boatos que a família foi comprada para confirmar o suicídio.

Os jornais, desenxavidamente, noticiaram a declaração da mãe. Mas nenhum jornal fez um mea culpa por ter noticiado a versão anterior.